Melhora da economia influencia pouco na corrida eleitoral, dizem especialistas
Apesar da queda no preço dos combustíveis, o preço dos alimentos continua subindo, consumindo a renda e reduzindo o poder de compra da população
A inflação no Brasil caiu pelo segundo mês seguido. Em julho, o índice havia reduzido 0,68%. Em agosto, a queda foi de 0,36%, o maior recuo para o mês desde 1998.
A queda no índice está concentrada nos combustíveis, que recuaram em média 10,82% em agosto. Se consideramos somente a gasolina, ela representou, sozinha, uma redução de 0,67 pontos no IPCA. Porém, só isso não alivia, por completo, o bolso do brasileiro.
Uma outra conta continua cara: a do mercado. O preço dos alimentos continua subindo, consumindo a renda e reduzindo o poder de compra da população.
O cientista político Eduardo Grin diz que é por isso que muitos brasileiros continuam como uma percepção ruim em relação à atividade econômica do país, apesar da queda da inflação e do desemprego.
“A inflação segue alta. Quando a inflação é alta, ela atinge sobretudo as camadas de mais baixa renda; É por essa razão que é a chamada inflação dos alimentos é algo que faz com que a população não consiga perceber no seu cotidiano os benefícios daquilo que os indicadores tem mostrado, que é uma melhora da economia”, explica Grin.
Josenir, de fato, não consegue ver melhora na economia. Aos 45 anos, trabalha informalmente como diarista e manicure e, mesmo com a jornada dupla de trabalho, não consegue manter as contas de casa em dia.
“Está muito caro o alimento, a carne, os legumes… as coisas principais que o pobre precisa, como o arroz, o feijão, o café, o açúcar, o óleo, tudo muito caro. Então você vai no mercado hoje, amanhã já estão já está outro preço. Está muito difícil”, desabafa Josenir.
“As pesquisas de vários institutos seguem mostrando a mesma tendência: o ex-presidente Lula continua com uma margem muito folgada de apoio junto aos eleitores de baixa renda e mais ainda entre aqueles eleitores que hoje recebem o Auxílio Brasil, que era a grande aposta do governo Bolsonaro para reverter os votos”, aponta o especialista.
Por isso, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, resolveu aumentar a aposta: prometeu, na propaganda eleitoral, subir novamente o valor do Auxílio Brasil. O chefe do Executivo disse que quem hoje recebe R$ 600 terá um acréscimo de outros R$ 200 caso comece a trabalhar.
Para o economista da FGV Joelson Sampaio, um novo aumento, se aprovado, vai favorecer a população, mas o impacto eleitoral da promessa seria pequeno.
“É um recurso importante que vem ali em boa hora, em bom momento, para resolver problemas de curto prazo. Mas essas famílias também tem do outro lado da mesa essa inflação, essa perda de renda, todas essas outras variáveis econômicas que para elas ainda continuam trazendo efeito muito negativo”, explica Sampaio.