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    Leia a íntegra da entrevista do presidente Lula à CNN

    Mandatário brasileiro conversou com a jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional

    Victor Aguiarcolaboração para a CNN , São Paulo

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu, na quinta-feira (7), uma entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, na qual falou sobre as eleições americanas, Donald Trump, Amazônia, possibilidades para 2026 e outros temas.

    A seguir, confira a íntegra da entrevista:

    Amanpour: O que você quer contar para o povo americano e para o mundo, já que você deu os parabéns para o Donald Trump por seu retorno à Casa Branca? Você disse que o mundo precisa de diálogo. O que você quer dizer com isso?

    Lula: Olha, o que eu quero dizer com isso é que o mundo não pode continuar gastando US$ 2,4 trilhões com guerras e conflitos quando a gente deveria utilizar esse dinheiro para alfabetizar e alimentar milhões e milhões de pessoas que ainda passam fome e pessoas que são analfabetas no mundo.

    O que nós precisamos é aprender a cuidar do povo mais pobre para que ele deixe de ser pobre e a gente consiga criar uma economia de consumo nos países pobres, que hoje não têm esse direito de consumir.

    Menos dinheiro com guerra e mais dinheiro com paz é a solução que a gente apresenta para o mundo

    Luiz Inácio Lula da Silva

    Por isso é que o G20 tem como lema principal “aliança global contra a fome e a pobreza”. Vai ser um tema muito importante.

    Depois nós temos o tema da transição energética e do enfrentamento à questão das mudanças climáticas. Depois, nós temos outro tema que é a reforma da ONU [Organização das Nações Unidas] e das instituições de Bretton Woods.

    Depois, nós temos uma coisa muito importante que é a taxação dos super ricos. Nós temos três pessoas no mundo que têm uma riqueza acumulada de quase US$ 15 trilhões. Enquanto isso você tem 733 milhões de pessoas passando fome no mundo.

    Ao mesmo tempo, nós já fizemos 130 reuniões, já criamos 22 grupos de trabalho e vamos pela primeira vez ter o G20 Social, com participação de gente do mundo inteiro. E temos um grupo de empoderamento das mulheres do G20.

    Ou seja, essas são as novidades. E eu estou certo, Amanpour, que a gente vai fazer um belo G20 e vamos tirar decisões importantes para ver se a gente torna o mundo mais humanista outra vez.

    Amanpour: Você acha que o Donald Trump, como próximo presidente dos Estados Unidos, vai fazer o que você está dizendo, presidente? Falar sobre a taxação dos mais ricos para tornar mais justo para as pessoas, para tornar mais justo para as mulheres. Eu gostaria apenas de destacar que as 10 pessoas mais ricas do mundo ficaram US$ 64 bilhões mais ricas com a reeleição de Trump. É o que a Bloomberg está dizendo. O que você dirá a Donald Trump sobre seus pontos de vista de como fazer um mundo mais igualitário?

    Lula: A primeira coisa, Amanpour, que nós temos que dizer ao presidente Trump é o seguinte: primeiro, eu acho que nós dois, como chefes de Estado de dois países importantes na América, nós temos que ter uma relação muito civilizada, muito democrática. Porque o Brasil tem uma relação privilegiada com os Estados Unidos. Nós somos parceiros há muitas e muitas décadas, e eu acho que o estoque de investimento dos Estados Unidos no Brasil é muito grande.

    E eu acho que dois chefes de Estado quando se encontram, nós temos que conversar sobre os interesses dos Estados Unidos e os interesses do Brasil, o que será importante na relação de dois chefes de Estado. E eu tenho experiência porque eu já tive uma belíssima relação com o [George] Bush.

    Quando eu tomei posse em 2003, diziam que eu ia ter dificuldades de ter relações com o Bush, e foi uma relação extraordinária. Eu tive uma boa relação com o [Barack] Obama, e tenho uma boa relação com o presidente [Joe] Biden. E essa relação deve continuar porque dois chefes de Estado, embora eles possam ter divergência política e ideológica, quando eles se encontram, o que prevalece é o interesse do Estado, não é o interesse pessoal.

