Ex-secretário delator afirma que alertou Witzel sobre ‘corrupção escancarada’
Em depoimento, Edmar Santos disse que avisou o governador afastado Wilson Witzel "várias vezes" que o grupo estava "passando dos limites"
O ex-secretário de saúde do Rio de Janeiro Edmar Santos afirmou em depoimento nesta quarta-feira (7) que chegou a alertar o, agora afastado, governador Wilson Witzel, sobre as ações de um suposto grupo criminoso que estariam provocando uma “corrupção escancarada”.
Segundo Santos, um grupo liderado pelo então presidente do PSC, partido de Witzel, pastor Everaldo, começou a interferir nas decisões de destinação de verba da pasta que ele comandava. A acusação de Santos, que firmou delação premiada com o Ministério Público, é de que tudo começou com o direcionamento de Organizações Sociais para administrarem hospitais e unidades de saúde, depois o grupo teria passado a tentar ganhar dinheiro em cima de outros projetos na área da saúde e, por fim, veio a tentativa de direcionar a compra de medicamentos, próteses e órteses.
“Tinha a questão de direcionamento das OS para alguns hospitais. Todas elas, havia propina ou alguém passando para meia dúzia. Era coisa que não me envolvia. Tinha que pagar, que eles também operacionalizavam de uma forma automática. (…) Só que aí começavam a avançar em projetos de compra de medicamentos, com empresas de logística, consultorias, órteses e próteses. Esse era processo”, disse Edmar no depoimento acompanhado pela CNN.
Edmar disse que alertou ao governador Wilson Witzel “várias vezes” que o grupo estava “passando dos limites”. Em sua fala na tarde desta quarta, o governador afastado disse que não interferia em licitações na saúde ou escolha de Organizações Sociais.
Preso em agosto de 2020, Pastor Everaldo alegou motivos pessoais para se manter em silêncio durante depoimento no Tribunal Misto. Ele disse que apenas se defenderia no âmbito do STJ, onde corre um processo contra ele por irregularidades nas compras do governo fluminense na área da saúde.
Depoimento
Afastado do cargo de governador do Rio de Janeiro desde o meio do ano passado, Wilson Witzel (PSC) começou seu depoimento no julgamento do processo de impeachment dele chorando. “São 35 anos de vida pública. É muito cruel o que estão fazendo com a minha família, com a minha esposa”.
Ao grupo de deputados e desembargadores que vai decidir o destino do governador, Witzel se lamentou por não conseguir fazer reuniões e fiscalizar contratos, por falta de tempo.
A fala do governador afastado sucedeu uma série de interrogatórios com testemunhas do processo, incluindo o delator Edmar Santos.
Em seu depoimento, Edmar foi interrompido pelos advogados de Witzel e pelo próprio governador em vários momentos, mas sustentou as acusações contra o ex-chefe. Disse que ele ajudou a direcionar contratos de administração de unidades de saúde para Organizações Sociais e que tinha despesas pessoais pagas pelo grupo criminoso, o que Witzel nega.
Antes de depor, Wilson Witzel quis se defender com uma fala inicial, o que foi aceito pelo presidente do Tribunal de Justiça. Na sequência, ele será inquirido por deputados e desembargadores do tribunal misto. Após o interrogatório do governador afastado, a última fala do processo, defesa e acusação terão tempo para preparar suas alegações finais.
Witzel foi afastado inicialmente em agosto de 2020, por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O ex-juiz teve o afastamento reafirmado em fevereiro, quando se tornou réu no processo de impeachment. Desde o primeiro afastamento, o governador interino é Cláudio Castro (PSC), ex-vereador e vice-governador eleito em 2018.