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    Eleições 2022

    Maurício Pestana: As eleições do nada de novo

    Apesar de toda a discussão sobre a representatividade negra nos cargos de decisão, parece que essa pauta permanece longe do debate político atual

    Debate racial não teve força na campanha eleitoral de 2022
    Debate racial não teve força na campanha eleitoral de 2022 Arte CNN

    Maurício Pestana

    Apenas a duas semanas das eleições brasileiras, podemos avaliar as expectativas deste processo que desde o começo da disputa foi polarizado entre as candidaturas de Jair Messias Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. 

    Quando teve início, tínhamos a esperança, por conta de o debate racial hoje na sociedade brasileira e no mundo estar mais acirrado, de que teríamos, consequentemente, este debate no processo político. Afinal, as Américas da atualidade são diferentes de quatro anos atrás. Temos três mulheres negras na vice-presidência — casos dos Estados Unidos, Costa Rica e Colômbia –, e ações internas como uma maior participação no fundo eleitoral de candidaturas negras poderiam levar a questão para o debate, mas nada de novo em terras tupiniquins. 

    O maior país negro fora da África, com uma população de cerca de 120 milhões de habitantes que se autodeclaram pretas e pardas, pelo que tudo indica, continuará como sempre; com quase nenhuma representatividade no Legislativo e no Executivo jogando esse problema para debaixo do tapete ou se escondendo atrás de slogans feitos para justificar o injustificável, como o tal “racismo estrutural”. 

    Chega a espantar, por exemplo, o fato de adversários do atual presidente não terem questionado o porquê de, em quatro anos, o senhor Jair não ter tido sequer um ministro negro como seu auxiliar, a não ser uma tentativa frustrada para a pasta da Cultura. 

    Temos a impressão de que esse questionamento não é realizado pelo simples fato de que, independentemente do resultado final deste pleito, não há segurança nenhuma que esse quadro mude radicalmente de patamar, tendo como base a cara e a cor das próprias chapas que concorrem à Presidência da República, ou seja, nestas eleições, apesar de toda a discussão que paira sobre a representatividade negra nos cargos de decisão, parece que essa pauta segue longe do debate político da atualidade. 

    Mas há uma esperança no ar. Ela vem exatamente de dois fatores antagônicos: enquanto aumenta o descrédito na política e nos políticos tradicionais, forças políticas da base da sociedade emergem em diversas frentes, candidaturas coletivas proliferam em alguns partidos e geralmente com mulheres e negros como protagonistas, organizações de empreendedores e executivos negros e diversos outros coletivos, que têm na pauta racial um de seus eixos, têm estado cada vez mais presentes nas discussões políticas. E este é um movimento irreversível que, inelutavelmente, a médio e longo prazo, irá pressionar por mudanças nesse quadro vexatório da representação política negra. 

    Isso tudo pensando a médio e longo prazo, pois, pelo que tudo indica, não só nas eleições que ocorrerão daqui a duas semanas, mas no processo político que se avista após o pleito de 2 de outubro, vamos continuar sendo o mais do mesmo.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.