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    G. Dias foi alertado 5 vezes sobre risco de invasão aos Poderes, revelam mensagens

    CNN teve acesso a mensagens de alertas enviadas para o celular do general Gonçalves Dias; ex-diretor-adjunto da Abin o alertou 5 vezes, entre 6 e 8 de janeiro, sobre risco de invasões a prédios públicos na Esplanada dos Ministérios por pessoas armadas

    Leandro Magalhãesda CNN*

    São Paulo

    A CNN teve acesso a mensagens trocadas pelo então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência Gonçalves Dias e o ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura Cunha em 8 de janeiro e nos dias que antecederam os ataques às sedes dos Três Poderes da República naquele dia.

    • 6 de janeiro – 8h12

    No dia 6 de janeiro, às 8h12, o ainda ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Marco Edson Gonçalves Dias (o G. Dias), encaminhou ao então diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, uma mensagem postada em grupos bolsonaristas que alertava os manifestantes a fechar a entrada de acesso à Praça dos Três Poderes, em Brasília.

    “Fechar a entrada dos 3 poderes em Brasília: Executivo, Legislativo e Judiciário (quem puder ir a Brasília, vá!)”, diz um trecho do texto compartilhado com Saulo Cunha via WhatsApp.

    • 6 de janeiro – 8h15

    Às 8h15, o ex-diretor da Abin responde ao general G. Dias afirmando que está acompanhando a situação, mas que não havia nada que indicasse movimentação para Brasília.

    Em seguida, Saulo Cunha diz que as movimentações são “bravatas”.

    • 6 de janeiro – 20h22:

    1º aviso a G. Dias

    Às 20h22 do mesmo 6 de janeiro de 2023, o ex-diretor da Abin volta atrás e encaminha outra mensagem para o general Gonçalves Dias com o título: “PERSPECTIVA DE MANIFESTAÇÃO EM BRASÍLIA”.

    Essa mensagem alertava que nos dias 7, 8 e 9 de janeiro de 2023 haveria risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades e que organizadores convocavam manifestantes com acesso a armas.

    A mensagem alertava ainda que havia a intenção de invadir o Congresso e que outros edifícios poderiam ser alvo de ações violentas.

    Esse foi o primeiro informe da Abin, alertando para o risco de invasão aos prédios.

    “PERSPECTIVA DE MANIFESTACÕES EM BRASÍLIA. 06/01/2023 – 19h40. A perspectiva de adesões às manifestações contra o resultado da eleição convocadas para Brasília para os dias 7, 8 e 9 jan. 2023 permanece baixa. Contudo, há risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades. Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios na Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo de ações violentas”, diz a mensagem.

    • 7 de janeiro – 11h22:

    2º aviso a G. Dias

    No dia seguinte, 7 de janeiro, às 11h22, Saulo Cunha volta a alertar Gonçalves Dias com outra mensagem, com o título: “MANIFESTACÕES CONTRA O RESULTADO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS”.

    A mensagem alerta para a chegada de 18 ônibus de outros estados para participar de manifestações e pela segunda vez afirma que há convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos.

    “MANIFESTACÕES CONTRA O RESULTADO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS”. 07/01/2023 – 10h30. Em Brasília, há registro de chegada no QG do Exército de 18 ônibus de outros estados para participar de manifestações. Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios. Desde a madrugada de hoje caminhões tanque que transportam combustível não acessam a distribuidora de combustíveis anexa à refinaria (REVAP) de São José dos Campos-SP. Há presença de manifestantes auto intitulados ‘patriotas’ no local. Outros tipos de caminhões que transportam tipos de produtos distintos de combustíveis, assim como carros utilitários, ônibus e outros veículos estão acessando normalmente”, relata a mensagem.

    • 7 de janeiro – 12h11:

    3º aviso a G. Dias

    Às 12h11 do dia 7 de janeiro de 2023, a Abin alerta o general Gonçalves Dias para o aumento no número de ônibus em Brasília.

    Pela terceira vez, ele fala sobre convocações para ações violentas de ocupações de prédios públicos.

    • 7 de janeiro – 18h28:

    4º aviso a G. Dias

    Às 18h28 do dia 07 de janeiro de 2023, a Abin alerta sobre a presença de ônibus em Brasília, cita uma mobilização denominada “Tomada de poder” prevista para ocorrer nos dias 07 e 08 de janeiro de 2023.

