Em depoimento, Milton Ribeiro confirma ser autor do áudio e blinda Bolsonaro
Ex-ministro da Educação disse, entretanto, que "as palavras foram colocadas fora de contexto" e, por isso, solicitou perícia no material
A CNN obteve a íntegra do depoimento do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro à Polícia Federal, prestado nesta quinta-feira (31) em Brasília. Nele, Ribeiro confirma pela primeira vez ser o autor do áudio revelado pelo jornal “Folha de S.Paulo” que acabou levando à sua queda. O áudio dizia que “a prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e em segundo atender a todos que são amigos do pastor Gilmar”, e que isso havia sido um pedido especial que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), a ele.
Ao delegado da PF Bruno Calandrini, Milton Ribeiro disse “que, perguntado a respeito da gravação que foi amplamente divulgada nas manchetes jornalísticas (…) Afirma ter proferido tal discurso no entanto esclarece que as palavras foram colocadas fora de contexto, por isso solicitou perícia no áudio”.
Ele disse ainda “que não sabe dizer quem realizou tal gravação” nem “quando ocorreu a reunião, não podendo citar nomes de testemunhas” e que ” somente aduz ter sido possivelmente realizada no Ministério da Educação”.
Em duas ocasiões, ele cita Bolsonaro no depoimento. Em ambas, exime o presidente de qualquer responsabilidade. Diz “que o presidente Jair Bolsonaro realmente pediu para que o Pastor Gilmar fosse recebido, porém isso não quer dizer que que o mesmo gozasse de tratamento diferenciado ou privilegiado na gestão do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] ou MEC, esclarecendo que, como ministro, recebeu inúmeras autoridades, pois ocupava cargo político” e que “o Presidente da República jamais indagou o declarante a respeito da visita do Pastor Gilmar”.
Afirma também “que aquela afirmação, a da gravação, foi feita como forma de prestigiar o Pastor Gilmar, na condição de líder religioso nacional, não tendo qualquer conotação de enfatizar que os amigos do Pastor Gilmar teriam privilégio junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ou Ministério da Educação”.
Ribeiro declarou à PF que “não tinha conhecimento de que o Pastor Gilmar ou Pastor Arilton supostamente cooptavam prefeitos para oferecer privilégios junto a recursos públicos sob a gestão do FBDE ou do MEC” e que “não autorizou o Pastor Gilmar ou Pastor Arilton a falar em nome do Ministério da Educação”.
Ele disse também que “durante a gestão no Ministério da Educação fez mais de 700 denúncias formais ao Tribunal de Contas da União sobre eventuais inconsistências em prestações de contas de recursos do FNDE com anuência do Exmo. Presidente Bolsonaro”.