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    Eleições 2022

    Impactos econômicos de um governo mais autoritário

    Aventura autoritária seria jogar o país na lama antes de conseguir sair do atoleiro da crise iniciada em 2015

    Um país já pouco diversificado na economia ficaria ainda menos diversificado
    Um país já pouco diversificado na economia ficaria ainda menos diversificado Rovena Rosa/Agência Brasil

    Sergio Vale

    A reunião do presidente Bolsonaro com os embaixadores de diversos países essa semana acelerou a escalada de preocupação com o que ele pode fazer durante o período eleitoral. A ideia de que uma tentativa de sedição com a população na rua imitando os eventos do Capitólio em 6 de janeiro do ano passado parece um caminho que poderá ocorrer. Qual a implicação disso do ponto de vista econômico?

    Já não é de hoje que o presidente tem causado estragos institucionais ao duvidar da lisura das urnas eletrônicas. Claramente um não assunto, mas o presidente repisa no que lhe dá espaço de reverberação com seus seguidores mais fanáticos. O problema é que o presidente, ao falar para uns 15% da população mais ideológicos, esquece que há todo um resto para o qual ele deveria governar e que tais ameaças são especialmente negativas.

    Não apenas a população em si pode ficar assustada com os lampejos autoritários do presidente, mas cada vez mais as empresas estarão preocupadas com regimes que saiam da configuração democrática esperada. Vimos isso acontecer este ano com a Rússia que perdeu inúmeros investimentos estrangeiros depois que iniciou a guerra.

    Uma tentativa de golpe entra no rol de riscos que as empresas precisam avaliar, pois pode significar que para elas também as regras do jogo podem de repente não valer. E nenhuma empresa internacional hoje está aberta a esse tipo de risco.

    Com a ampliação da globalização, as empresas têm espaço de entrada em muito mais países do que no passado, tanto do ponto de vista de compra de insumos como de vendas de seus produtos. O Brasil, pelo seu tamanho, seria compelido a ser fortemente impactado em seu comércio exterior, mas especialmente no investimento estrangeiro direto.

    Em compensação, dada a atual configuração crescentemente autoritária do mundo, o Brasil se jogaria nos braços de um Brics quase integralmente não democrático, que é o caso chinês, russo e indiano. Neste caso, ainda algo democrático, mas com seu primeiro-ministro cada vez mais autoritário.

    Regimes autoritários não vêm lado, esquerda ou direita, e num caso de reversão no Brasil, a China se transformaria em um parceiro mais interessante aos olhos de um governo de exceção.

    Agora, comércio entre regimes autoritários não costuma evoluir bem, pois esse tipo de regime é fechado à inovação tecnológica e tem padrão de consumo muito inferior a países democráticos ao longo do tempo. E a China ainda está em processo de desenvolvimento, com renda per capita muito inferior ao mundo ocidental, sem ter provado conseguir passar por crescimento baixo sem causar nenhuma crise política.

    Com o tempo, o Brasil acabaria por atrasar ainda mais sua pauta comercial e de investimentos e veria a dependência da China nas commodities crescer a olhos vistos. Um país já pouco diversificado ficaria ainda menos diversificado.

    Assim, do ponto de vista econômico uma aventura autoritária seria jogar o país na lama econômica do mundo em um momento em que não conseguiu sair ainda do atoleiro da crise iniciada em 2015. As apostas do presidente não são apenas contra as instituições, mas tem o grande impacto adicional de nos condenar por muito mais tempo na armadilha da renda média.