    O que eu quero discutir com os Estados Unidos é o interesse da relação centenária de Brasil e Estados Unidos. O que que os dois países têm que fazer para que a gente possa melhorar a qualidade de vida do povo que nós representamos.

    Amanpour: Eu quero continuar com essa análise sobre o que você acha que o Trump vai fazer porque, como você sabe, o presidente Trump tem muito em comum com seu antecessor, o Jair Bolsonaro. Na verdade, Bolsonaro era chamado de “Trump dos trópicos”. E o Bolsonaro quer voltar a ser presidente. Ele quer disputar contra você. O próprio presidente do partido dele disse que estava torcendo para o Trump porque isso ajudaria a colocar as coisas em ordem, consolidando a direita na maior democracia ocidental. Você acha que o Trump vai ser bom para você e sua visão de povo ou você acha que ele vai ajudar a trazer o Bolsonaro de novo ao poder?

    Lula: Veja, o Bolsonaro era presidente e eu o derrotei. Se ele estava apoiando o Trump, ele não tem voto nos Estados Unidos e o Trump não teria ganhado as eleições. Ou seja, sinceramente, Amanpour, eu tenho a seguinte visão de mundo.

    Eu tenho acompanhado as discussões americanas, eu tenho acompanhado os debates pela televisão. Eu acho que cada candidato estabelece uma estratégia para ganhar as eleições, e eu quero dizer claramente ao povo americano: eu terei com o presidente Trump uma relação de respeito como chefe do Estado brasileiro. E eu espero que ele tenha uma relação de respeito com o Brasil, como chefe do Estado americano.

    Olha, se nós estabelecermos essa linha de comportamento, de civilidade, de respeito, o resto fica tudo muito mais fácil. Quando eu tomei posse em 2003, Amanpour, o Bush… Eu fui visitar o Bush dia 10 de dezembro de 2002… Eu ainda não tinha tomado posse. E o Bush, naquela ocasião, me convidou para participar da Guerra do Iraque.

    Eu disse ao presidente Bush: “Olhe, eu não posso participar da guerra com o Iraque primeiro porque lá não tem armas químicas, segundo porque não conheço o Saddam Hussein, terceiro porque o Iraque fica a 14 mil quilômetros do Brasil, quarto porque eu tenho uma guerra para fazer no meu Brasil, que é combater a fome e a pobreza”. E nós conseguimos acabar com a fome no Brasil e, no governo anterior, a fome voltou. Quando eu voltei, tinha 33 milhões de pessoas passando fome, nós já tiramos 24,5 milhões de pessoas da fome, e vamos tirar todos os 33 milhões até o final do meu mandato em 2026.

    Amanpour: Eu quero lhe perguntar sobre o que está em jogo na Europa, com a Rússia e a guerra contra a Ucrânia e a invasão ilegal da Ucrânia. Você decidiu não ajudar a Ucrânia com armas, e o presidente Volodymyr Zelensky já disse “infelizmente, eu acho que o Brasil está tomando o lado da Rússia”, e, basicamente, diz que o chamado plano de paz que você fez com a China mostra uma falta de respeito com a população ucraniana e com a posição dele. Como é que você pode vir com um plano de paz se você nem mesmo consulta o presidente Zelensky que representa o povo da Ucrânia? Qual é a sua resposta ao Zelensky, presidente?

    Lula: Olha, primeiro, o tempo será o senhor da razão. Vamos ver quem está certo, se é a posição do Brasil — que está pregando a paz — porque nós fomos um dos primeiros países a criticar a Rússia. Nós dissemos para a Rússia que não era correto a ocupação de território de um outro país. Nós fizemos uma crítica à Rússia muito séria, e dissemos que nós não queríamos participar dessa guerra porque nós somos gente da paz. O Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país do mudo, e a gente não quer contencioso.

