EUA confiam no sistema eleitoral brasileiro, diz subsecretária de assuntos políticos de Biden
Victoria Nuland concedeu entrevista exclusiva à CNN e disse que o Brasil tem um dos sistemas eleitorais mais confiáveis e transparentes do Hemisfério Sul
A subsecretária de estado do governo norte-americano para assuntos políticos, Victoria Nuland disse, em entrevista exclusiva à CNN nesta segunda-feira (25), que os Estados Unidos tem “têm confiança real” no sistema eleitoral brasileiro.
Nuland veio ao Brasil acompanhada do subsecretário de Crescimento Econômico, Energia e Meio-Ambiente, José Fernández, para um encontro de alto nível com representantes do Itamaraty.
De acordo com um comunicado da Casa Branca, alguns dos objetivos das discussões são fortalecer temas como governança democrática, justiça racial e respeito pelos direitos humanos, além também de incentivar o comércio, saúde e segurança.
A secretária afirmou que as eleições brasileiras fizeram parte das conversas. De acordo com Nuland, o Brasil tem um dos sistemas eleitorais mais confiáveis e transparentes do Hemisfério Sul.
“Todos os brasileiros devem confiar nos sistemas e participar. Isso é o mais importante. E os líderes brasileiros precisam expressar essa mesma confiança nos sistemas”, disse.
A discussão acontece um dia após o ministro do STF Luís Roberto Barroso ter dito que as Forças Armadas tentam “descreditar” e “estão sendo orientadas a atacar o processo eleitoral brasileiro”.
Durante a participação em um seminário sobre o Brasil promovido pela Universidade Hertie School, de Berlim, na Alemanha, o ex-presidente do TSE disse ainda que os ataques ao sistema são “totalmente infundados e fraudulentos”.
A lisura do sistema atual de urnas eletrônicas têm sido alvo constante do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de sua base eleitoral. Nesta segunda-feira (25), durante abertura da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), em Ribeirão Preto (SP), Bolsonaro falou que “nenhum parlamentar de esquerda tem dúvidas sobre urnas eletrônicas, todos confiam 100%, é impressionante. Por nosso lado, tem gente que confia também, principalmente depois de um aperto por parte do presidente ou líder do partido”.
Em coletiva de imprensa, após ter se reunido com o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, a secretária falou que os Estados Unidos confiam nas instituições democráticas brasileiras. “Vocês têm um histórico muito bom de eleições justas e transparentes. Temos confiança nas instituições, esperamos que os brasileiros também tenham confiança nas instituições, e que o voto seja livre, justo e com ampla participação popular”.
Rússia x Ucrânia
Nuland é uma das principais negociadoras dos Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia. Questionada pela CNN sobre a chamada posição neutra do Brasil em relação a guerra e falta de sanções aos russos por parte do governo de Bolsonaro, a secretária destacou que, como membro do Conselho de Segurança e da Assembleia-Geral da ONU, a defesa brasileira pelo países que condenam a agressão russa, faz uma “diferença imensa” nas relações Brasil e EUA e deve servir de exemplo para outros países do hemisfério-sul. Ela também enalteceu o Brasil por receber refugiados ucranianos.
A secretária afirmou que a Rússia, um dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, desafia os princípios da organização. De acordo com Nuland, o país comandado por Putin “viola diariamente a soberania, o território e a integridade do vizinho”.
Produção de equipamentos de segurança
Os Estados Unidos têm fornecido armas e treinamento para o exército ucraniano. No último domingo (24), os secretários de Estado, Anthony Blinken e da Defesa, Loyd Austin viajaram a Kiev, capital ucraniana, onde se encontraram com o presidente Volodymyr Zelensky. “Ao passo em que a batalha muda, temos tentado providenciar os sistemas que eles precisam para se defender”, disse Nuland.
A produção de equipamentos de segurança de proporções menores pode ser um potencial mercado no Brasil, de acordo com a secretária. “Quando esta guerra terminar, haverá países cujos estoques de armas precisarão ser reabastecidos (…) acho que podemos fazer mais juntos em termos de segurança exportadora, se o Brasil e os Estados Unidos realmente arregaçarem as mangas.
Fertilizantes
A guerra na Ucrânia tem dificultado o comércio mundial. O Brasil, por exemplo, importa mais de 80% dos fertilizantes necessários para manter a qualidade do solo. Um dos maiores fornecedores de insumos é a Rússia. Com a exclusão do país de rotas marítimas e o alto preço do gás, que afeta a produção, o valor dos insumos vem aumentando.
Nuland disse que os Estados Unidos são fortes na produção de alimentos e agricultura e estão estudando maneiras de contribuir para que o Brasil consiga fortalecer a produção fertilizantes.
“Temos um departamento de agricultura que virá para cá [Brasil], para entender como vocês usam fertilizantes e como a produção pode ser mais eficiente. Estamos tentando aumentar a produção, para ajudar vocês. O Canadá está fazendo o mesmo”.
O subsecretário para Crescimento Econômico, Energia, e Meio Ambiente, reforçou que as sanções dos Estados Unidos não afetam alimentos. “Há muita desinformação por aí, dizendo que nossas sanções estão afetando comida e segurança. Isto está incorreto”, disse.
Itamaraty
Por meio de nota, o Itamaraty informou que “a reunião ofereceu espaço privilegiado para o intercâmbio de opiniões e para acompanhamento dos diversos projetos prioritários para ambos os países. Além de avaliar o estágio de implementação das iniciativas já em curso, o Diálogo de Alto Nível identificou novas oportunidades de cooperação e ofereceu novo impulso político, com visão estratégica, ao conjunto da relação bilateral”.