Governo freia venda da Avibras para chineses e busca “pool” de empresas nacionais
Avaliação inicial, entre militares, era que desnacionalizar a Avibras seria um "problema menor" quando ela recebeu proposta de compra da australiana DefendTex.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não quer que a Avibras vá parar nas mãos da chinesa Norinco e mobilizou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para buscar uma empresa brasileira — ou um “pool” de empresas — para assumir suas operações.
A avaliação inicial, entre militares, era que desnacionalizar a Avibras seria um “problema menor” quando ela recebeu proposta de compra da australiana DefendTex.
Essas negociações, porém, não evoluíram e a Norinco tomou a dianteira nas tratativas. Lula entrou pessoalmente nas discussões. Nesta semana, o BNDES conduzirá conversas com potenciais interessados e estuda uma forma de financiar a aquisição da Avibras por um grupo ou um consórcio brasileiro, segundo relatos feitos à CNN por auxiliares diretos do presidente.
O que é a Avibras?
Fundada em 1961 por um grupo de engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Avibras tornou-se um dos principais símbolos da indústria de defesa brasileira. Ela tem sede em Jacareí (SP) e foi uma das pioneiras no país de equipamentos bélicos de ponta, como mísseis e lançadores de foguetes.
Hoje a empresa é controlada e presidida por João Brasil Carvalho Leite, filho de um dos fundadores, e está em recuperação judicial. Suas dívidas ultrapassam R$ 600 milhões e há um acúmulo de problemas trabalhistas.
Projeto estratégico
É consenso, na cúpula do Exército, que a situação não pode continuar como está. O ponto alto da parceria da força terrestre com a Avibras gira em torno do projeto estratégico Astros.
O Astros tem como objetivo dotar a força com um sistema de foguetes de artilharia com longo alcance e elevada precisão. A maior pendência do projeto é a entrega do míssil tático de cruzeiro AV-MTC, que permitiria à artilharia do Exército atingir um alvo a 300 quilômetros de distância com erro de no máximo nove metros.
Apenas 11 países detêm essa capacidade atualmente. No caso do Brasil, faltam quatro testes — o que poderia ocorrer em um horizonte de dois anos — para a certificação do produto.
Tão importante quanto caças
Na avaliação reservada de altos oficiais ouvidos pela CNN, trata-se de um equipamento tão importante para o poder dissuasório do Exército quanto os novos caças Gripen para a Força Aérea Brasileira (FAB) ou o futuro submarino nuclear para a Marinha.
É a mesma categoria dos mísseis Tomahawk americanos, largamente usados na Guerra do Iraque e em bombardeios na Síria. Eles são guiados por GPS e, pela alta precisão, causam danos colaterais mínimos.
Por isso, os militares consideravam que o pior cenário é a permanência da situação pré-falimentar da Avibras e viam a possibilidade de compra pela DefendTex como um “mal menor”.
A perspectiva, no entanto, mudou com o fim da tratativas com a empresa australiana e o forte interesse da Norinco.
No governo, a percepção é de que o projeto dos chineses para a Norinco é mais abrangente e pode significar uma mudança significativa para o futuro da empresa.
Há dois riscos identificados pelo governo e pelos militares:
- Os Estados Unidos podem vetar a integração de equipamentos e sistemas incorporados pela Avibras, pelo simples fato de que ela teria controle chinês.
- O Brasil enfrentaria dificuldades, em um segundo momento, para vender o míssil AV-MTC ou outros produtos da Avibras para países-membros da Otan e parceiros ocidentais em geral.
Diante dessas constatações, o BNDES foi mobilizado pelo Palácio do Planalto para encontrar potenciais sócios da Avibras no próprio Brasil. Como se trata de um grupo reduzido de candidatos, a tarefa tem sido bastante desafiadora, conforme relatam assessores presidenciais.
Um auxiliar, questionado pela CNN se o fato de a Avibras ser uma Empresa Estratégica de Defesa (EED) acarretaria um veto do governo à sua aquisição pela Norinco, respondeu sucintamente: “Vamos pelo convencimento”.
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