    Faz ainda, pela quarta vez, o alerta sobre ocupações de prédios públicos.

    Em outra mensagem, no mesmo horário, o então diretor da Abin cita que “em rede social, divulgou-se a intenção de descida à Esplanada dos Ministérios hoje à noite”. Ou seja, noite do dia 7 de janeiro.

    • 8 de janeiro – 08h53:

    5º aviso a G. Dias

    Chegamos ao 8 de janeiro de 2023, data da invasão às sedes dos Três Poderes.

    Às 8h53, a Abin encaminha para o general G. Dias placas de 99 ônibus que chegaram à área central de Brasília até meia-noite.

    Às 8h56, Gonçalves Dias responde ao ex-diretor da Abin, Saulo Cunha, afirmando: “Bom dia.. Vamos ter problemas”.

    Às 8h58, a Abin faz o alerta que os manifestantes iriam partir em marcha para a Esplanada às 13h.

    • 8 de janeiro – 10h33

    Às 10h33, a Abin novamente faz o quinto alerta sobre convocações e incitações para deslocamento até a Esplanada dos Ministérios, ocupações de prédios públicos e ações violentas.

    • 8 de janeiro – 12h05

    Às 12h05, o ex-diretor-adjunto da Abin Saulo Cunha alerta pela segunda vez o ex-ministro Gonçalves que os manifestantes devem iniciar o deslocamento para a Esplanada às 13h. Ele cita que houve relatos de pessoas armadas.

    “Pessoal do QG deve iniciar deslocamento, às 13h, para a Esplanada. Ânimo pacífico entre a maioria mas houve relatos de pessoas que se dizem armadas. Em monitoramento”, afirma Paulo Cunha em mensagem.

    • 8 de janeiro – 14h30

    Pouco depois das 14h, os manifestantes invadiram a Esplanada dos Ministérios e, minutos depois, entraram e depredaram as sedes dos Três Poderes: os palácios do Congresso Nacional (Legislativo), do Supremo Tribunal Federal (Judiciário) e do Palácio do Planalto (Executivo).

    VÍDEO – Entenda as imagens do 8 de janeiro que levaram à demissão de Gonçalves Dias

    Outro lado

    À CNN, o advogado de G. Dias, André Luís Callegari, afirmou, no dia 1º de agosto, que os alertas recebidos por Gonçalves Dias em seu celular no dia 8 de janeiro eram “mensagens pessoais” trocadas com Saulo Cunha.

    “Tudo o que o general Gonçalves Dias tem a falar sobre o tema 8 de janeiro foi dito no depoimento prestado à CLDF [Câmara Legislativa do Distrito Federal]. Aliás, o ex-diretor-adjunto da Abin Saulo Cunha reafirmou, hoje, o depoimento de Gonçalves Dias à Câmara Legislativa do Distrito Federal em todos os pontos”, afirmou Callegari à CNN. “Eram mensagens pessoais trocadas entre Saulo Cunha e Gonçalves Dias”.

    A CNN procurou o ex-ministro Gonçalves Dias por telefone e por mensagens e aguarda retorno sobre a troca de mensagens e os avisos reiterados sobre os potenciais ataques.

    O ex-diretor-adjunto da Abin Saulo Moura da Cunha disse, por telefone, que não iria comentar o assunto.

    Imagens da CNN, demissão e CPMI

    G. Dias foi demitido da chefia do GSI pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 19 de abril após a CNN divulgar, em primeira mão, vídeos gravados por câmeras de segurança em que ele aparece dentro do Palácio do Planalto interagindo com alguns dos invasores da sede do Executivo.

    A repercussão dos acontecimentos mobilizou o Congresso Nacional a abrir uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) formada por deputados e senadores e instalada em abril.

    A Comissão quebrou o sigilo de G. Dias, que não não depôs na CPMI do Congresso, mas sim na CPI aberta pela Câmara do Distrito Federal.

    Já Saulo Cunha prestou depoimento à CPMI em 1º de agosto. Ele apontou que G. Dias sabia do risco dos ataques. O ex-diretor-adjunto da Abin deixou o cargo em março deste ano.

    *Colaborou Nathan Lopes, da CNN