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    Eleições 2022

    Maurício Pestana: Negros e mulheres em maior proporção nestas eleições

    Aumento de candidaturas é um pequeno passo para que, no futuro, possamos ter uma verdadeira democracia representativa

    Maurício Pestana

    Finalmente foi dada a largada, agora não tem por onde fugir, a responsabilidade é dos eleitores de avançar, mudar, retroagir, manter o que está aí, nas assembleias, na Câmara, no Senado, nos governos estaduais. O Brasil se prepara para uma eleição que será das mais importantes já vivenciadas por nós. Se o processo político não mudou, o quadro dos candidatos sim e, principalmente no quesito autodeclaração de cor e raça, teremos mais candidatas de pretas e pretos nestas eleições.

    O país terá uma proporção recorde de candidaturas de pessoas negras e de mulheres. Segundo dados parciais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), das mais de 28 mil candidaturas com pedidos registrados, 49,6% são de pessoas negras e 48,9% de pessoas brancas.

    Esses avanços podem ser vistos por dois ângulos: um extremamente positivo, dado que a representatividade negra e de mulheres na Câmara, no Senado, nos governos estaduais e até na Presidência da República é pífia, vergonhosa, assustadoramente desproporcional, o que nos coloca em uma posição extremamente desconfortável na representatividade de raça e gênero; por isso, é extremamente positivo vermos essa verdadeira explosão de candidaturas de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas e de mulheres neste pleito.

    Por outro lado, a engenharia política em que estamos imersos, com suas artimanhas e artifícios, faz duvidar se realmente haverá mudanças na representatividade negra nos poderes constituídos ou se novamente ficaremos a ver navios.

    Ao analisarmos o quadro de candidatos, por exemplo, de governador, nos 27 estados da nação, focando em quem tem realmente chance de ganhar, dá para contar nos dedos de uma mão os autodeclarados negros e pardos, exemplo que se segue nas candidaturas ao Senado.

    Obviamente, em números absolutos, nos cargos para deputados estaduais e federais, aí sim, temos uma representatividade negra autodeclarada quase proporcional à população do país. Mas quantos desses realmente passaram pelo funil de um processo político eleitoral bastante excludente, que começa bem antes do pleito ou do fundo partidário?

    Campanhas eleitorais em nosso país começam antes deste período. Existe uma máxima na política que diz que dos quatro anos de um mandato, dois têm que ser destinados a campanhas, talvez por isso o parlamento no Brasil é um dos que tem o menor índice de renovação congressual do mundo.

    Sabemos que a presença negra, seja nas assembleias, na Câmara ou no Senado, é pequena, o que logo resulta em não termos o que renovar, uma vez que nossa presença é pequena.

    Sabemos também que a escolha dos “preferidos”, ou seja, dos candidatos que realmente têm chance de ganhar uma eleição é realizada antes mesmo das convenções partidárias, essas escolhas são feitas por meia dúzia de homens brancos respectivamente donos dos partidos políticos, que, em sua maioria, escolhem seus amigos homens brancos, que já foram indicados para serem secretários, ministros, prefeitos e levam vantagem na corrida eleitoral e, consequentemente, nas vitórias.

    Este sistema excludente e racista está longe de ser neutralizado apenas com aumento das candidaturas que se autodeclaram negras ou de uma maior participação no fundo eleitoral, mas sem dúvidas o aumento deste número de negros e mulheres é um pequeno passo para que, no futuro, possamos ter uma verdadeira democracia representativa. Porque o que temos hoje é uma democracia branca e masculina.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.

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