House of Cards, Legião Urbana e Pantanal: as dicas culturais dos presidenciáveis

No rádio dos candidatos à Presidência da República costuma tocar Belchior, Elvis Presley e Racionais MC’s. Na cabeceira deles, os livros que estão presentes vão de “Como as Democracias Morrem” (2018), dos professores de Harvard Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, ao “Pequeno Manual Antirracista” (2019), de Djamila Ribeiro. Na TV, os presidenciáveis escolheram assistir do filme “Minha Mãe é uma Peça 1 e 2” à série “Borgen”, sobre a rotina do Parlamento na Dinamarca.

A CNN pediu aos 11 candidatos que disputam a única vaga no Palácio do Planalto que indicassem músicas, livros, filmes e séries. Oito deles revelaram suas preferências culturais. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), líderes das pesquisas de intenção e voto de acordo com o agregador CNN/Locomotiva, não responderam.

No entanto, Lula disse recentemente ter lido mais de 40 livros durante os 580 dias em que ficou na prisão em Curitiba. Entre os títulos, estão as biografias do guerrilheiro Carlos Marighella e do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. Entre os preferidos, citou “O Amor nos Tempos do Cólera” (1985), do colombiano Gabriel García Márquez, e o primeiro volume de “Escravidão” (2019), do jornalista Laurentino Gomes.

Em junho, ao participar de um evento com profissionais da cultura, o petista também fez referência a uma personagem da novela “Pantanal”, cujo remake é exibido pela TV Globo. A obra também foi citada à CNN pelas candidatas Simone Tebet (MDB) e Vera Lucia (PSTU).

Já o presidente Jair Bolsonaro afirmou a apoiadores na entrada do Palácio do Alvorada, em dezembro de 2021, não ter tido tempo de ler livros durante o exercício do cargo. “Desde que eu assumi a Presidência não li mais nada”, disse. Na campanha de 2018, ele afirmou em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que seu livro de cabeceira era “A Verdade Sufocada” (2006), do coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Os demais presidenciáveis listaram filmes, séries, novelas, livros, poetas, músicas, artistas, museus e até uma roda de samba. Veja a seguir as dicas culturais dos candidatos à Presidência em 2022.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

O candidato não respondeu até o momento da publicação.

Jair Bolsonaro (PL)

O candidato não respondeu até o momento da publicação.

Ciro Gomes (PDT)

O ex-governador do Ceará recomendou o livro “Racismo Estrutural” (2019, Editora Jandaíra), de Silvio Almeida, que disse ter lido recentemente. Entre os filmes, Ciro citou como seus favoritos “Blade Runner – O Caçador de Andróides” (1982), de Ridley Scott, e a versão de 2017, “Blade Runner 2049”, de Denis Villeneuve.

O pedetista indicou a série “O Gambito da Rainha” (2020), disponível no Netflix, e recomendou uma visita ao Museu do Eclipse, em Sobral, no Ceará. “O Museu foi inaugurado em 1999 pela Prefeitura Municipal para celebrar os 80 anos do fenômeno que ajudou a comprovar a Teoria da Relatividade do físico e matemático Albert Einstein, ocorrido na manhã de 29 de maio de 1919, em Sobral”, disse.

O candidato afirmou ainda que, em sua playlist, tem “muita música brasileira, em especial Belchior, Fagner, Caetano e Alcione”.

Simone Tebet (MDB)

A senadora disse estar lendo “Cuidar Uns Dos Outros: Um Novo Contrato Social” (2021, Ed. Intrínseca), da economista Minouche Shafik, e a biografia “Luiza Helena, Mulher do Brasil” (2022, Ed. Gente), do jornalista Pedro Bial. Também afirmou ter lido recentemente o livro “Pequeno Manual Antirracista” (2019, Ed. Cia. das Letras), de Djamila Ribeiro. Tebet disse ainda ser fã do poeta Manoel de Barros, nascido em Cuiabá (MT), e de Fernando Pessoa e Mário Quintana.

Sobre seus gostos musicais, a candidata afirmou apreciar “todos os estilos”, com “destaque para a banda Legião Urbana”. Também gosta de Almir Sater e música sertaneja, “um estilo que tem forte tradição no Centro-Oeste brasileiro”. Ela indicou ter como ídolo o cantor norte-americano Elvis Presley (1935-1977).

Na TV, a emedebista disse acompanhar, “quando a agenda de campanha permite”, o remake da novela “Pantanal”, que classificou como “um sucesso original do Benedito Ruy Barbosa”. “Simone Tebet tem carinho especial pelo Pantanal, bioma com 65% de seu território no estado de Mato Grosso do Sul, onde a senadora nasceu e já foi vice-governadora”, disse sua assessoria.

Vera Lucia (PSTU)

A socióloga que disputa a Presidência da República pela segunda vez diz ter lido muitos livros recentemente, mas indicou um dos que mais gostou: “Comunistas contra Stálin: o massacre de uma geração” (2021. Ed. Sundermann) de autoria do historiador francês Pierre Broué. Disse ainda estar lendo e gostando muito de “A Guerra Contra o Paraguai em Debate” (2021, Ed. Sundermann), do doutor em história econômica Ronald León Núñez.

Vera Lucia afirmou gostar muito de filmes e séries e não “dispensar uma boa novela”. “Assisti a todos os filmes com Paulo Gustavo. ‘Minha Mãe é uma Peça 1 e 2’ já assisti várias vezes”, disse. Ela também indicou o filme e a série “Doce de Mãe” (2012), com Fernanda Montenegro, disponível no Globoplay.