    Quando vieram dizer para o Brasil vender umas armas para que o Zelensky utilizasse, eu disse textualmente: “Eu não quero ninguém, nem na Rússia nem na Ucrânia, morto com arma brasileira”. Nós queremos a paz.

    Quando os dois presidentes tiverem juízo e quiserem conversar sobre a paz, o Brasil estará disposto a discutir com os dois países a retomada da paz e a tranquilidade do povo russo e do povo ucraniano

    Luiz Inácio Lula da Silva

    E é por isso que nós fizemos uma proposta junto com a China, que tem seis pontos, e esses pontos só poderão ser conversados efetivamente com os dois presidentes. Nós já participamos de várias reuniões. Eu já encontrei com o Zelensky em Nova York, eu já conversei com o [Vladimir] Putin por telefone. Por enquanto, nenhum dos dois quer discutir paz. Quando eles quiserem discutir paz, eu estarei disposto a participar em qualquer fórum para discutir a paz.

    E eu fico feliz quando você disse que, se depender do discurso do Trump, ele vai acabar com essa guerra. E eu acho importante. Acho importante acabar com a guerra porque nós precisamos de paz.

    O mundo precisa de paz para sobreviver pacificamente, de paz para crescer economicamente, de paz para que a gente possa melhorar a qualidade de vida dos seres humanos que estão sendo descartados nesse mundo.

    É por isso, Amanpour, que eu estou em uma campanha de indignação dos líderes do mundo inteiro É preciso que a gente tenha a capacidade de se indignar, com os milhões e milhões e milhões de seres humanos esquecidos pelos governos do planeta, inclusive aqui no Brasil.

    E eu digo todo santo dia: nós precisamos parar de olhar como se fossem invisíveis os pobres do mundo. Eles são seres humanos, nos Estados Unidos, no Brasil, em todos os países africanos, na América Latina, na Rússia, na Ucrânia e na China. E nós precisamos tratar com muito respeito esses seres humanos que não tiveram oportunidade. Essa é a minha obsessão, é para isso que eu brigo, e eu tenho uma obsessão, melhorar a vida do povo que me elegeu presidente pela terceira vez.

    Amanpour: Eu vou fazer uma outra pergunta sobre o G20. Presidente, você está sendo o anfitrião do G20. Depois, você vai receber o presidente da China, mas o presidente Putin não está vindo para o G20. E ele disse que, se você quisesse, você podia assinar um acordo entre os chefes de Estado que protegeria ele de ser preso pelo mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional. O senhor escreveria essa carta para protegê-lo?

    Lula: Veja, o problema não é apenas proteger o Putin para não ser preso no Brasil, que essa é a coisa mais fácil de fazer. O problema é que você tem no G20 vários presidentes que não ficariam na sala se o Putin entrasse na sala. Todos os países europeus que participam do G20 mais os Estados Unidos, ou seja, o que seria uma coisa muito desconfortável.

    O que eu acho é que nós precisamos trabalhar para que essa guerra acabe de uma vez por todas e o Putin volte a conquistar o direito de andar de forma civilizada no mundo e participar dos eventos. Não é importante para o mundo que quer construir democracia ver o presidente de um país importante como a Rússia isolado porque ele tomou uma decisão e um tribunal internacional o julgou.

    Eu acho que é importante que a gente saiba que as coisas do Putin vão ser resolvidas quando acabar a guerra com a Ucrânia, ele participar de uma reunião do G20, como pode participar o Zelensky. O Zelensky poderia ser convidado.

    Acontece que eu não quero discutir a guerra da Ucrânia e da Rússia no G20. Eu quero discutir a questão da aliança global contra a fome, eu quero discutir a questão climática, discutir a questão energética, quero discutir o empoderamento das mulheres, quero discutir coisas que são importantes, inclusive a mudança da ONU para que a gente faça com que a ONU se adapte à realidade de 2024, e não ficar com a realidade de 1945. É isso que nós queremos fazer.

