Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    “Ele pediu para eu comprar mil bíblias”, diz prefeito sobre pastor que prometeu liberar verba do MEC

    Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), conta que pastor Arilton Moura pediu propina de R$ 15 mil em troca da liberação de recursos do Ministério da Educação para construção de uma escola em seu município

    Kelton Pinheiro, prefeito de Bonfinópolis (GO), em reunião com reunião com o ministro Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no Ministério da Educação no dia 13 de janeiro de 2021
    Kelton Pinheiro, prefeito de Bonfinópolis (GO), em reunião com reunião com o ministro Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no Ministério da Educação no dia 13 de janeiro de 2021 Arquivo pessoal

    Beatriz AraújoLeandro Resendeda CNN

    Em São Paulo e no Rio

    O prefeito Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), confirmou à CNN que foi convidado pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura para reunião com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, que aconteceu no dia 13 de janeiro do ano passado. O caso foi inicialmente revelado pelo jornal “O Globo”.

    Segundo Pinheiro, o pastor Moura pediu propina de R$ 15 mil e compra de bíblias em troca da liberação de recursos do Ministério da Educação (MEC) para construção de uma escola em seu município.

    Dias antes da reunião com o ministro, o prefeito se encontrou com os pastores na sede da Igreja Assembleia de Deus em Goiânia. Pinheiro conta que, na ocasião, Moura explicou como iria funcionar a ajuda para liberar a verba do MEC:

    “Ele [Arilton Moura] foi bem direto nas palavras e disse: ‘Prefeito, lá no Ministério nós somos amigos do ministro Milton e a gente tá com um canal para arrumar recursos. O que você está precisando na sua cidade?’. Eu falei que precisava construir uma escola e ele disse que ia conseguir o dinheiro para mim, mas que eu iria ter que fazer um ofício”, explica.

    Pinheiro disse que achou estranho o modo como Moura estava explicando o procedimento para concessão da verba e questionou o pastor sobre o interesse dele em ajudá-lo. “Ele pediu para eu comprar mil bíblias do pastor Gilmar para ajudar na construção da igreja. Perguntei qual era o valor das bíblias, elas custavam R$ 50. E eu disse que não tinha condições de dar esse tipo de oferta para a igreja, porque era um valor alto e a prefeitura não poderia fazer esse tipo de compra”, contou o prefeito.

    Depois desse encontro, Pinheiro compareceu à reunião com o ministro Milton Ribeiro e os pastores no Ministério da Educação no dia 13 de janeiro de 2021. De acordo com ele, a reunião teve caráter técnico e o discurso de Ribeiro foi marcado por falas que ressaltavam “a forma como o governo está trabalhando para combater a corrupção”.

    “O ministro estava apresentando a equipe técnica dele para aproximar os municípios diretamente à equipe do ministério, para que não fosse necessário a intervenção de lobistas e atravessadores”, explicou o prefeito de Bonfinópolis.

    Após a reunião, os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos convidaram Pinheiro e outros prefeitos para almoçar em um restaurante. Foi nesta ocasião que, segundo o prefeito, Moura solicitou propina para a construção da escola em Bonfinópolis.

    “Eu estava sentado conversando com o pastor Gilmar quando o Arilton chegou e disse: ‘papo reto: eu consigo sua escola de R$ 7 milhões, mas você vai me dar R$ 15 mil na minha mão hoje (…) No Brasil as coisas funcionam assim. Tenho minhas despesas para estar aqui, esse dinheiro é pra isso’.”

    O prefeito conta que não tinha o dinheiro e revelou que Santos ainda ofereceu a opção de parcelamento da propina.

    A CNN procurou os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. Em suas redes sociais, Santos publicou uma nota na quarta-feira (23) em que diz que as reportagens envolvendo seu nome são “acusações levianas” e que “nunca houve de minha parte interferência nas relações institucionais do MEC”. Moura ainda não respondeu.

    Ofício

    A facilidade de acesso ao gabinete de Ribeiro era tanta que o pastor Moura teria chegado a sugerir como prefeitos deveriam encaminhar os pedidos para acesso a recursos públicos. A CNN obteve um ofício feito pela prefeitura de Bonfinópolis com pedido de recursos para construção de uma escola com 12 salas.

    A resposta do Ministério da Educação – conforme consta no documento – ao pedido indica que o protocolo de um ofício não era o caminho adequado para solicitar a verba federal. No entanto, a manobra foi vendida pelo pastor Moura e endossada pelo pastor Gilmar Santos.

    “O pastor quis me vender uma facilidade, mas eu sabia que o sistema para pedir recurso não era fazer ofício. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) tem um sistema próprio. Mas protocolei o papel, porque não tinha nada a perder”, afirma Pinheiro.

    Segundo o prefeito, os pastores também pediram para ele “protocolar um ofício quando chegasse em Brasília e pediram para a prefeitura comprar 1000 Bíblias por R$ 50 cada para ajudar na construção da Igreja”, afirmou.

    Depois do encontro com Ribeiro, o pastor Arilton, segundo o prefeito, foi direto: cobrou R$15 mil para ajudar na liberação do recurso solicitado via ofício. Garantiu ter influência e amizade com o ministro e pediu o depósito ou o dinheiro em espécie. Segundo o prefeito Kelton, neste momento o pastor Gilmar Moura interveio e sugeriu que a propina fosse paga em duas parcelas. “Arilton foi ríspido. Disse que as coisas funcionavam assim no Brasil e que político era tudo malandro”, declarou o prefeito.

    Ofício da prefeitura de Bonfinópolis
    Ofício da prefeitura de Bonfinópolis / Reprodução

    O que diz o ministro

    À CNN, Milton Ribeiro negou que Bolsonaro tenha pedido para favorecer pastores e diz que não deixará o cargo. Em entrevista exclusiva à analista da CNN Renata Agostini, na noite de ontem (23), o ministro admitiu que o presidente chegou a pedir para que a pasta da Educação recebesse líderes evangélicos, mas garantiu que liberação de verbas segue “critérios técnicos”.