Maurício Pestana: O voto negro no segundo turno
Pesquisas sobre o impacto do voto negro ainda são incipientes e muito difíceis de serem realizadas no Brasil dada a diversidade racial, econômica, regional, educacional e, hoje também, religiosa
A primeira pesquisa do segundo turno realizada pelo Datafolha traz um dado interessante sobre as intenções de voto no quesito racial. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cresce entre os eleitores que se autodeclaram negros e Jair Bolsonaro (PL) avança sobre os eleitores que se autodeclaram brancos.
Lula tem 49%, e seu opositor, 43%, entre pardos. Mas quando se trata de pretos e não pardos, a vantagem de Lula passa para 57%, contra 35% do atual presidente. Em contrapartida Bolsonaro consegue ter uma ligeira vantagem no eleitorado branco: 50% a 43%, acima da margem de três pontos. Os indecisos são 2% entre brancos e pardos, e 1%, entre pretos, sem contar os que pretendem anular o voto ou votar em branco.
Mas o que esses números revelam, quando levamos em consideração também a questão social? Falo social, porque a racial no Brasil sempre esteve intrinsecamente relacionada à questão social. Por exemplo: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre os 10% mais pobres da população brasileira, 78,5% são negros (pretos ou pardos), contra 20,8% brancos. Já entre os 10% mais ricos, a situação se inverte: 72,9% são brancos, e 24,8%, negros.
Com o contingente dos 78% mais pobres sendo formado por pretos e, na teoria, ser o mais beneficiado pelo auxílio governamental, esperava-se principalmente na campanha do atual presidente um equilíbrio maior neste eleitorado que poderia votar pelo estômago, neste período de auxílio emergencial de R$ 600. A pesquisa mostra que não. Embora o Auxílio Brasil tenha se revelado momentâneo, a campanha bolsonarista perde dentro deste eleitorado e cresce entre o eleitorado branco.
Pesquisas sobre o impacto do voto negro ainda são incipientes e muito difíceis de serem realizadas no Brasil dada a diversidade racial, econômica, regional, educacional e, hoje também, religiosa. Um eleitor negro com nível universitário candomblecista pode ter um voto completamente diferente do eleitor negro, evangélico da periferia, na mesma cidade; se levarmos em consideração as diferenças regionais e até ideológicas, fica mais difícil ainda mapear este voto, talvez venha daí a dificuldade de a questão racial não ter entrado no debate eleitoral.
Enfim, com dificuldade ou não, a verdade é que um país tão diverso como o nosso, de maioria negra, o olhar e o estudo deste eleitor será cada vez primordial. Mapeado ou não, dividido ou não, ele se torna cada vez mais decisivo em nossas eleições.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.