Inclusão produtiva e desenvolvimento econômico são peças chaves para retomada
Políticas públicas são necessárias para garantir crescimento de pequenos negócios voltados principalmente para as camadas menos abastadas da sociedade



Sabemos que em anos de eleições presidenciais é comum vivenciarmos grande volatilidade e incertezas na política e na economia no Brasil.
No entanto, 2022 possui uma conjuntura ainda mais vulnerável: alta dos preços e inflação, crise econômica oriunda também de uma crise sanitária, alto índice de desemprego e ainda um conflito internacional que impacta em políticas de preços em todo mundo por seu caráter de guerra híbrida.
Com tantas variáveis e temas a serem trabalhados não há um planejamento efetivo econômico nas pautas federais ou estaduais que tenham garantido o fomento de pequenos e micro negócios que são responsáveis pela maioria dos empregos no país (cerca de 70% das oportunidades geradas) e por grande parcela do PIB (Produto Interno Bruto).
Cada vez mais o empreendedorismo no Brasil é motivado pela necessidade de ocupação e incremento de renda.
Segundo relatório anual “Empreendedorismo no Brasil 2020” do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que contou com apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), durante a pandemia houve uma significativa queda nos empreendimentos estabelecidos – negócios com mais do que 3 anos e meio de existência –, passando de 16,2% em 2019 para 8,2% no ano de 2020.
Do outro lado da balança, ocorreu um aumento acentuado entre as pessoas que iniciaram um negócio, muito em razão da necessidade. O índice passou de 8,1% para 10,2% no ano passado.
Outro dado que chama a atenção é quando se faz um recorte de gênero: entre as empreendedoras já estabelecidas a queda foi de 62% em relação ao ano de 2019, entre os homens esse número ficou em 35%. A incongruência brasileira onde grupos majoritários minorizados economicamente, como negros e mulheres, seguem enfrentando maiores desafios e abismos colossais na hora de empreender — e com a pandemia isso parece ter se agravado.
Urge necessidade de políticas públicas que garantam o crescimento de setores a partir de fomento com subsídios e política de crédito intencional para pequenos negócios, principalmente que atuem com camadas menos abastadas da sociedade, não somente para recuperação mas com criação de estrutura para melhor fomento a negócios no país que gerará mais empregos em consequência.
Sabemos que não existe inclusão produtiva também sem intencionalidade a grupos em vulnerabilidade para eficácia e mobilidade social.
Para isso são necessárias medidas em diferentes esferas: capacitação e educação empreendedora, política intencional de acessibilidade a investimentos e crédito via governo e iniciativa privada, além de incentivo à pesquisa e desenvolvimento em diferentes áreas.
Ainda segundo o relatório do GEM, estudiosos apontam fatores que podem facilitar ainda mais o empreendedorismo no país:
- Redução das burocracias necessárias para abertura;
- Legislação adequada;
- Iniciativas efetivas com plano estruturado e ações governamentais que deem espaço, continuamente, para a pequena empresa no país;
- Reconhecimento da importância das pequenas empresas para o mercado interno com abertura e incentivo também ao mercado externo;
- Necessidade de adoção de políticas públicas que apoiem as mulheres no empreendedorismo;
- Ao lidar com a maternidade e o negócio, criar políticas relacionadas à disponibilidade de creches são fundamentais;
- Desenvolvimento de políticas de formação básica e integral dos indivíduos, de orientação dos mercados de acordo com o capital social, de orientação na formação profissional de acordo com a demanda e aptidão das potenciais pessoas empreendedoras;
- Real democratização do acesso ao crédito, serviços bancários digitais que facilitem a rotina, principalmente para os nano empreendedores e profissionais informais
Ainda acrescento politicas de cotização em licitações públicas para empresas geridas/fundadas por pessoas negras e indígenas, transgêneros, mulheres, pessoas com deficiência e demais grupos minorizados de acesso. Além de políticas de incremento de renda com estímulo junto ao setor privado para investimento local em regiões de povos originários junto à educação empreendedora e financeira.
A retomada econômica só será efetiva com a aceleração e fortalecimento dos pequenos negócios a partir da cooperação entre governo e iniciativa privada, que tanto vem abordando a pauta de ESG para impacto social positivo.
Mas é necessário também entrar na esfera de maior responsabilidade na descentralização de mercados e fortalecimento de um ecossistema mais plural que hoje depende do empreendedorismo de subsistência tornar-se empreendedorismo por oportunidade, mas isso só será possível a partir de políticas públicas afirmativas.