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    Em meio à crise, Bolsonaro tenta redefinir relação com Congresso e partidos

    Um dos principais lances foi dado ontem, quando encontrou-se com o senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, o principal partido do Centrão

    Caio Junqueirada CNN

    Em meio à maior crise social, econômica e de popularidade de seu governo, o presidente Jair Bolsonaro deu início a uma operação política para tentar  se reaproximar dos partidos e do Congresso Nacional.

    Um dos principais lances foi dado ontem, quando encontrou-se com o senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, o principal partido do Centrão no Congresso. A conversa ocorreu pela manhã no Palácio do Planalto, mas só entrou na agenda oficial à noite. Hoje o presidente se encontra com o presidente do Republicanos e vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira, e líderes do PL, Jorginho Mello e Wellington Roberto.  

    O objetivo imediato do presidente e que foi abordado na conversa com o senador Ciro Nogueira ontem é que o Centrão estabeleça uma ponte com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, uma vez que o grupo dá sustentação política a eles. Um encontro entre Bolsonaro e os dois está sendo costurado e pode ocorrer nos próximos dias.

    Ambos são do DEM e nunca estiveram tão distantes do Palácio do Planalto. Nesta semana, conforme revelou a CNN, deram inclusive um recado ao presidente: se o ministro da Saúde fosse demitido, o Congresso não digeriria bem a demissão.

    Nesse sentido, a própria manutenção de Mandetta no cargo já foi resultado desta nova operação. O Ministério da Saúde é um dos mais bilionários da Esplanada e ocupado em Brasília e nos órgão estaduais por representantes do DEM. O que, segundo integrantes do governo, também foi determinante para que Alcolumbre e Maia se posicionassem pela sua manutenção.

    Para ficar no cargo, porém, o ministro, que se encontra na manhã desta quarta-feira com o presidente, também acabou tendo de flexibilizar seu discurso quanto à utilização da hidroxicloroquina e à política de isolamento horizontal no país.    

    A postura do DEM, inclusive, tem incomodado algumas lideranças partidárias e o incômodo sendo repassado ao Palácio do Planalto, que concorda com a avaliação: o partido mantém três ministérios na Esplanada (Agricultura, Cidadania e Saúde), mas lidera as críticas no meio político a Bolsonaro (à exceção da oposição, claro).

    Em uma dessas conversas, foi mencionado que Rodrigo Maia foi um dos que lideraram nos bastidores a prorrogação da CPI das Fake News, que tem como alvo o governo, em plena pandemia e ao custo de 250 mil reais. Ele também segura em sua mesa diversos pedidos de impeachment do presidente e recrudesceu as críticas diárias ao Planalto em entrevistas.

    Os generais do Planalto, ministro Ramos da Secretaria de Governo e Braga Netto da Casa Civil, são os dois principais artífices desse novo modelo. Eles têm sido auxiliados pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogerio Marinho, do PSDB, e pelo senador Flavio Bolsonaro, filho mais velho do presidente. Os militares têm ouvido dos partidos que, apesar de se tratar de um governo praticamente militar, sobra insubordinação de quem o integra.

    O ministro da Justiça, Sergio Moro, também é alvo. Uma liderança mencionou que ele continua a fazer discursos contra o juiz de garantias, a despeito de o Congresso já ter derrubado a ideia. Também tem sido abordada sua participação tímida ao lado de Bolsonaro na pandemia.  

    Além de uma tentativa maior de organizar quem é e quem não é aliado de Bolsonaro, a ideia em curso é que o modelo de diálogo preferencial adotado por Bolsonaro com bancadas temáticas e com os coordenadores das bancadas estaduais seja substituído pelo modelo que vigorou em toda a redemocratização: um relacionamento prioritário do Executivo com as lideranças partidárias. 

    Não se fala ainda em entregar aos partidos a todos os ministérios tampouco cargos estratégicos, como ocorria nos governos anteriores. Mas que pelo menos sejam destacados alguns “cargos em parceria”, principalmente nos estados. E que haja pelo menos alguma expectativa de uma boa relação política de lado a lado. O Congresso sequer espera também que o presidente e seus seguidores parem de atacá-lo. A leitura é que Bolsonaro continuará a criticar o Legislativo, mas que nos bastidores irá começar a compor com os parlamentares.