    Então, eu não quero desviar os assuntos principais do G20. Ou seja, nós temos que sair do G20 comprometidos em lutar contra a desigualdade, contra a fome, contra o analfabetismo, que o mundo ainda padece, o mundo que, tecnologicamente, tem saída, o mundo que, geneticamente, tem saída. A gente produz alimento mais que o necessário para servir a toda a humanidade. Então, nós não podemos continuar gastando dinheiro em guerra, gastando dinheiro em arma quando a gente poderia garantir comida para todos os 733 milhões de habitantes que passam fome no mundo.

    Amanpour: Muito bem. Foi relatado que o presidente Biden, que está vindo ao G20, vai também visitar a floresta amazônica. Você pode confirmar isso, presidente?

    Lula: Eu tenho informação de que ele estava com interesse. É importante lembrar, Amanpour, que eu convidei há um tempo o presidente Biden para visitar o Brasil, e eu queria levá-lo na Amazônia para que ele saísse da imagem ligada à guerra de Israel e à faixa de Gaza e que a gente pudesse criar a imagem do Biden junto à questão climática. Lamentavelmente, na época ele não pode vir. Ele está vindo agora.

    Se ele for para a Amazônia, eu não tenho como acompanhá-lo porque eu estou muito preocupado com o G20. Eu vou para o Rio de Janeiro dia 14 e vou ficar até o dia 19 no Rio de Janeiro só cuidando do G20.

    Então, se ele vier, ele será bem recebido na Amazônia. Certamente, terá autoridades esperando o presidente Biden. Nós vamos cuidar dele com muito carinho porque o Biden é uma pessoa com quem eu tive uma belíssima relação, e uma relação de muito respeito, que é a relação que eu espero ter com o Trump. Uma relação de respeito entre dois chefes de Estado de dois países importantes.

    Amanpour: Mas será que ele [Biden] vai visitar a Amazônia, presidente?

    Lula: Eu não tenho informação oficial de que ele vai visitar a Amazônia. O que eu tenho é informação extraoficial de que o Biden viria dia 17 para visitar a Amazônia. Ainda não tenho informação concreta e objetiva da visita dele à Amazônia. Eu sei dos interesses da assessoria do Biden de que ele venha visitar a Amazônia.

    Amanpour: Bem, uma outra questão, uma boa notícia para o seu país é que o desmatamento da floresta amazônica está em seus níveis mais baixos desde 2015, e você está ganhando créditos por isso. Você prometeu acabar com o desmatamento até 2030. Você está nesse caminho?

    Lula: Veja, eu tenho um compromisso, Amanpour, um compromisso que ninguém pediu para eu fazer. Eu tomei a decisão de anunciar que até 2030 iremos acabar com o desmatamento na Amazônia. Esse é um compromisso meu.

    Da mesma forma, Amanpour, eu poderia te dizer que o Brasil vive um momento muito interessante porque, quando se trata de discutir a questão climática, a questão energética, o Brasil teria condições de ser imbatível no mundo na produção de energia eólica, na produção de energia solar, na produção de energia de biomassa, na questão de biocombustível, na questão de hidrogênio verde. Ou seja, o Brasil tem um potencial extraordinário e nós queremos aproveitar essa chance para que o Brasil tenha, dentre todas as coisas, uma agricultura de baixo carbono.

    Você sabe, Amanpour, que o Brasil tem 90% da sua matriz energética limpa. E, da matriz geral, nós temos 50% de energia limpa quando o mundo só tem 15%. Então, nesse aspecto da questão climática e da questão energética, o Brasil vai fazer com que as coisas aconteçam aqui. Daí porque o meu compromisso com o desmatamento na Amazônia.

