Fabrício Queiroz é preso no interior de SP e transferido para o Rio de Janeiro
Ex-assessor de Flávio Bolsonaro é investigado em um esquema de 'rachadinhas' na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
O policial militar reformado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), foi preso em Atibaia, no interior de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (18) – veja as imagens do momento da prisão de Queiroz. Ele foi transferido para o Rio de Janeiro e, depois de passar pela cadeia de Benfica, na zona norte carioca, seguiu para o complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste.
Segundo o colunista da CNN Igor Gadelha, Queiroz estava em um imóvel de Frederick Wassef, advogado do senador. O ex-policial estava dormindo e se mostrou surpreso com a chegada dos agentes no imóvel em Atibaia – há informações de que ele morava no local há mais de um ano.
No local, foram apreendidos R$ 923,60 em espécie, dois aparelhos celulares, três chips de celular – sendo um deles anexo a um dos aparelhos –, alguns documentos e receitas médicas.
Paulo Emilio Catta Preta, o mesmo advogado que é responsável pelo caso do miliciano Adriano da Nobrega, foi contratado para defender Queiroz. Catta Preta disse à CNN que foi procurado pelo ex-assessor há cerca de 15 dias, mas os dois ainda não haviam chegado a um acordo. “Tive que antecipar a defesa dele hoje por conta da prisão”, comentou o advogado.
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Queiroz foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) na capital paulista para fazer exames antes de se dirigir à sede da Polícia Civil em São Paulo, de onde foi encaminhado para o Rio de Janeiro. Ele chegou à capital fluminense por volta das 12h10, passou por novo exame no IML, e foi levado ao presídio de Benfica, onde conversou com seu advogado. De lá, segue para o complexo penitenciário em Bangu.
A prisão faz parte de uma ação conjunta entre o Ministério Público do Rio de Janeiro e o Ministério Público de São Paulo, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) dos dois estados.
Fabrício Queiroz, de 55 anos, foi assessor e motorista de Flávio Bolsonaro até outubro de 2018, um mês antes do início da operação que apura esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), na qual é investigado.
Flávio se manifestou sobre a prisão de Queiroz em mensagem publicada em sua conta no Twitter. O senador disse ter recebido com tranquilidade a notícia e afirmou que “a verdade prevalecerá”.
“Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”, escreveu o senador.
A advogada Luciana Pires, que representa Flávio Bolsonaro em uma investigação que apura indícios de que ele cometeu os crimes de falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro, também se manifestou sobre a prisão de Queiroz.
“Curiosamente a operação de hoje [quinta-feira] foi deflagrada menos de uma semana depois de eu dizer que vou pedir a suspeição do juiz responsável pelo caso”, afirmou .
No inquérito sobre o esquema de corrupção na Alerj, o ex-subtenente da Polícia Militar é suspeito de cobrar a “rachadinha” – termo usado para apontar a prática de descontar salários de servidores – quando trabalhava no gabinete de Flávio Bolsonaro.
Na época, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou movimentação superior a R$ 1,2 milhão nas contas de Queiroz, amigo da família Bolsonaro. A filha dele trabalhava no gabinete do presidente quando este era deputado federal.
A Operação Anjo, realizada nesta quinta-feira, é um desdobramento da investigação sobre corrupção na Alerj.
Os agentes cumprem outras medidas cautelares, autorizadas pela Justiça, como busca e apreensão, afastamento da função pública, comparecimento mensal em Juízo e proibição de contato com testemunhas.
Outros alvos das ações de hoje são o servidor da Alerj Matheus Azeredo Coutinho, os ex-funcionários da casa legislativa Luiza Paes Souza e Alessandra Esteve Marins – atualmente, assessora parlamentar de Flávio Bolsonaro em Brasília – e o advogado Luis Gustavo Botto Maia.
O imóvel em que a polícia cumpriu o mandado de busca contra Alessandra fica no bairro de Bento Ribeiro, na zona norte do Rio de Janeiro.
Alessandra, no entanto, não moraria mais no local, já que teria se mudado para uma casa na Barra da Tijuca, na zona sul do Rio.
