‘Inquérito apura fatos pertinentes a ambos’, diz PGR sobre Bolsonaro e Moro
Augusto Aras aguarda decisão do STF para seguir com investigação a respeito de suposta interferência política do presidente na Polícia Federal
O procurador-geral da República, Augusto Aras, defendeu nesta segunda-feira (27), em entrevista exclusiva à CNN, o pedido que apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) para instaurar um inquérito a fim de apurar uma suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Polícia Federal, relatada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro na última semana.
Para Aras, neste momento não há acusações nem ao presidente, nem ao ex-ministro. “Quando nós requeremos o inquérito, não estamos acusando A nem B de um evento criminoso. Nós queremos apurar os fatos”, justificou.
O inquérito foi oficialmente aberto pouco depois da entrevista, por decisão do ministro Celso de Mello, que será o relator da investigação no STF.
Apesar de não haver suspeita específica sobre um ou outro, Aras disse que “o inquérito apura fatos pertinentes a ambos” e que “há a possibilidade de surgir novos tipos penais que não foram aventados na nossa instauração de inquérito. Contra um, contra outro ou contra terceiros.”
Apesar de ser a pessoa que fez a acusação, o ex-ministro da Justiça pode acabar sendo ele o processado, segundo o chefe da PGR, caso conclua-se que ele denunciou o presidente sem provas. “No que toca ao ministro da Justiça, a denunciação caluniosa é um tipo penal aplicável quando alguém dá causa à instauração de inquérito”.
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O procurador afirmou que o pedido de inquérito se baseia unicamente no pronunciamento feito por Sergio Moro na sexta-feira (24), quando o ex-juiz afirmou que o presidente Jair Bolsonaro promoveu a demissão de Maurício Valeixo da direção-geral da PF para substituí-lo por um delegado aberto a lhe repassar relatórios de inteligência da corporação. Moro também disse que Bolsonaro desejava ter acesso a informações sobre investigações sigilosas que tramitam junto ao STF.
Medidas
Entre as medidas estudadas para conduzir a investigação, Augusto Aras cita depoimentos dos dois principais envolvidos e até um pedido de perícia no celular do ex-ministro da Justiça. O depoimento de Sergio Moro já foi determinado pelo ministro Celso de Mello.
Outro nome da política que pode ter o telefone analisado é a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que teve conversas com o ministro Sergio Moro enviadas por ele ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, e exibidas por ela em entrevista à CNN no último sábado.