    E eu espero que os países ricos contribuam com o dinheiro que eles têm que contribuir porque manter a floresta em pé custa dinheiro. Porque embaixo de cada copa de árvore, tem um indígena, tem um pescador, tem um camponês, e nós precisamos cuidar dessa gente porque eles são seres humanos e precisam viver. Então, é importante que as pessoas que já desmataram seus países, que já se industrializaram 200 anos atrás, assumam o compromisso de pagar para os países que têm floresta em pé a preservação da floresta.

    Porque eu não estarei cuidando apenas da questão da Amazônia, eu estarei cuidando do planeta Terra, que interessa aos Estados Unidos, que interessa à China, que interessa à Rússia, que interessa ao México, que interessa ao Chile. Ou seja, por isso, as pessoas têm que ter consciência de que manter a floresta em pé na Amazônia da América do Sul, no Congo e na Indonésia tem um preço.

    Tem um preço, e as pessoas têm que pagar. E é isso que nós queremos fazer, com que esse crédito de carbono volte a funcionar de verdade para ajudar os países que vão manter sua floresta em pé

    Luiz Inácio Lula da Silva

    Amanpour: No seu primeiro mandato, Trump tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. O senhor acha que ele vai fazer novamente a mesma coisa?

    Lula: Olha, veja, eu penso que o presidente Trump, ele tem que pensar como habitante do planeta Terra. E se ele pensar como governante do país mais importante, o país mais rico, o país com mais tecnologia, o país mais preparado, do ponto de vista bélico, ele tem que ter noção que os Estados Unidos estão dentro do mesmo planeta em que eu estou. Que uma ilha de 300 mil habitantes está.

    E cabe a todos nós assumir a responsabilidade pela manutenção desse planeta. Nós precisamos garantir que o planeta não seja aquecido a mais de 1,5°C. Nós precisamos garantir que as florestas fiquem em pé. Nós precisamos garantir que os rios permaneçam caudalosos e permaneçam com água limpa e purificada. Nós precisamos garantir que os biomas de todos os países sejam preservados.

    Esse é um compromisso que eu tenho apenas não como presidente do Brasil, eu tenho como ser humano que habita no planeta chamado Terra, e que não tem outro lugar para ir se o planeta Terra acabar.

    Amanpour: Eu queria perguntar sobre Elon Musk, que é um grande amigo do Trump e gastou milhões do seu próprio dinheiro para ajudar a eleger o Trump. A Suprema Corte no Brasil teve um confronto com Musk acusando ele de causar danos ao Brasil, à democracia brasileira. E finalmente Elon Musk seguiu as decisões do Supremo. O senhor acha que ele pode levantar todas essas questões novamente agora que ele vai ter o apoio do líder Donald Trump?

    Lula: Olha, a única coisa que nós queremos é que esse empresário trate os países com respeito, e não utilize fake news para informar o povo, seja o povo americano, seja o povo brasileiro.

    É importante que a gente tenha em conta que nós precisamos retomar a civilidade e o humanismo entre os seres humanos. Não é possível ficar instigando ódio. Não é possível ficar instigando a controvérsia quando a gente poderia estar estimulando a paz, estar estimulando o humanismo, estar estimulando a fraternidade, estar estimulando a solidariedade.

    É uma opção de vida que nós queremos, para que o ser humano volte a ser mais humanista. Que as pessoas voltem a se respeitar.

    Ninguém é obrigado a gostar de ninguém. O que nós precisamos é gostar das pessoas como elas são, tratá-las com o respeito que elas merecem, mas elas também têm que tratar os outros com respeito

    Luiz Inácio Lula da Silva

    Olha, se a gente retomar a civilidade e viver em um sistema em que todos têm direito — e o direito de um termina quando ele invadir o direito do outro –, a gente vai construir um mundo mais perfeito, um mundo mais justo, um mundo mais humanitário e um mundo socialmente mais justo para as pessoas pobres do planeta. É isso que eu quero para o Brasil, é isso que eu quero para os Estados Unidos, é isso que eu quero para a Bolívia, é isso que eu quero para o Chile, é isso que eu quero para a Argentina, é isso que eu quero para a China e para todos os países.

