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    Em março, Milton Ribeiro negou à CNN o favorecimento de pastores no MEC

    Em entrevista exclusiva, ministro da Educação disse que liberação de verbas da pasta seguia "critérios técnicos"

    O ministro da Educação, Milton Ribeiro, em entrevista à CNN
    O ministro da Educação, Milton Ribeiro, em entrevista à CNN Reprodução/CNN Brasil (23.mar.2022)

    Renata Agostinida CNN

    em Brasília

    Em uma entrevista exclusiva à CNN concedida em março, o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, negou o favorecimento de pastores no repasse de verbas da pasta.

    O ex-ministro foi preso, nesta quarta-feira (22), em operação da PF que investiga a prática de tráfico de influência e corrupção para a liberação de recursos públicos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao MEC.

    Na entrevista à CNN em 23 de março, Ribeiro também afirmou que não deixaria o cargo. Ele anunciou sua exoneração da pasta cinco dias depois.

    Em um áudio obtido pelo jornal “Folha de S.Paulo” e em reportagens do “O Estado de S. Paulo”, Ribeiro é envolvido no que seria um esquema de favorecimento a pastores na pasta.

    À CNN, Ribeiro admitiu que foi Bolsonaro quem pediu para que os líderes religiosos fossem atendidos no ministério. “[Mas] em nenhum momento o presidente pediu tratamento especial [aos pastores]”, diz.

    Segundo ele, a liberação de verbas para prefeituras seguia “critérios técnicos”.

    O ministro disse ainda que, após a divulgação dos áudios, falou com Bolsonaro. “O presidente me ligou em uma das viagens e disse: ‘Milton, eu não vejo nada demais no que você falou no áudio’ e que eu estava, até o momento, gozando da confiança dele”.

    “Eu não o procurei. Eu respeito muito o meu presidente. O cargo que estou é de confiança do presidente, ele conhece o meu caráter e é por isso que estou lá. Ele falou que eu permaneço, que eu fico, de acordo com a sua confiança. Foi exatamente isso que ele falou”, disse Ribeiro na entrevista.

    O titular da pasta disse estar à disposição dos presidentes da Câmara e do Senado para prestar esclarecimentos e garantiu, naquele momento, que não pediria demissão.

    “Nunca pensei [em pedir para sair]. Eu acho que tortuoso é o caminho de um homem carregado de culpa. O meu caminho está reto, não tenho o que falar.” “Estou firme [no cargo]. Eu quero deixar um legado para minha geração”, concluiu.

    Ribeiro deixou o Ministério da Educação em 28 de março. “Não me despedirei, direi até breve”, disse o ministro da Educação na carta entregue a Bolsonaro.

    Ministro nega favorecimentos

    No dia 22 de março, o ministro divulgou uma nota na qual negou que tenha favorecido pastores na distribuição de verbas da pasta.

    “Diferentemente do que foi veiculado, a alocação de recursos federais ocorre seguindo a legislação orçamentária, bem como os critérios técnicos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação [FNDE]. Não há nenhuma possibilidade de o ministro determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou estado”, diz trecho da nota.

    Na nota, o ministro diz ainda que o presidente “não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem”.

    Ribeiro, que é presbiteriano, ressaltou na entrevista à CNN que não há “qualquer hipótese e nenhuma previsão orçamentária que possibilite a alocação de recursos para igrejas de qualquer denominação religiosa.”

    O pastor Gilmar Santos – citado por prefeitos como um dos participantes de evento do MEC em Brasília – que também será investigado pelo STF, divulgou uma nota em sua rede social, nesta quarta-feira (23), declarando que as afirmações veiculadas sobre sua participação em um “gabinete paralelo de pastores” são “inverdades”.

    “Nego, peremptoriamente, a falácia de que pedi, recebi, mandei pedir, ou de algum forma, contribuí, para o recebimento de propina, ou qualquer ato de corrupção junto ao Ministério da Educação, bem como ao atual ministro titular da pasta. Também ab-rogo a falácia de que faço parte de um gabinete paralelo de pastores com quaisquer das finalidades elencadas anteriormente”, disse o pastor.

    Intermediação em investigação da CGU

    Ainda na entrevista exclusiva à CNN, o ministro da Educação revelou que pediu à Controladoria-Geral da União (CGU), por meio do ministro Wagner Rosário, que apurasse uma possível prática ilegal.

    “Sou o ministro que mandou 730 prefeitos para o TCU em 15 meses por desvio, por ideia de que eles estão usando de maneira errada as verbas de Educação. Em agosto de 2020, eu fui em uma determinada cidade e ouvi um comentário dessa natureza, e depois recebi uma denúncia anônima sobre uma possível prática desse tipo de intermediação. Eu reuni o meu gabinete e pedi ao meu secretário-executivo que ele redigisse a termo oficial um documento”, explicou.

    “Em agosto do ano passado marquei reunião com o ministro da CGU, entreguei o documento e pedi que ele investigasse o documento. Ele disse que iria instaurar uma investigação sigilosa”, acrescentou.

    Ribeiro citou o nome de Arilton Moura em entrevista à CNN. Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura são os citados nos áudios divulgados pela “Folha de S.Paulo”. Segundo o jornal, os dois religiosos têm negociado com prefeituras a liberação de recursos federais para obras em creches, escolas e compra de equipamentos de tecnologia.

    “O que aconteceu foi que ele [Wagner Rosário] cegou a respeito do nome de alguns, entre eles o nome do pastor Arilton [Moura], que eu desconheço. Minha convivência com Arilton sempre foi boa, perfeita em termos de culto, sempre achei que era um homem que ia a cidades menores e tentava ajudar os prefeitos”, afirmou.

    “O que acontecia por fora, que ele pediu dinheiro, pediu ouro, isso para mim, é novidade, vim conhecer aqui”, incluiu o ministro.