Especial Eleições 2022 – PCDs ainda contam com baixa representatividade política
No último domingo, dos 492 candidatos com deficiência, apenas 8 foram eleitos
Nessa corrida eleitoral, as urnas eletrônicas esperavam receber mais de 1,2 milhão de PCDs, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após os votos para a escolha representativa, apenas 8 candidatos com deficiência foram eleitos.
A grande diferença entre o número de eleitores correspondente a essa minoria social e a quantidade de eleitos evidencia a falta de representatividade na política. Para Marco Pellegrini, consultor em acessibilidade e inclusão e ex-secretário nacional da pessoa com deficiência, é necessário que essa parcela da população conte com maior ocupação das cadeiras no Congresso para que seus direitos sejam assegurados.
“As pessoas que ocupam cargos, tanto no legislativo quanto no executivo, precisam ser pessoas com deficiência e que conheçam esse processo, que sejam capazes de sustentar as suas reivindicações”, afirmou em entrevista à CNN.
Apesar de urgente, a presença dessa parcela da população na política ainda é um desafio. Como explica Pellegrini, “o acesso ao processo eleitoral passa muito por hereditariedade, por gente que já está por renovação. Então, a história de ter a máquina na mão é muito importante e quem consegue se colocar enquanto de forma inédita, são pessoas que trilham um caminho muito mais difícil.”
Mas a busca por esse caminho que exige luta permeia a vida profissional de muitas pessoas com deficiência. As eleições deste ano contaram com 492 candidatos PCDs, sendo que o cargo com maior número deles foi o de deputado estadual, com 292 pessoas, seguido do de deputado federal, com 173. Além disso, em 2022 houve um marco histórico: uma pessoa com deficiência se candidatou à vice-presidência da república. Mara Gabrili concorreu ao cargo ao lado de Simone Tebet.
Para checar à concorrência de um cargo político tão importante, as pessoas com deficiência percorreram um longo período de busca por mudanças: “Essa construção de políticas se deu muito pela militância, pelas pessoas que protagonizaram essa luta que resistiu. Isso é uma conquista e essa conquista continua. É necessário que as pessoas continuem protagonizando no Congresso Nacional, nos legislativos estaduais, mesmo em posições de executivo para que esse conhecimento e a gente continue avançando para encontrar soluções, porque as soluções não estão completamente colocadas”, afirmou o ex-secretário nacional da pessoa com deficiência.
Outra pessoa que explica a importância da representatividade política é a Ana Rita de Paula, especialista em políticas públicas e militante de pessoas com deficiência. Assim como Marco Pellegrini, é uma pessoa com deficiência física e sente na pele os desafios diários para a evolução da realidade dessas pessoas.
Ana explica que para fazer a representatividade valer, é preciso que os profissionais dominem não apenas as pautas PCDs, mas também o sistema que conecta a disposição legal da sociedade.
Não adianta essas pessoas conhecerem apenas as questões específicas sobre as pessoas com deficiência. É importante também que quem está se candidatando a cargos públicos tenha uma postura adequada com relação às políticas estruturantes
Ana Rita de Paula, especialista em políticas públicas e militante de pessoas com deficiência
E essa formação acadêmica indicada pela especialista reflete nos números dos resultados destas eleições. De acordo com dados divulgados pelo TSE, todas os 8 candidatos PCDs eleitos contam com ensino superior completo. Para Ana, isso corresponde a uma questão estrutural sobre essa parcela da população: o baixo acesso à educação de qualidade limita a eleição de candidatos com deficiência. “O que agrava a situação da maior escolaridade é que a maioria das pessoas com deficiência é de baixa renda, porque existe um vínculo socioeconômico da deficiência”, afirma.