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    Eleições 2022

    Maurício Pestana: Democracia branca

    No Brasil, sequer foi cogitado o tema de incluir negros ou negras como vice nas chapas que disputam com chance de ganhar

    Maurício Pestana

    Enfim, chegamos à última coluna da série que escrevi aqui para a CNN Brasil sobre diversidade ou a falta dela nessas eleições que, sem dúvidas, foram as mais disputadas e cujo desfecho também ainda parece incerto para muitos, pois a disputa presidencial continua bastante acirrada e só teremos um veredito final no domingo (30).

    Procurei nesses meses mostrar em cada artigo a importância de temas tão relevantes como inclusão, diversidade, desigualdades e equidade, palavras cada vez mais utilizadas na academia, no mundo corporativo, enfim, na sociedade como um todo, menos nos partidos políticos e governos.

    Somos o maior país negro fora da África, um país que tem uma enorme dívida com a população negra, país que só recentemente, nas últimas duas décadas, começou a aplicar algumas políticas públicas afirmativas, com alguma aderência no meio corporativo ainda mais recentemente.

    Entretanto, com a escalada dos casos de racismo não só aqui, mas em todo o mundo, também por conta do assassinato de George Floyd e toda a repercussão inclusive nas próprias eleições dos Estados Unidos, impulsionando a chegada da primeira mulher negra a ocupar a cadeira de vice-presidente, esperava-se aqui uma performance melhor no tema.

    Nada, aqui não aconteceu nada, sequer o tema de incluir negros ou negras na chapa majoritária nos principais partidos que disputavam com chance de ganhar foi cogitado. É como se não existíssemos como eleitores em um país que somos a maioria.

    Contrapondo essa invisibilidade, várias pesquisas indicam que será exatamente este eleitor, pobre, preto, cristão e pouco informado, por isso, muitas vezes influenciado por fake news, que poderá decidir o futuro deste país de maioria negra, mas que ao longo de sua história republicana de mais de cem anos só conseguiu ver um negro sentado na cadeira de presidente – Nilo Peçanha — e ainda assim por alguns meses.

    Quando em alguns fóruns de que participo coloco que aqui temos o sistema mais perverso de racismo, até porque convivemos com este estado de coisas pacificamente, mesmo sendo mais da metade da população votante, e não conseguimos a cadeira de vice-presidente — como é o caso hoje dos Estados Unidos, Colômbia e Costa Rica –, é disso que falamos.

    Os mais apressados dirão: e vocês o que estão fazendo para mudar o jogo?

    Eu diria: no momento, no campo da denúncia e da conscientização, inclusive tentando explicar para o mundo branco e antirracista que tanto tem se expressado nos últimos tempos em defesa da democracia que a verdadeira democracia é aquela que tem a representatividade de todos.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.

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