De acordo com informações do MP do Rio, juntas, Luiza e Alessandra teriam repassado cerca de R$ 170 mil para Queiroz no esquema da rachadinha. O MP identificou também que ao menos 13 ex-assessores de Flávio teriam repassado dinheiro para Queiroz.
Detalhes da prisão de Queiroz
Em entrevista à CNN, o delegado Nico Gonçalves, diretor do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope) da Polícia Civil de SP, afirmou que Queiroz não apresentou resistência no momento da prisão.
“Não estou armado, fiquem tranquilo, não vai ter resistência. Vou me entregar, vocês estão com mandado? Então vamos cumprir a lei”, disse Queiroz no momento da prisão, segundo o delegado.
O ex-militar permaneceu calado durante todo o trajeto de Atibaia até São Paulo e afirmou que não precisava da operação para prendê-lo, já que compareceria à Justiça se fosse convocado.
O delegado afirmou ainda que o imóvel em que Queiroz foi preso era grande, mas o ex-assessor de Flávio Bolsonaro estava em um pequeno quarto. O delegado afirmou que um casal de caseiros estava em uma edícula no local.
Gonçalves ressaltou que a polícia de São Paulo apenas cumpriu o mandado de prisão vindo do Rio de Janeiro e que todos os pertences e documentos serão encaminhados para o MP do Rio.
Queiroz foi alvo de um mandado de prisão preventiva. Ele será transferido para o Rio de Janeiro em um helicóptero da polícia que decolará do Aeroporto do Campo de Marte, na zona norte de São Paulo.
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Mulher foragida
A CNN confirmou com o MP do Rio de Janeiro que a mulher de Queiroz, Márcia de Oliveira Aguiar, também é alvo de um mandado de prisão e, como não foi encontrada no endereço associado a ela, passou a ser considerada foragida.
Márcia, segundo informações do MP, repassou 74,7% do salário para o marido no esquema da rachadinha de salários. Esse montante seria equivalente a R$ 1,1 milhão.
Ela era nomeada no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, mas para o MP Márcia era funcionária fantasma do político.
Laços com a família Bolsonaro
Fabrício José Carlos de Queiroz, de 55 anos, é ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro. Policial Militar aposentado, também foi motorista do senador, filho mais velho do presidente Bolsonaro.
Queiroz foi subtenente da PM, lotado no Batalhão Policial de Vias Especiais (BPVE). Como policial militar, se envolveu em 10 “autos de resistência”, isso é, morte de suspeitos.
Fabrício Queiroz e Jair Bolsonaro se tornam amigos nos anos 1980. Sua presença já foi registrada em jogos de futebol, saídas para pesca, atos de campanha e churrascos da família Bolsonaro.
A amizade já foi citada publicamente pelo próprio presidente durante uma entrevista. Na ocasião, ele disse que era amigo de Queiroz há muitos anos e que já o auxiliou com empréstimos algumas vezes. Segundo Bolsonaro, Queiroz devia R$ 40 mil.
Durante os anos 2000, o ex-policial trabalhou por mais de dez anos como segurança e motorista de Flávio, o filho mais velho do presidente. Ele recebia da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) um salário de R$ 8.517 e acumulava rendimentos mensais de R$ 12,6 mil da Polícia Militar.
Flávio Bolsonaro também empregou em seu gabinete mais duas pessoas ligadas a Queiroz. Além da mulher e de duas filhas, o ex-assessor indicou a enteada, Evelyn Mayara de Aguiar Gerbatim, e o ex-marido da atual mulher, Márcio da Silva Gerbatim, para trabalhar no gabinete.
Aos 21 anos, a enteada de Queiroz aparecia na folha de pagamento de outubro de 2018 da Alerj com um salário líquido de R$ 7.549,75 – valor idêntico ao que a filha Evelyn Melo de Queiroz recebia por seu trabalho no gabinete.
A outra filha de Queiroz, Nathália Melo de Queiroz, foi nomeada de setembro de 2007 a fevereiro de 2011 no gabinete da vice-liderança do PP, partido de Flávio à época, com salário bruto de R$ 6.490,35.
Queiroz foi exonerado do gabinete do então deputado estadual em 15 de outubro de 2018. O motivo oficial declarado era a necessidade de tratar de sua ida à reserva da PM.
(Com informações de Caio Junqueira)