    Ou seja, o que não é correto é a gente ver um país, um Estado forte como Israel acabar com o povo que mora na Faixa de Gaza, onde milhares de mulheres, mais de 40 mil mulheres e crianças foram assassinadas, em uma guerra totalmente injusta. E nós condenamos o Hamas quando ele invadiu Tel Aviv e, ao mesmo tempo, nós condenamos Israel contra essa vingança desumana que ele fez na Faixa de Gaza.

    Lamentavelmente, a ONU está enfraquecida e não pode tomar decisão, e as pessoas não respeitam a ONU. Ou seja, é importante que a gente volte a valorizar a ONU, que a gente mude os componentes da ONU. Ou seja, não pode ficar só os de 1945. É importante que a gente tenha mais gente, que a África participe, que a América Latina participe para que a gente possa ter uma ONU mais representativa e, quando ela tomar uma decisão, a gente tenha que cumprir. Porque senão não vale nada tomar as decisões nos fóruns internacionais.

    Eu posso te dar um exemplo no Acordo de Paris. A gente já teve o pacto de Tóquio que não foi cumprido, o acordo de Paris que não está sendo cumprido, a gente já teve uma proposta de US$ 100 milhões em Copenhague em 2009 que não está sendo cumprida. Então as pessoas precisam ter em conta que nós precisamos ter uma governança mundial forte para que a gente possa aprovar as coisas, decidir as coisas e cumprir aquilo que a gente aprova e que a gente decide. Senão, o mundo vai ficar cada um para si, Deus para todos, e a gente sabe que o anarquismo não leva a nada.

    Amanpour: Senhor presidente, existem alguns idosos que estão dirigindo países muito importantes. O presidente Biden, o presidente Trump e você mesmo. Você está com 79 anos, e diz que quer disputar a reeleição em 2026. Você vai concorrer à reeleição em 2026? E por quê? Não está na hora de uma geração mais jovem entrar em cena?

    Lula: Olha, primeiro deixa eu te dizer uma coisa com muito carinho e muito respeito. Primeiro, eu tenho 79 anos e estou pedindo a Deus para viver até 120 anos. Porque, veja, eu me trato, eu me cuido, eu levanto todo dia às 5h30 para fazer duas horas de ginástica. Eu cuido do meu corpo e da minha saúde.

    Veja, eu não disse que sou candidato à reeleição em 2026. Em 2026, eu tenho o compromisso de entregar esse país com a economia equilibrada, com crescimento econômico, com geração de emprego, com mais gente alfabetizada. É isso que eu quero entregar para esse país. As pessoas tomando café, almoçando e jantando todos os dias. As pessoas com acesso à medicina dos especialistas, é isso que eu quero para o meu país, e é isso que eu vou fazer.

    Ora, 2026 eu vou deixar para pensar em 2026. Tem vários partidos que me apoiam. Eu vou discutir isso com muita sobriedade, com muita seriedade porque governar não é jogar futebol.

    Governar não é praticar esporte, ou seja, não é o problema de juventude que vai resolver o problema da governança. O que vai resolver o problema da governança é a competência do governante. É o compromisso do governante. É a cabeça do governante. É a saúde e os compromissos do governante.

    Então se chegar na hora, os partidos entenderem que não tem outro candidato para enfrentar uma pessoa de extrema direita que seja negacionista, que não acredite na medicina, que não acredite na ciência, obviamente que estarei pronto para enfrentar.

    Mas eu espero que não seja necessário. Eu espero que a gente tenha outros candidatos e que a gente possa fazer uma grande renovação política no país e no mundo.

    O que acontece com as ações judiciais contra Trump, agora eleito?

     

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