Eleição de 2022 é a primeira com lei de combate à violência política contra mulheres
Segundo legislação, pena é de um a quatro anos de reclusão, além de multa
As eleições de 2022, com o primeiro turno marcado para este domingo (2), serão as primeiras do país após a sanção da Lei nº 14.192 de combate à violência política contra a mulher, que completou um ano no último mês de agosto.
O marcou trouxe novidades para o pleito, como a proibição de propagandas eleitorais que depreciassem a condição de mulher, ou estimulassem sua discriminação, e a proporção obrigatória nos debates de no mínimo 30% e no máximo 70% de participantes de cada gênero.
A lei estabelece que violência política contra a mulher é “toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos das mulheres”, além de atos que levem à “distinção, exclusão ou restrição no reconhecimento, gozo, ou exercício de seus direitos e suas liberdades políticas fundamentais, em virtude do sexo”.
É crime “assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, utilizando de menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia, com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo”.
Caso transgredida, a pena é de um a quatro anos de reclusão, além da multa. A punição aumenta em ⅓ se se tiver como vítima uma mulher gestante, idade acima de 60 anos ou portadora de alguma deficiência.
A discriminação pela condição de mulher, cor, raça ou etnia também passa a ser um majorador da pena nos casos de calúnia, injúria e difamação. Vale destacar que a lei protege tanto a mulher cis quanto transgênero.
Ana Claudia Santano, integrante do Observatório de Violência Política Contra a Mulher, organismo que integra um grupo do Ministério Público Federal sobre o tema, avalia que a lei em meio à campanha deste ano foi uma oportunidade de conscientizar as pessoas sobre a gravidade do problema e sobre a necessidade de denunciá-lo.
“A lei serve para visibilizar o problema e desnaturalizar. Muitas vezes, a gente acha que faz parte a mulher ser maltratada na política para mostrar que é capaz, para demonstrar que é forte”, alerta.
O Observatório de Violência Política Contra a Mulher e o Instituto Nacional Democrata para Assuntos Internacionais foram os responsáveis pela formulação de uma cartilha, que detalha a violência de gênero e foi lançada no início do mês de agosto, como parte de uma campanha de diversos órgãos como Ministério Público Federal, Tribunal Superior Eleitoral, governo federal e Câmara dos Deputados.
“A violência física não levanta muito debate porque ela acontece no corpo. Mas a gente precisa chamar a atenção para outros tipos de violência”, destaca Ana Claudia Santano.
A cartilha explica que, além da violência física, como estupro e agressões, existe a violência não física, como a simbólica, com uso de linguagem excludente e objetificação das mulheres; a moral, como calúnia e difamação; a econômica, com o não acesso a recursos e ausência de investimento em campanhas femininas; além da psicológica, como intimação e ameaça.
“Só mandatárias e candidatas estão protegidas pela lei e esse conceito é mais amplo. A gente entende que uma eleitora pode ser vítima de violência política de gênero, quando ela é impedida de votar ou sofre coação. Nisso, a lei ainda pode avançar”, avalia Ana Cláudia.
Casos de violência política contra a mulher devem ser denunciados.
Canais estão disponíveis no site do Ministério Público Federal, Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Ministério Público Eleitoral de cada estado, Fale Conosco da Câmara dos Deputados, Secretaria da Mulher da Câmara e Ouvidoria da Mulher do Tribunal Superior Eleitoral.
Fotos – Todas as mulheres candidatas à Presidência
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Lívia Maria (PN), em 1989, foi a primeira candidata a presidente; ela ficou na 16ª colocação, com 0,26% dos votos válidos, no pleito que terminaria com vitória de Fernando Collor (PRN) no segundo turno • Reprodução
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Thereza Ruiz (PTN), em 1998, foi a segunda a concorrer. Ela obteve 0,25% dos votos válidos. Ela ficou na 10ª colocação em uma disputa de 12 candidatos - o vencedor foi Fernando Henrique Cardoso (PSDB), reeleito no primeiro turno • Reprodução
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Em 2006, a então senadora Heloísa Helena (PSOL) foi a primeira mulher a romper a barreira de 1 milhão de votos - ela, na verdade, conseguiu o voto de 6.575.393 dos eleitores (6,85% dos votos válidos) e ficou em terceiro lugar na eleição que seria vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reeleito no segundo turno • JOEDSON ALVES/ESTADÃO CONTEÚDO
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As eleições de 2006 também marcaram a primeira chapa 100% feminina da história das eleições brasileiras. A cientista política Ana Maria Rangel, candidata a presidente, e a advogada Delma Gama, candidata a vice, formaram a chapa do PRP e receberam 0,13% dos votos válidos • Reprodução
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Em 2010, Dilma Rousseff (PT), candidata do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi a primeira mulher presidente na história do Brasil. No segundo turno, a petista recebeu 58,99% dos votos válidos e venceu o pleito contra José Serra (PSDB), conquistando a reeleição quatro anos depois, dessa vez contra Aécio Neves (PSDB). Dilma acabou sofrendo impeachment em 2016
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Marina Silva, então senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, concorreu pela primeira vez em 2010, repetindo a dose em 2014 e 2018, sempre por partidos diferentes. Pelo PV, ela ficou em terceiro em 2010 (19.33% dos votos válidos), e terminou na mesma posição em 2014, agora pelo PSB, com 21,32%. Em 2018, pelo partido que ajudou formar, a Rede, ficou na oitava posição (1% dos votos válidos) • Victor Moriyama/Getty Images
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O pleito de 2014 também teve a participação feminina de Luciana Genro (PSOL) - a terceira presidenciável naquele ano. Luciana foi a quarta colocada no primeiro turno, atrás de Dilma, Aécio e Marina, com 1,55% dos votos válidos • JF DIORIO/ESTADÃO CONTEÚDO
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Candidata a presidente em 2022, Vera Lúcia (PSTU) já havia tentando o mesmo cargo em 2018, na chapa "puro sangue" com Hertz Dias - a dupla ficou em 11º lugar entre 13 candidatos, com 0,05% dos votos válidos. Nas eleições de 2022, ela formará chapa 100% feminina com a indígena Kunã Yporã (Raquel Tremembé), da etnia Tremembé, do Maranhão • Romerito Pontes/Divulgação
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A senadora Simone Tebet (MDB) foi confirmada candidata à Presidência e, dias depois, anunciou outra senadora, Mara Gabrilli (PSDB), como sua vice. É a primeira chapa 100% feminina da história de partidos que têm representação no Congresso • 25/05/2022REUTERS/Adriano Machado
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Sofia Manzano (PCB) foi a décima candidata à Presidência da história do Brasil. Ela concorrerá tendo como vice o jornalista Antonio Alves, também do PCB • Pedro Afonso de Paula/Divulgação
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Senadora Soraya Thronicke (MS) foi confirmada pelo União Brasil como a 11ª candidata à Presidência da história do Brasil; seu nome para vice é o economista Marcos Cintra, do mesmo partido • ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO