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    Dos partidos “hidropônicos” a causas da vitória de Lula: Lavareda ilumina em livro questões que importam para a democracia

    Obra reúne 15 artigos escritos por Lavareda e as entrevistas que concedeu a veículos de imprensa ao longo do processo eleitoral de 2022

    O cientista político Antonio Lavareda, autor do livro “De Bolsonaro a Lula III – Pesquisa, Eleição, Democracia e Governabilidade”
    O cientista político Antonio Lavareda, autor do livro “De Bolsonaro a Lula III – Pesquisa, Eleição, Democracia e Governabilidade” Acervo Pessoal

    Iuri Pittada CNN

    São Paulo

    À venda desde o dia 14, o livro “De Bolsonaro a Lula 3 – Pesquisa, Eleição, Democracia e Governabilidade”, do cientista político Antonio Lavareda, se dedica a “colocar o foco sobre as questões que realmente importa acompanhar quando se quer entender nossa democracia”, na definição da professora aposentada da USP e pesquisadora do Cebrap Maria Hermínia Tavares de Almeida, que escreve o prefácio da obra.

    A obra reúne 15 artigos escritos por Lavareda e as entrevistas que concedeu a veículos de imprensa ao longo do processo eleitoral de 2022 para ajudar a jogar luz não só sobre a mais acirrada das disputas presidenciais desde a redemocratização, mas também sobre como ler corretamente as pesquisas de opinião pública – atacadas de forma muito semelhante às urnas eletrônicas – e sobre o que esperar do sistema político brasileiro.

    “O livro está dividido em três capítulos. No primeiro, trato das pesquisas, do papel que elas desempenham e das suas limitações, de que não devem ser usadas como prognóstico”, conta Lavareda, uma das principais referências do assunto no Brasil.

    Além de presidir o conselho científico do Ipespe, um dos institutos de pesquisa mais longevos do país, ele é presidente de honra da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel).

    No segundo capítulo, ao abordar a campanha eleitoral em si e o resultado das urnas, Lavareda aponta uma hipótese para a vitória de Lula sobre Bolsonaro por 50,9% ante 49,1% — uma diferença de pouco mais de 2 milhões de votos entre 123,7 milhões.

    “A abstenção foi de mais de 32 milhões de eleitores, cuja composição majoritariamente é de baixa renda e escolaridade”, explica o cientista político, citando perfil socioeconômico em que o candidato de oposição tinha maior preferência que o presidente em campanha pela reeleição. “A margem (da vitória) foi mais apertada que o esperado por isso.”

    Reprodução

    Remédios institucionais

    Por fim, o livro analisa questões relativas ao funcionamento do sistema democrático e das condições de governabilidade do Brasil, como o que define como representatividade hiperindividualizada na Câmara dos Deputados (“são 513 empreendedores individuais”) ou “partidos hidropônicos” – sem raízes na sociedade.

    “Essa situação é consequência do sistema de voto proporcional em lista desordenada, que leva à seguinte distorção: uma sociedade bimodal (polarizada entre uma moda, no sentido estatístico da palavra, à esquerda e outra à direita) e um Congresso trimodal, com o chamado ‘centrão’ no meio dos dois polos”, explica Lavareda.

    O remédio para essa disfunção institucional, ensina o cientista político, também tem que ser institucional. “É uma medida simples, que nem exige mudança constitucional. É passar a ter o voto proporcional com listas pré-ordenadas.”

    A diferença entre os modelos é que, atualmente, os partidos lançam candidatos que disputam votos entre si, para ficarem mais bem posicionados nas listas (o número de vagas que cada sigla conquistou na divisão proporcional de um Legislativo pelos votos obtidos).

    Na solução proposta, adotada em países como Argentina, Espanha e Portugal, entre outros, o eleitor vota em um partido já sabendo a ordem definida pelas siglas – assim, se a agremiação ganhar duas cadeiras, os dois primeiros da lista terão mandato, e assim sucessivamente.

    Questionado se os próprios políticos adotariam essa solução, Lavareda busca um exemplo na própria história brasileira, como faz nos artigos e entrevistas do livro.

    “Até os anos 1960, se alguém dissesse que os candidatos a presidente e vice deveriam estar em uma chapa única, seria tachado de louco”, compara – na época, os brasileiros votam em separado para presidente e vice, por vezes elegendo adversários políticos simultaneamente.

    Serviço

    • De Bolsonaro a Lula 3 – Pesquisa, eleição, democracia e governabilidade
    • Editora Sagga: 164 páginas – R$ 54,90 – e-Book R$ 39,90