“É um deboche com a democracia”, diz Marina Silva sobre embate de Bolsonaro com STF
Para a ex-senadora, a polaridade das Eleições de 2014 é uma das causas para o atual cenário político
Em entrevista neste sábado (30) à CNN, a ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora pelo Acre, Marina Silva (Rede), criticou a atitude do presidente Jair Bolsonaro (PL) em dar o perdão ao deputado Daniel Silveira (PTB-SP) e classificou o atual momento como desafiador para a democracia.
“Estamos vendo aí [o governo Bolsonaro] desafiar o Supremo [Tribunal Federal], desafiar a Constituição, fazer inclusive deboche dando a graça ao deputado Silveira, colocando o deputado na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] para que dê pareceres favoráveis a ele mesmo. É um deboche que está sendo feito com a democracia, com o Supremo e as instituições”, declarou a ex-ministra do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para Marina, que foi candidata à Presidência da República em 2014, mesmo com a polaridade do pleito naquele ano, quando Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB), a disputa foi dentro do âmbito democrático, mas “adubou” o terreno do atual cenário político.
“Mesmo na polarização entre PT e PSDB, que acabou adubando a terra que nasceu Bolsonaro, nós tivemos uma disputa democracia e democracia. Infelizmente, agora o que nasceu é uma disputa em que um lado tem alguém confrontando, querendo desmoralizar o Supremo. E pasmem, com ajuda e apoio de uma parte altamente relevante do Congresso Nacional, que é quem deveria reagir em legítima defesa da democracia. Esse não é momento para brincadeira”, afirmou Marina.
Futuro político
O PT tem ensaiado uma reaproximação do partido com Marina. Na última quinta-feira (28), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um aceno à ex-ministra. Em um evento com apoiadores, entre eles da Rede, Lula afirmou que sentiu falta da ex-ministra que não compareceu ao evento.
“[Para] dialogar, eu estou aberta em todas as propostas. As ideias que estou falando não estarão circunscritas a uma candidatura. Por isso é fundamental que, mais do que declarar apoio, os candidatos digam o que estão apoiando, com o que estão se comprometendo”, disse Marina sobre o que apontou como falta de propostas dos pré-candidatos para o meio ambiente.
“Os candidatos estão atrasados em relação a esse debate. Precisam atualizar seus partidos e seus discursos, até porque a questão ambiental não foi integrada ao know-how de propostas dos partidos. Eles têm muita formulação na economia, na questão social, saúde e educação, mas, em relação a sustentabilidade e meio ambiente, esse know-how ao longo de mais de 30 anos está na sociedade, na academia, nas organizações da sociedade civil e nos movimentos sociais.”
Na entrevista, a ex-senadora afirmou que está discutindo a possibilidade de ser candidata a deputada federal pela Rede em São Paulo.
“Confesso que não é algo que eu tivesse colocado nos meus horizontes. Mas diante de tudo que estamos vivendo e estamos sofrendo, de como a agenda indígena e ambiental, estou avaliando com muito senso de responsabilidade. Logo estarei dando essa resposta ao meu partido, mas tomei as providências jurídicas.
Tenho uma relação histórica com São Paulo.
Em relação às críticas de Marina a Bolsonaro, a CNN entrou em contato com a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) para repercutir as declarações e ainda não recebeu resposta.
Debate
A CNN realizará o primeiro debate presidencial de 2022. O confronto entre os candidatos será transmitido ao vivo em 6 de agosto, pela TV e por nossas plataformas digitais.