Governo vê quatro ou cinco emergentes, incluindo Brasil, como potenciais facilitadores da paz
O chefe da assessoria especial da Presidência da República, Celso Amorim, esteve em Moscou na semana passada e conversou por uma hora com o presidente Vladimir Putin
O chefe da assessoria especial da Presidência da República, Celso Amorim, acredita que um grupo de quatro ou cinco países emergentes — incluindo o Brasil — poderá atuar como facilitador do diálogo para um processo de paz entre Rússia e Ucrânia.
Ele também vê os chineses e, possivelmente, potências ocidentais como eventual parte do grupo. “É difícil imaginar que entre a China e não um europeu, ou até mesmo os Estados Unidos”, disse Amorim à CNN.
O ex-chanceler brasileiro esteve em Moscou na semana passada e conversou por uma hora com o presidente Vladimir Putin. No encontro, relatou ao líder russo o interesse de Lula em colaborar com esse processo.
“No nosso caso, a ênfase é ter outros países que não estão tão envolvidos militarmente — e nem emotivamente — no conflito”, afirmou.
Como potenciais candidatos à facilitação do diálogo — Amorim evita usar o termo “mediação” — ele cita a troika do G-20: Índia (presidente rotativa do grupo em 2023), Brasil (2024) e África do Sul (2025). Menciona ainda a Indonésia (presidente em 2021) e a Turquia.
Para o assessor presidencial, a primeira decisão tem que ser a de estabelecer conversas. “Até para haver cessação de hostilidades precisa haver alguma negociação”, afirmou.
Uma das dúvidas, por exemplo, seria o ponto de congelamento das tropas. Quais seriam bases? A posição atual? A posição de fevereiro de 2022 (quando começou a guerra)? A 50 ou 100 quilômetros de onde estão as atuais ocupações? “A primeira decisão tem que ser negociar”.
Depois de um encontro com Putin, na quinta-feira passada (29), Amorim seguiu para a França. “Você ajudará a recolher o lixo de Paris?”, perguntou-lhe, em tom de brincadeira, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
A coleta de resíduos, bem como uma série de outros serviços públicos na capital francesa, foi afetada por causa da greve de trabalhadores em protesto contra a tentativa do governo de fazer uma reforma da previdência social.
Em Paris, Amorim reuniu-se com Emmanuel Bonne, principal conselheiro diplomático do presidente Emmanuel Macron. O encontro ocorreu na embaixada do Brasil.
“Não senti uma atitude de recusa dos franceses, de que é perda de tempo [a tentativa de facilitar o diálogo]. Não vou dizer que concordaram, mas nos ouviram e agradeceram pela transparência”, disse Amorim.
No dia 13, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitará o líder chinês Xi Jinping, em Pequim. Xi esteve com Putin na semana retrasada e divulgou, em fevereiro, um conjunto de 12 pontos para a paz na Ucrânia. A proposta foi recebida com ceticismo — e até críticas — no Ocidente.