“Lamentável usar ferramentas do país com esses fins”, diz ministro alvo de suposta espionagem da Abin
Segundo investigação da PF, atual ministro da Educação, Camilo Santana, teria tido a casa monitorada pela Abin à época em que era governador do Ceará
O ministro da Educação, Camilo Santana, lamentou, neste domingo (28), que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) possa ter usado a estrutura que possui para realizar um suposto monitoramento da casa dele.
Segundo a Polícia Federal, o diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento das Comunicações da Abin, Paulo Magno, teria sido flagrado pilotando um drone nas proximidades da residência do então governador do Ceará sem justificativa técnica para tal ação.
“É lamentável que se use as ferramentas do país, que é democrático, com esses fins. Eu espero que a Justiça possa cumprir a sua missão e punir aqueles que foram responsáveis em relação a isso”, disse a jornalistas, após agenda em Brasília.
A informação de monitoramento consta em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que, na semana passada, autorizou o cumprimento de 21 mandados de busca e apreensão contra suspeitos que monitoraram ilegalmente uma série de autoridades e pessoas envolvidas em investigações, além de desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A decisão de Moraes não apresenta mais detalhes sobre o contexto do suposto monitoramento de Camilo Santana pela Abin.
Os monitoramentos, segundo as investigações, envolviam o uso do software “First Mile“, ferramenta de geolocalização que permite identificar as movimentações de pessoas por meio dos celulares delas.
O software é capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G. Para encontrar o alvo, basta digitar o número do seu contato telefônico no programa e acompanhar em um mapa a última posição.
O uso indevido da Abin teria ocorrido quando o órgão era chefiado pelo deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), aliado da família Bolsonaro. O parlamentar foi alvo de operação da PF. Ele nega participação em qualquer prática de espionagem ilegal.
Outro lado
Em nota, a defesa de Paulo Magno afirma que ele nunca pilotou qualquer tipo de drone.
“A defesa demonstrará no processo que Paulo Magno nunca utilizou o sistema First Mile, nunca pilotou qualquer tipo de drone, em lugar algum, e nem mesmo estava no Ceará na data em que um drone teria sobrevoado as proximidades da residência do então Governador daquele Estado.”
Assinam a nota os advogados Pedro Ivo Velloso e Marcelo Neves Rezende.
O advogado Fábio Wajngarten, que defende e assessora Bolsonaro, disse à CNN que o ex-presidente nega “qualquer ilação” que ligue o nome dele às supostas espionagens.
A Abin afirma que colabora com os inquéritos e que é “a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos”.