Fernando Molica: Na balança do primeiro turno, desistências pesam a favor de Lula
Saída de adversários nanicos aumentam a chances do petista



A nova onda de retirada de candidaturas à Presidência está diretamente relacionada à possibilidade de a eleição ser decidida no primeiro turno, como indicam as últimas pesquisas do Datafolha. Para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cada adversário a menos aumenta a chance de ele ser eleito já no dia 2 de outubro.
Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa superar a metade dos votos válidos (este critério exclui votos nulos ou em branco). Na prática — e de acordo com os resultados das pesquisas –, todos os outros postulantes ao Planalto jogam a favor de Jair Bolsonaro (PL), já que contribuem para tornar mais difícil a possibilidade de o petista conseguir 50% dos votos mais um.
Na disputa pela vitória imediata, o líder das pesquisas joga sozinho contra todos os outros, daí a importância de desfalcar o time adversário. É como uma balança — de um lado está o prato daquele que pode ganhar de cara; no outro, todos os demais. Lula, agora, tem que diminuir o peso do prato que reúne os seus adversários, qualquer grama pode fazer a diferença.
Um bom exemplo é o caso do deputado André Janones (Avante-MG), que deverá abrir mão de sua candidatura para apoiar Lula. O último Datafolha revelou que ele tinha 1% das intenções de voto — valiosos 1,5 milhão de votos. Segundo a pesquisa, 37% dos seus prováveis eleitores têm Lula como segunda opção de voto, enquanto 23% preferem Jair Bolsonaro (PL). Em tese, portanto, 550 mil de seus votos irão para o petista e 345 mil para o atual presidente.
Mas a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno faz com que a desistência de Janones lhe seja favorável no primeiro turno mesmo que a maioria dos declarados eleitores do deputado venha a votar em Bolsonaro. Digamos que o petista herde apenas 200 mil dos estimados 1,5 milhão de eleitores de Janones: esses 200 mil diminuirão o peso adversário na balança e levarão seus quilos para o prato do ex-presidente.
Hoje, importante ressaltar, todos os estimados 1,5 milhão de eleitores de Janones jogam contra a vitória de Lula no primeiro turno, pesam do outro lado da balança. Até eventuais janonistas radicais, que anularão seus votos diante da ausência de seu candidato favorito, jogarão a favor do petista. Neste caso, haverá uma diminuição dos votos válidos, o que significaria menos peso no lado da balança do todos-contra-Lula.
O que vale para Janones vale para Luciano Bivar, presidente do União Brasil e que saiu da disputa. Ele não declarou voto a Lula e nem deverá fazê-lo — haveria muita briga no seu partido em caso de apoio ao petista. Mas sua simples retirada do jogo ajuda a desequilibrar a balança para o lado do petista, torna mais leve o prato dos adversários.
Agora candidato à reeleição para deputado federal, negociador hábil, Bivar leva no bolso a indicação de que teria o apoio de Lula para disputar a presidência da Câmara. O que pesa lá, pesa cá.
O petista sabe que sequer vale a pena investir na retirada da candidatura de Ciro Gomes (PDT), isso só faria com que este aumentasse ainda mais os ataques ao ex-presidente. Neste caso, a estratégia é fazer com que o pedetista seja vítima do voto útil, uma espécie de emagrecimento forçado imposto por parte de seus eleitores que, às vésperas da eleição, transfeririam seus pesos para o prato lulista.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.