Entre suas séries favoritas estão “Como Defender um Assassino” (2014, Netflix), com Viola Davis, e “Anne with an E” (2017, Netflix), com Amybeth McNulty. “E estou assistindo, sempre que posso, ‘Uma Advogada Extraordinária’ [2022, Netflix] e a novela ‘Pantanal’”, disse.

Em relação à música, citou MPB, samba, cantoria e forró e listou os artistas: Xangai, Elomar, Almir Sater, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Zeca Baleiro, Belchior, Oswaldo Montenegro, Amelinha, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Chico Buarque, Mercedes Sosa, Marisa Monte, Zizi Possi, Jair Rodrigues, Luiz Gonzaga, Marinês, Flávio José, Amorosa, Joésia Ramos, Mestrinho, Dominguinhos e Gonzaguinha. “E muitos outros e outras. A lista é bem grande”, disse.

Felipe d’Avila (Novo)

O cientista político destaca entre seus favoritos a série “Borgen” (2010, Netflix), que “fala sobre a vida do parlamento da Dinamarca”. O candidato do Novo ainda indicou o livro “Brasil: Paraíso Restaurável” (2020, Ed. Estação Brasil), de Jorge Caldeira, Júlia Marisa Sekula e Luana Schabib. A obra foi finalista do Prêmio Jabuti de 2021 na categoria Economia Criativa.

José Maria Eymael (DC)

O empresário, que disputa a Presidência pela sexta vez, disse estar lendo “Ação Humana: Um Tratado de Economia” (2015, Ed. Vide), do economista austríaco Ludwig Von Mises (1881-1973), e relendo “A Marcha da Insensatez: De Tróia ao Vietnã” (2012, Ed. Best Seller), da historiadora norte-americana Barbara W. Tuchman. Eymael também indicou a obra “Princípios Constitucionais Relevantes” (1969, Ed. Fischer), coordenado pelo advogado Ives Gandra da Silva Martins.

O candidato diz ouvir música clássica e música popular brasileira, mas não citou nenhum artista.

Leonardo Péricles (UP)

O candidato da Unidade Popular Léo Péricles indicou os livros “Sociologia do Negro Brasileiro” (1988, Ed. Ática), de Clóvis Moura, e disse estar relendo “As Veias Abertas da América Latina” (2010, Ed. L&PM), de Eduardo Galeano, “História do Socialismo e das Lutas Sociais” (1968, Ed. Laemmert), de Max Beer, e “Inspiração Nordestina” (2003, Ed. Hedra), de Patativa do Assaré.

Entre os artistas que ele diz não saírem de suas playlists estão Milton Nascimento, Racionais MC’s, Leci Brandão, Clara Nunes, Martinho da Vila, Roberto Ribeiro e Zeca Pagodinho. “Da nova geração, recomendo o novo Álbum do FBC, ‘Baile’, que me lembra minha juventude, os sons de rua, o funk, o Miami. Também indico o Di Souza, daqui da minha terra, escutem ‘O Aluguel Venceu’”, afirmou. Léo afirma ouvir ainda os rappers Don L e Djonga.

O candidato diz que, por conta da campanha, não tem encontrado tempo para ir ao cinema e ao teatro. “Pude assistir de casa a vários filmes que estão exibidos na Mostra LONA, uma iniciativa fantástica do movimento MLB [Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas]. Impossível não se emocionar com o ‘Filme de Luta’, que inclusive tenho a felicidade de ter participado. O tempo que me resta em casa, tenho assistido filmes infantis com o meu filho Pedro”, diz.

Ele também indica a roda de samba organizada pelo @quilombodosamba. “E outro cabuloso que adoro escutar é meu grande mestre, Maurício Tizumba”, afirma.

Padre Kelmon (PTB)

O candidato não respondeu até o momento da publicação.

Sofia Manzano (PCB)

A candidata não respondeu até o momento da publicação.

Soraya Thronicke (União Brasil)

A senadora listou nove livros entre seus favoritos: “Lutar Contra a Pobreza” (2022, Ed. Zahar), de Esther Duflo; “Ame Seus Inimigos: Como as pessoas decentes podem salvar a civilização da cultura do desprezo” (2022, LVM Editora), de Arthur C. Brooks; “O Ego é Seu Inimigo: Como Dominar Seu Pior Adversário” (2017, Ed. Intrínseca), de Ryan Holiday; “Como as Democracias Morrem” (2018, Ed. Zahar), de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt; “Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições” (2019, Ed. Vestígio), de Giuliano da Empoli; “O Poder do Agora” (2004, Ed. Sextante), de Eckhart Tolle; “Mini-Hábitos” (2019, Ed. Objetiva), de Stephen Guise; e “Economia Donut: Uma alternativa ao crescimento a qualquer custo” (2019, Ed. Zahar), de Kate Raworth.

Ela também afirmou que, por causa da campanha, não tem conseguido acompanhar suas séries preferidas. A candidata do União Brasil citou quatro obras: “Borgen” (2010, Netflix); “The Crown” (2016, Netflix); House of Cards” (2013, Netflix); e “Game of Thrones” (2011, HBO Max).

Por fim, Soraya também listou dois filmes que estão entre suas obras preferidas: “King Richard: Criando Campeãs” (2021), de Reinaldo Marcus Green, e “Eduardo e Mônica” (2020), de René Sampaio.

Fotos – As fotos dos presidenciáveis nas urnas em 2022