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    Governo federal muda política e pretende ampliar representações no exterior

    Sob gestão de Carlos Alberto França, Itamaraty espera criar embaixada no Bahrein, ampliar a equipe na China, enviar nova delegação para União Africana e abrir consulados na França e nos EUA

    Depois de 5 anos em contração, Itamaraty planeja expandir representações do país no exterior em 2022
    Depois de 5 anos em contração, Itamaraty planeja expandir representações do país no exterior em 2022 Marcello Casal Jr - 17.abr.2020/Agência Brasil

    Felipe Frazão, do Estadão Conteúdo

    Depois de cinco anos em contração, o Ministério das Relações Exteriores planeja expandir seu serviço em 2022, com abertura da primeira embaixada pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e cinco novos consulados.

    A proposta expansionista inverte a lógica de redução de postos diplomáticos desde o governo Michel Temer, atende a demandas da comunidade brasileira na Europa e nos Estados Unidos, e de exportadores interessados nos mercados do Oriente Médio e da China.

    A menina dos olhos do projeto é a instalação de uma embaixada em Manama, no Bahrein, no Golfo Pérsico. Segundo fontes diplomáticas, o Itamaraty quer ampliar a equipe em Pequim, na China, com a possibilidade de um novo consulado no país, em outra cidade.

    Também estuda enviar uma nova delegação para representar o Brasil na União Africana, em Adis-Abeba, na Etiópia, abrir um consulado em Marselha, na França, e outro nos Estados Unidos – a cidade mais provável é Seattle, mas há também discussão sobre Portland.

    Para concretizar a expansão diplomática, o chanceler Carlos Alberto França ainda depende da confirmação do reforço no orçamento prometido à pasta, que precisa ser votado no Congresso. Em fase de planejamento, o aumento principalmente de consulados virá acompanhado do fechamento de pelo menos mais uma embaixada de pequeno porte, para compensar o investimento inicial e custeio.

    O ministro das Relações Exteriores afirmou que conseguiu com Bolsonaro mais R$ 400 milhões para 2022, tendo, ao todo, R$ 4,3 bilhões para o exercício. Será um reforço de 27% no orçamento em comparação com a estimativa atual.

    Segundo autoridades a par das finanças, mais de 80% das despesas do Itamaraty são pagas em moedas estrangeiras, e a desvalorização do real reduziu a disponibilidade de dinheiro nos últimos anos. O projeto de lei orçamentária indica que R$ 1,1 bilhão será investido no funcionamento das representações nacionais no exterior e outros R$ 68 milhões nos serviços consulares.

    Carlos França pretende fazer remanejamentos de pessoal para preencher os novos postos. Ele quer melhorar a assistência aos brasileiros no exterior, por isso a revisão na rede de postos consulares na Ásia e nos EUA. A embaixada brasileira no Bahrein foi prometida por Bolsonaro, que autorizou os xeques a abrirem uma representação em Brasília. Atualmente, a embaixada brasileira no Kuwait representa cumulativamente os interesses nacionais no Bahrein.

    “Estamos em preparação para uma pequena expansão da rede consular. Os contornos ainda não estão finalizados, precisamos ver o que cabe no orçamento. Estamos fechando uma embaixada, o que, de certa forma, compensa”, disse o embaixador Achilles Zaluar, chefe de gabinete do ministro.

    Sob gestão de Carlos Alberto França, Itamaraty inverte lógica de redução de postos diplomáticos
    Sob gestão de Carlos Alberto França, Itamaraty inverte lógica de redução de postos diplomáticos / Foto: Ministério das Relações Exteriores/Divulgação

    “A gente demonstrou a importância do atendimento à comunidade brasileira no exterior durante a crise da Covid-19. Quem teve de negociar a assistência, a saída das pessoas e os voos foi nosso pessoal dos consulados, isso tem que ser fortalecido.”

    Um dos principais objetivos de Bolsonaro no mundo árabe é atrair investidores para projetos de infraestrutura no Brasil. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai capacitar diplomatas na busca por investimentos estrangeiros, e cerca de 15 embaixadas devem passar a ter os novos setores de “atração de investimento direto”, assim como existem atualmente equipes diplomáticas dedicadas a temas políticos, econômicos, culturais e de ciência e tecnologia.

    Apoio ao agronegócio

    Além de buscar investimentos, a expansão de mercados consumidores também voltou a ser cobrada por agentes do agronegócio, que desejam mais empenho dos diplomatas.

    Embora o setor viva um momento de bonança, esse é um trabalho que deixou a desejar no governo Bolsonaro até este ano, avaliou o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. “Precisamos de mais atuação diplomática de resultados, precisamos buscar mercados e conservar os atuais, como a China”, afirmou.

    “A Tereza Cristina (ministra da Agricultura) trabalha muito isso, mas o Itamaraty só agora com o chanceler Carlos França desempenha esse processo”, ressaltou. “O acordo do Mercosul com a União Europeia (UE) tem três anos e não saiu do papel até hoje.”

    Ao lado do chanceler numa cerimônia pública na Sala Brasília, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acusou o Itamaraty de permitir nos últimos 30 anos um fechamento da economia brasileira e reclamou da redução dos fluxos comerciais. “Isso é uma falha de todos nós”, disse Guedes, cobrando também o Ministério da Economia, que tem hoje sob sua responsabilidade o comércio exterior.

    Ele apontou ainda como focos de atuação econômica o Oriente Médio e a Ásia, e sugeriu mais dedicação ao estreitamento de relações e trocas comerciais com a Índia. Guedes afirmou que a região da Eurásia (os continentes da Europa e da Ásia) pode se converter num hub para o desenvolvimento nacional. “Estamos voltando ao caminho das Índias orientais.”

    O novo consulado na China deve ser aberto em Chengdu, na província de Sichuan, no sudoeste, a 1.800 quilômetros de distância de Pequim. Com 16,5 milhões de habitantes, a cidade é um polo de inovação científica e tecnológica. O posto será o quarto consulado do Itamaraty no país asiático. O Brasil conta com representações em Xangai, Hong Kong e Cantão, além da embaixada na capital e um escritório em Taiwan.

    Transferência da embaixada em Israel

    Além dos novos postos, o Itamaraty não arquivou por completo um projeto polêmico do presidente Bolsonaro. Embaixadores ouvidos pela reportagem afirmam que a pasta segue estudando o caso da transferência da embaixada brasileira em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém, uma promessa de campanha não cumprida pelo presidente, depois do protestos de países árabes, em 2018.

    Atualmente, o Itamaraty tem 218 postos diplomáticos no exterior, entre missões, embaixadas, consulados, escritórios e delegações em organismos internacionais. O ápice foram 228 no governo Dilma Rousseff, em 2012.

    A gestão do ex-chanceler Ernesto Araújo, marcada pela adoção de posições ideológicas conservadoras, extinguiu sete no ano passado. Todos eram postos de categoria C e D, menos cobiçados, em países do Caribe e da África, regiões que estavam no foco durante os governos do PT, com a chamada política Sul-Sul e os objetivos de maior penetração geopolítica do país na ocasião.

    Bolsonaro também desativou as representações diplomáticas e consulares na Venezuela, retirando o pessoal nos primeiros meses da pandemia da Covid-19. O corte se deu por razões políticas, já que o Planalto não reconhece o presidente Nicolás Maduro e pede novas eleições sem a participação dos líderes ligados ao seu governo. Já na África e no Caribe a justificativa foi o corte de despesas.