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    Ernesto Araújo mira cargos de primeiro escalão e estuda trocas no Itamaraty

    Mudanças envolvem cargos estratégicos, como a embaixada do Brasil em Buenos Aires e as secretarias de Comércio Exterior e de Comunicação

    O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo
    O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo Foto: Luis Echeverria/Reuters (19.fev.2020)

    André Spigariol e Larissa Rodrigues, da CNN em Brasília

    Prestes a completar um ano e meio no cargo, o chanceler Ernesto Araújo estuda substituir alguns de seus principais secretários em Brasília e embaixadores no exterior. As mudanças envolvem cargos estratégicos, como a embaixada do Brasil em Buenos Aires, a Secretaria de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos, a Secretaria de Comunicação e Cultura e, consequentemente, a chefia da assessoria de imprensa da pasta. 

    Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro indicou o embaixador Norberto Moretti, atual secretário de Comércio Exterior do MRE, para ser o representante do Brasil junto à Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), com sede em Montreal. O diplomata ainda terá que ser aprovado pelo Senado Federal, mas já tem substituto praticamente definido. A CNN apurou que o diplomata Sarquis José Buainain Sarquis, vice-presidente de risco do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), deve assumir o posto. O titular do cargo também representa o governo brasileiro em organismos como o G20 e o BRICS.

    Já a embaixadora Márcia Donner deixará nos próximos dias a Secretaria de Comunicação e Cultura (SECC) para assumir a Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia, comandada atualmente pelo embaixador Reinaldo Salgado. Ele deverá ser indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a embaixada do Brasil em Buenos Aires e, enquanto não for aprovado pelo Senado, chefiará a secretaria deixada por Donner. 

    Ainda na SECC, o ministro João Alfredo dos Anjos também deixa a chefia do departamento de comunicação, encarregado das notas oficiais do Ministério e também do atendimento à imprensa. O diplomata irá migrar, junto com Márcia Donner, para a secretaria que lida diretamente com as negociações com países como China, Índia e Rússia. 

    Fontes ouvidas pela CNN também esperam uma mudança na Inspetoria-Geral das Relações Exteriores, atualmente chefiada pelo embaixador Jorge Kadri; ele deve deixar o cargo. O órgão realiza inspeções e avalia o desempenho de repartições diplomáticas no Brasil e no exterior. Uma fonte próxima ao senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) disse à CNN que o nome de Kadri é cotado para assumir a secretaria de relações internacionais da presidência do Senado. 

    Outra troca esperada é a da chefia do Departamento de Nações Unidas, atualmente ocupada pelo embaixador Luís Fernando Abbott Galvão, que deve deixar o posto. A repartição é responsável por enviar instruções às delegações do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU) e, segundo diplomatas ouvidos pela CNN, é foco constante de tensões por conta das mudanças de posição do Brasil em Nova Iorque e Genebra. 

    No ano passado, o país foi contestado por, entre outras posições, se alinhar aos Estados Unidos e Israel ao apoiar o embargo econômico americano contra Cuba, revertendo uma tradição diplomática brasileira. Nos 26 anos anteriores, Brasília sempre apoiou as resoluções da Assembleia Geral da ONU que condenaram o embargo. 

    Trocas no exterior

    A movimentação de cargos envolve também as embaixadas do Brasil. Para dar lugar a Reinaldo Salgado em Buenos Aires, a CNN apurou que o embaixador Sergio Danese é cotado para assumir a embaixada do Brasil na África do Sul. Já o embaixador em Pretória, Nedilson Jorge, deve ser removido para chefiar o consulado do Brasil em Montreal. 

    No cargo desde setembro de 2016, Danese é considerado um dos principais nomes da diplomacia brasileira e, nos bastidores, foi elogiado por seus pares pela aproximação entre Brasil e Argentina durante o governo Macri.

    Outro consulado que pode sofrer alterações é o da Cidade do México, tido nos bastidores como provável destino de Luís Fernando Abott Galvão. Como as mudanças consulares não precisam ser aprovadas pelo Senado, a expectativa é que essas trocas ocorram mais rapidamente.

    Desde o início do governo Bolsonaro, o Itamaraty foi criticado nos bastidores por enviar alguns de seus melhores quadros para países, que, na avaliação de alguns diplomatas, são menos importantes. 

    É o caso, por exemplo, de Mauro Vieira, ex-ministro das relações exteriores no governo Dilma. Até o ano passado, ele chefiou a delegação do Brasil junto à Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, mas foi removido do posto para ser embaixador na Croácia. Outro ex-chanceler de Dilma, Antonio Patriota foi enviado no ano passado para a embaixada do Brasil no Cairo (Egito). 

    “Eu não considero que essas trocas diminuem a importância desses embaixadores. Pelo contrário: acho que as presenças deles nestes países engrandecem e aumentam a importância destas embaixadas”, pondera um diplomata de um destes países, ouvido pela CNN. 

    Integrantes do governo brasileiro relataram à CNN que a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República motivou diversos diplomatas a procurarem posições tidas como mais “tranquilas”, por divergências ideológicas com o presidente.