Governadores apontam gestos políticos de Bolsonaro em discurso sobre máscaras
Para Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, presidente quer retaliar ministro Marcelo Queiroga; Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, vê aceno a base eleitoral
Entrevistados pela CNN nesta sexta-feira (11), os governadores do Maranhão, Flávio Dino, (PCdoB), e do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), afirmaram enxergar razões políticas não explicitadas da parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quando este discursou para que o uso de máscaras seja flexibilizado no país.
Os dois governadores, de partidos de oposição ao presidente, fizeram, no entanto, interpretações distintas do discurso. Para Flávio Dino, a proposta levantada por Bolsonaro foi uma “retaliação” ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que na terça-feira (8) foi à CPI da Pandemia e defendeu o uso de máscaras, além de ter dito não acreditar no uso amplo dos medicamentos do chamado “tratamento precoce”.
Renato Casagrande, no entanto, não vê a atitude de Bolsonaro como pressão a Queiroga. Para o governador do Espírito Santo, o ministro está tendo “bom jogo de cintura” e atendendo ao papel esperado a ele na estratégia do presidente. “Ele alimenta essa base, depois vem o ministro e faz o conserto”, avaliou.
Na quinta-feira (10), o presidente afirmou que as máscaras só deveriam ser utilizadas por pessoas sabidamente infectadas pelo novo coronavírus, e falou de um estudo pedido ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que pudesse liberar pessoas vacinadas e curadas da Covid-19 do uso da proteção.
Bolsonaro está retaliando Queiroga, diz Dino
Para o governador do Maranhão, a fala de Bolsonaro foi uma retaliação a Queiroga, que em seus depoimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia defendeu o uso de máscaras e o isolamento social, iniciativas frequentemente criticadas por Bolsonaro, além de afirmar que não acredita no chamado “tratamento precoce”, com uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, estratégia defendida e propagandeada pelo presidente.
“O Bolsonaro não consegue conviver com qualquer pessoa que minimamente discorde dele. O ministro foi à CPI e não pôde, obviamente, defender certos absurdos”, disse Flávio Dino, para quem o presidente tem depreciado o ministro quando se refere publicamente a ele como “esse tal Queiroga”, como fez na quinta-feira.
Segundo Dino, a demanda de Bolsonaro pela liberação do uso de máscaras “é impossível de ser atendida” e não seria assinada por nenhum médico do Brasil no atual momento. “Eu acredito que, infelizmente, foi uma retaliação do presidente da República contra seu ministro, e isso é muito negativo nesse momento tão delicado que o Brasil atravessa”.
Desde a fala de Bolsonaro, Queiroga disse que o estudo será feito, mas condicionou a flexibilização do uso de máscaras ao avanço da vacinação contra a Covid-19, sem especificar, no entanto, qual seria a cobertura vacinal necessária para que tal medida pudesse ser implementada. Atualmente, o Brasil tem pouco mais de 11% de sua população adulta completamente imunizada, isto é, que já recebeu as duas doses das vacinas.
Presidente faz novo aceno a seus eleitores, avalia Casagrande
O governador do Espírito Santo, contudo, disse ver na atitude de Bolsonaro um aceno à sua base política, formada por pessoas que “desconsideram a ciência” e que “tem identidade com essa ruptura institucional” supostamente promovidas pelo presidente.
“Ele alimenta essa base, depois vem o ministro e faz o conserto”, avaliou Casagrande, que também discorda da proposta do presidente. Para o político, as máscaras só poderão ser abandonadas quando “tiver a população imunizada efetivamente e sem capacidade de transmitir”.
Casagrande disse que o ministro da Saúde vem mostrando “flexibilidade” para lidar com o presidente, mas não descartou um eventual desentendimento entre o ministro e Bolsonaro no futuro. Esse conflito, no entanto, ainda não teria acontecido.
“O ministro Queiroga tem bom jogo de cintura, mas isso [desentendimento com o presidente] não pode ser descartado no futuro”.