Falta de orientação levou país a 100 mil mortos em pandemia, diz Cármen Lúcia
Ministra do Supremo também apontou "falta de escrúpulo econômico"
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, afirmou, em live nesta terça-feira (11), que a falta de orientação segura e apoiada na ciência levou ao país a um “fim de semana de luto”, em referência à marca de 100 mil mortes causadas pelo novo coronavírus atingida no último sábado.
“Cem mil mortos não precisava ter acontecido, em que pese ser fato que este coronavírus é realmente uma doença grave e que acometeria muita gente. Mas foi uma atuação estatal, aliada a uma atuação em parte de uma sociedade perplexa, aturdida diante de tantos desmandos, de tanta falta de orientação segura seguindo-se a ciência e a medicina de evidências que nos levou a um fim de semana de luto. Portanto, luto que impõe luta permanente pela democracia”, disse a ministra.
“Essa pandemia está patenteando exatamente isso, tornando escancarado como a irresponsabilidade política junto com a falta de escrúpulo econômico, principalmente no espaço particular empresarial, junto com cidadãos que não pensam nos outros e não se comprometem com os outros, levaram a um fim de semana como esse que acabamos de ter, de uma sociedade enlutada por todos que tenham alguma sensibilidade”, afirmou.
Mais cedo, o ministro Gilmar Mendes, do STF, atribuiu o crescimento do número de mortes por covid-19 à falta de coordenação das políticas públicas voltadas ao enfrentamento da doença. Para ele, desde o início da pandemia o país assiste um ‘amontoado de desencontros’.
Leia e assista também
Brasil chega à marca de 100 mil mortes por Covid-19
Há crise de gestão ‘na cabeça’ do SUS, diz Gilmar Mendes
‘Transformação se impõe, não é mais uma opção’, diz ministra Cármen Lúcia
“Poderíamos ter tido maior êxito. Certamente se tivesse havido maior coordenação, teríamos muito menos mortes do que tivemos, aí já com esse número macabro de 100 mil mortes”, disse o ministro. Ele lembrou ainda o impacto da realidade sanitária e da desigualdade social do País no agravamento da crise.
Esta não é a primeira vez que o ministro critica a gestão da crise provocada pelo novo coronavírus. Mês passado, ele disse que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) cria ‘ônus’ às Forças Armadas ao tentar transferir a responsabilidade sobre a pandemia e que o Exército está se associando a um genocídio – em referência aos militares alocados no Ministério da Saúde. A pasta é comandada interinamente pelo general Eduardo Pazuello há quase três meses e conta com dezenas de oficiais das Forças Armadas nomeados.
Democracia
Cármen Lúcia foi acompanhada por Luis Roberto Barroso na transmissão, em que discutiram a democracia no país. “Estamos permanente a nos preocupar e buscar formas de defesa da democracia. Além disso, temos milícias digitais que que matam todas as formas de pensamento que não sejam coerentes om certos grupos. Temos desafios novos”, disse a ministra.
Barroso disse também que há três fenômenos contra a democracia atualmente e que as instituições precisam oferecer resistência. Segundo ele, entretanto, isso tem sido feito no Brasil. “O primeiro [fenômeno] é um populismo é a tentativa de desprestigiar as instituições com promessas com preços elevadíssimos. As redes sociais permitem essa comunicação. O segundo é um conservadorismo radical e intolerante. A democracia tem espaço para todos, ela não tem lugar para a intolerância e inaceitação do outro, do diferente. Não há problema em ser conversador, o problema é ser violento. E o terceiro é o pendor autoritário que tem caracterizado intolerância no mundo.”
(com Estadão Conteúdo)