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    Eleições 2022

    Maurício Pestana: democracia diversa no Congresso em 2023

    São tempos difíceis, mas democracia pressupõe a convivência e o respeito com o diferente

    Maurício Pestanada CNN

    Há mais de trinta anos como jornalista com foco na área política, tenho acompanhado muitos movimentos na história deste país. Desde o início da redemocratização, nunca presenciei uma crise institucional como a de agora, em que os conflitos entre Executivo e Judiciário, em alguns momentos, beiram uma ruptura institucional com sequelas inimagináveis para a frágil democracia brasileira.

    Mas uma coisa ficou nítida no Congresso que se formou nessas eleições: nunca tivemos uma variedade e uma diversidade de opiniões e posições tão antagônicas como as que se desenham para 2023. Com exceção do governo Collor, dois partidos dominaram o cenário político nessas poucas décadas de redemocratização: o PT numa aliança formada por partidos de esquerda de um lado e, PSDB e MDB, mais ao centro, dividiam os espaços de poder, se não com propostas de governo parecidas, mas com princípios e propósitos civilizatórios e humanos muito parecidos.

    Pautas como defesa de um Estado mais humano, acolhedor, igualitário e de respeito aos direitos humanos e ao livre arbítrio sempre foram pontos comuns defendidos por esses partidos. A partir de 2023, no entanto, o Congresso seguirá mais firme em uma tendência instaurada há quatro anos no Executivo e terá que conviver com forças conservadoras jamais experimentadas na história da República. Teremos de um lado, parlamentares que defendem que homens usem azul e mulheres cor de rosa, que defendem que, se uma criança com menos de dez anos for estuprada, a família não tem o direito decidir sobre o futuro do feto vítima da violência do estupro.

    Se essas forças ganharam espaço e cadeira e voz no Congresso Nacional, chegaram também àquela casa, pela primeira vez na história, parlamentares trans e travestis com pautas extremamente libertárias, como a luta contra o racismo e a autodeterminação dos seus corpos.

    Ou seja, teremos no mesmo território representantes dos mais diversos setores de um país diverso, de maioria negra sempre enaltecido por sua cultura, esporte, religiosidade exuberante, mas que também é o país que mais mata homossexual no mundo, que a cada dez minutos uma mulher é estuprada, em que o feminicídio é uma realidade cotidiana em todas as classes sociais.

    São tempos difíceis e tenebrosos, mas democracia pressupõe a convivência e o respeito com o diferente e esse diferente homofônico, racista, violento, fanático, que cada vez mais mostra sua face ao sair das catacumbas onde sempre se escondeu, é que teremos que conviver, ossos do oficio, ossos de uma democracia diversa.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.

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