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    Eleições 2022

    Fernando Molica: a poucos dias da eleição, Bolsonaro é vítima do bolsonarismo

    Atitudes suas e de aliados comprometem o projeto de o presidente se apresentar de maneira mais pacífica

    Fernando Molicada CNN

    Nestes últimos dias de campanha, Jair Bolsonaro (PL) tem sido vítima do bolsonarismo que fundou e disseminou, tornou-se alvo de uma lógica política baseada na mesma radicalização que, em 2018, foi compatível com anseios da maioria dos eleitores e teve papel decisivo em sua eleição.

    No caso mais grave, o aliado Roberto Jefferson ofendeu a ministra Cármen Lúcia, disparou tiros e lançou granadas em policiais federais; outro bolsonarista, o deputado federal Bibo Nunes (PL-RS) declarou que universitários que protestaram contra o governo deveriam ser queimados vivos. Os estudantes são alunos da Universidade Federal de Santa Maria, cidade onde houve o incêndio da boate Kiss.

    Numa concessão aos princípios liberais que em 2018 garantiram ao então candidato do PSL o aval de boa parte da elite brasileira, o Ministério da Economia preparou um plano que prevê a desindexação de salários e aposentadorias. Publicado pela ‘Folha de S.Paulo’, o plano sincericida foi desmentido pelo governo, o que não impediu de ter sido transformado em tema de campanha.

    Os casos explodiram no momento em que, de olho nos votos dos indecisos, o presidente tentava, mais uma vez, encarnar uma versão amenizada de si mesmo, como demonstrado na entrevista que, pela ausência de Lula (PT), substituiu o debate promovido por diversos veículos, entre eles, a CNN.

    Bolsonaro, porém, demonstra sucumbir a si mesmo. Sua ida a Aparecida provocou uma confusão política jamais vista no Santuário. Ele só criticaria as declarações de Jefferson sobre a ministra do Supremo Tribunal Federal dois dias depois de as ofensas terem sido proferidas – e, mesmo assim, no rastro do ataque promovido pelo ex-deputado.

    Pouco depois dos disparos de Jefferson contra policiais, Bolsonaro publicou em redes sociais seu repúdio aos xingamentos e também ao que classificou de “ação armada” do aliado. No mesmo post, porém, ele dizia repudiar “a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP” – afirmação que coloca o ex-deputado na condição de vítima de uma injustiça.

    Só algumas horas depois é que, em nova postagem, e diante da repercussão do episódio, o presidente chamaria Jefferson de bandido e de criminoso.

    Penúltimo presidente do regime militar, o general Ernesto Geisel (1974-1979) chegou a se queixar do que classificou de “revolucionários sinceros, porém radicais”, militares oriundos dos porões da ditadura que se opunham à abertura política e que sabotavam a redemocratização que ele conduzia com mão de ferro.

    A poucos dias da eleição, Bolsonaro enfrenta o mesmo problema, com um agravante – ele é o principal responsável pelo processo de radicalização que ameaça impedir sua permanência no Palácio do Planalto. Mais: demonstra ser um ator limitado, que não consegue se livrar do personagem que construiu.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.

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