Eleitor acaba se perdendo entre candidatos da 3ª via, diz cientista político
Em entrevista à CNN, Felipe Nunes, diretor da Quaest, avaliou os resultados de pesquisa eleitoral divulgada nesta quarta-feira
Foi divulgada nesta quarta-feira (12) a pesquisa Quaest/Genial de intenção de voto para presidente nas eleições de 2022. Na simulação de primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece na liderança com 45%, contra 23% do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
Já entre os candidatos da chamada “terceira via”, o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), surge como o melhor colocado, com 9% das intenções de voto. O ex-ministro é seguido por Ciro Gomes (PDT), com 5%; o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com 3%; e a senadora Simone Tebet (MDB), com 1%. O senador Rodrigo Pacheco (PSD) e Felipe d’Ávila (Novo) não pontuaram.
Em entrevista à CNN nesta quarta-feira (12), Felipe Nunes, diretor e cientista político da Quaest, instituto responsável pela pesquisa, avaliou que o maior problema da terceira via é justamente o grande número de postulantes e a falta de coordenação política para uma única liderança.
“Existe uma demanda próxima de 30% em torno desse nome do ‘nem-nem’ [nem Bolsonaro, nem Lula], mas são tantas as opções e a fragmentação colocada que o eleitor acaba se perdendo e não encontra o candidato capaz de fazer frente ao segundo colocado isolado e estável, que é Jair Bolsonaro”, disse Nunes.
De acordo com o cientista político, trata-se também de uma questão matemática: “entre cinco ou seis candidatos não é possível distribuir 30% dos votos”. Ele considerou que os candidatos da terceira via irão precisar de articulação política e coordenação para superar o patamar de segundo colocado do presidente Bolsonaro.
“Temas que preocupam as pessoas são os temas que os candidatos da terceira via não estão conseguindo atrair como sendo agendas prioritárias. E estou falando de economia e saúde pública”, afirmou.
Importância do Auxílio Brasil
Nunes avaliou que há um importante eleitorado “não-ideológico, pragmático e que geralmente vota de acordo com o sentimento e a expectativa em relação ao bolso”. O cientista político considera que é justamente entre essa parcela dos eleitores que o pagamento do Auxílio Brasil pode surtir algum efeito positivo para angariar votos para Jair Bolsonaro.
“O que o Auxílio Brasil pode estar sinalizando é o potencial de Bolsonaro ainda disputar esse voto que está muito concentrado no Nordeste, eleitorado que está geralmente associado ao ex-presidente Lula”.
No entanto, o cientista político diz ser possível que o efeito esperado pela equipe do atual presidente pode ser abaixo do necessário para conseguir mais votos. Nunes considera que “vai ser preciso fazer política e disputar votos para que esse cenário seja alterado”.
“Se o cenário permanecer estável, a vantagem que o ex-presidente Lula tem é significativa”, ressaltou.
Liderança de Lula
Quando questionado sobre a liderança isolada que o ex-presidente Lula vem apresentando nas últimas pesquisas, Nunes atribuiu a grande margem ao eleitorado “mais pragmático”, que vive um desânimo com a situação econômica do país.
Essa insatisfação com medidas do governo Bolsonaro estaria “desaguando naquele candidato que é o mais conhecido entre todos, que tem um patrimônio político apresentado de realizações relevantes e que hoje tem uma rejeição menor que a dos demais”.
Outro componente que favorece Lula, no ponto de vista de Nunes, é que o ex-presidente é o candidato que está fazendo menos esforço para angariar votos. O cientista político avalia que os adversários não estão atacando Lula nos pontos que são sensíveis ao candidato do PT, além de não estarem procurando debater ou questionar o líder das pesquisas.
Voto espontâneo
Ao contrário do que a pesquisa divulgada sinaliza, Nunes não acredita que a eleição presidencial de 2022 será decidida em primeiro turno. “Assim como em 2018, aproximadamente 50% da população brasileira não declara voto espontâneo a qualquer candidato.”
O especialista considera que essa informação aponta para o fato de que há “um grande potencial de alteração desse quadro caso a economia muda” e outras circunstâncias apareçam.
No entanto, Nunes pontua que os indicadores e variáveis estão mais propícios a resultar em uma vantagem ainda maior do ex-presidente Lula.
Altas rejeições
“Provavelmente é a primeira eleição nacional em que o quinteto com mais intenções de voto tem índices de conhecimento acima de 80%”, diz o cientista político. Por conta disso, ele avalia que os postulantes à Presidência da República são muito conhecidos, assim como “seus atributos, suas personalidades e suas forças e fraquezas que são escrutinadas e debatidas o tempo todo”.
“Numa eleição em que todo mundo é muito conhecido, é normal que a gente consiga apurar melhor do que em anos anteriores, já no começo do ano, os níveis de rejeição dos candidatos. Aí talvez esteja a explicação de Lula ganhando em segundo turno contra qualquer candidato”, analisou.
Na avaliação do pesquisador, a população brasileira está mais atenta e acompanhando com mais frequência o noticiário político, e isso faz com que o interesse nas eleições cresça ainda mais.
Nas simulações de segundo turno da pesquisa Quaest/Genial em que o ex-presidente Lula aparece como candidato, o petista ganha de todos os seus possíveis adversários: Jair Bolsonaro, Sergio Moro, Ciro Gomes, João Doria e Rodrigo Pacheco.
“No caso desses dois elementos, Lula e Bolsonaro, acho que dá para dizer que o governo Bolsonaro não atende às expectativas do eleitorado, e isso acaba refletindo na imagem dele. O ex-presidente Lula está navegando em mares tranquilos porque não é cobrado em relação aos temas que são mais complicados para ele”, concluiu Nunes.