Como Eduardo Suplicy deixou prévias do PT de lado para apoiar Marta vice de Boulos
Deputado estadual tentou fazer eleição interna para escolher a representante do partido na chapa do pré-candidato do PSOL a prefeito de São Paulo
Um dos fundadores do PT e uma das principais lideranças do partido, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP) tentou realizar prévias para a escolha do representante petista na chapa de Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato a prefeito de São Paulo.
“Se consolidar a ideia de uma outra possível candidata, acho que será muito saudável para o PT, para a própria Marta Suplicy”, disse o deputado à CNN após o primeiro encontro entre Boulos e a ex-prefeita paulistana no último sábado (13).
Entretanto, a possibilidade de prévias foi rechaçada pelo partido após uma reunião da executiva do Diretório Municipal na terça-feira (16). O próprio Eduardo Suplicy acabou deixando a ideia de lado e declarou apoio à chapa com Boulos e Marta.
A indicação para o posto de vice é uma decisão do PT após um acordo firmado com o PSOL nas eleições de 2022. E Boulos sempre afirmou que a escolhida seria uma mulher.
A escolha de Marta
Em 8 de janeiro, a ex-prefeita se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto, onde foi sondada sobre a possibilidade, de acordo com fontes da CNN.
Após o encontro, Marta — que era secretária de Relações Internacionais no governo de Ricardo Nunes (MDB), adversário de Boulos no pleito deste ano — chegou à solução de “comum acordo” com o prefeito para deixar a pasta. Ao comentar a demissão, Nunes afirmou que sua então secretária teria confirmado que seria vice de Boulos.
A partir do desdobramento do caso, Eduardo Suplicy passou a aventar a ideia de concorrer com a ex-prefeita em uma espécie de prévia para vice.
“Prévia para cargos majoritários é uma tradição do PT. Então, seria natural para vice também. Vou consultar o Boulos antes de apresentar meu nome no partido”, disse Eduardo Suplicy à CNN na ocasião.
Para justificar sua decisão, Suplicy usou o argumento que o líder do PSOL na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), deputado Carlos Giannazi, havia lhe convidado para o cargo.
Em entrevista à CNN, Giannazi afirma que a sua indicação aconteceu antes do surgimento do nome de Marta para o cargo.
Acho que o nome dele, naquele momento, era um nome importante. Mas agora o PT me parece que tomou a decisão, tem um acordo. Era um sugestão de alguém de fora do PT, eu sou do PSOL
Carlos Giannazi
Para Giannazi, a indicação de Marta é importante no sentido de agregar votos, sobretudo na periferia, usando como parâmetro sua administração entre 2001 e 2004.
Desistência de Suplicy
Posteriormente, Eduardo Suplicy desistiu de concorrer nas prévias após pensar que “era melhor manter a unidade” de sua família.
“Temos três filhos e sete netos, e considero que isso agora deve prevalecer. Por isso que eu procurei outra possibilidade”, citou, ao relembrar o casamento com Marta que durou cerca de 37 anos.
Juntos, os dois são pais de Supla, João Suplicy e André Suplicy.
Entretanto, a desistência não marcou o fim de sua estratégia para o pleito.
Indicação de vereadora
Horas antes do primeiro encontro de Boulos e Marta, em 13 de janeiro, Eduardo Suplicy mostrou seu plano B para o caso: a indicação da vereadora da capital Luna Zarattini (PT) para a disputa.
“Propus a ela que pudesse ser uma mulher e pudesse inclusive participar de uma prévia para que a decisão para que a candidata a vice-prefeita seja feita da forma mais clara possível, de acordo com a tradição do PT”, afirmou Suplicy na ocasião.
À CNN, Zarattini diz que foi pega de surpresa pela decisão do deputado, mas que tentaria a reeleição para a Câmara Municipal.
“O instrumento das prévias do PT é democrático, da escuta de filiados, de escuta dentro do partido. E é um instrumento que deve ser usado de acordo com o momento político. Fiquei muito honrada de ter tido o convite do companheiro Eduardo Suplicy, nosso deputado estadual. Realmente fui pega de surpresa e fiquei muito feliz com esse convite”, afirma Zarattini.
Em sua opinião, o atual momento político da cidade exige “uma aliança democrática, assim como a gente fez em 2022, para vencer as eleições”, citando a união entre Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), seu antigo antagonista.
O retorno de Marta para a sigla após quase nove anos e diversos embates com petistas, de acordo com Zarattini, terá “muito diálogo com os filiados” para que o “PT saia unido, fortalecido para que a gente possa vencer essas eleições”.
Suplicy ainda havia indicado a deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP) para o eventual pleito interno. Entretanto, ela também optou por não disputar, segundo disse o próprio deputado.
Qual foi a justificativa de Suplicy para prévias?
Segundo Eduardo Suplicy, o consenso sobre a indicação de Marta deveria ser feito após um debate entre ela e outras possíveis candidatas. E que seria importante quem ouvir quem apoia outras pessoas.
A medida, em sua visão, seria “muito saudável para o PT”, a partir da participação dos filiados nos processo de escolha.
Entretanto, a questão foi rechaçada pelo deputado federal Rui Falcão (PT-SP), que conduziu as conversas para a ex-prefeita estar na chapa de Boulos.
“Nós vamos fazer prévia entre quem? Não tem candidato, não tem candidata. O próprio histórico do PT, eu estou no PT a mais de 40 anos, que eu me recorde, nunca houve prévia de vice. Já houve prévia para candidato a vereador, a prefeito, mas vice nunca existiu”, disse Falcão em 13 de janeiro.
O que o PT fará se aparecer outra candidata?
Segundo o presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro, caso apareça outro nome que queira concorrer com Marta, a decisão será tomada pelo diretório e não em processo de prévia. No momento, nenhum nome se apresentou para a disputa.
Diante do cenário, Suplicy apresentou um documento ao PT paulistano sugerindo a aprovação da ex-prefeita como vice de Boulos.
O apoio à chapa acontece “na expectativa de que venha a realizar uma entusiasta campanha e uma administração que seja caracterizada por forte participação popular, total transparência e correção em seus atos”, de acordo com o documento.
De acordo com o deputado estadual, quando a ex-prefeita se filiar novamente ao partido, terá a “oportunidade esclarecer tudo aquilo que aconteceu em sua vida política”, como no momento que foi “a favor do impedimento da presidenta Dilma e em outras votações que foram diferentes daquelas que eram a diretriz do Partido dos Trabalhadores”.
À reportagem, o líder do PT na Alesp, deputado Paulo Fiorilo, disse que já havia conversado com Suplicy e dito que “hoje a Marta tem as condições que o PT e o Boulos precisam para fazer essa disputa polarizada”.
Fiorilo expressa que assim que for firmado o retorno da ex-prefeita, poderá ser discutido “qual é o melhor processo para que não haja nenhuma dificuldade nem para o Boulos, para o PT e para Marta”.
“Acho que a Marta agrega ao PT, mas também agrega principalmente à candidatura do Boulos. Eu entendo que esse processo dela de amadurecimento, de decisão de voltar ao PT, já é um sinal importante vai contribuir muito para o fortalecimento do partido”, finalizou.