Divulgação de documento expõe divergências internas no PL entre Valdemar e bolsonaristas
Nesta quarta-feira (28), Valdemar não endossou documento do partido, segundo interlocutores.
O episódio no qual o PL divulgou um documento apontando possibilidade de fraude nas eleições deste domingo (2) expôs divergências entre o grupo comandado pelo presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, com um grupo mais alinhado ao presidente Jair Bolsonaro.
Valdemar, um político tradicional, habilidoso e pragmático sempre defendeu a ampla interlocução com partidos de diversas matizes políticas – oposição inclusive – e também com o Judiciário, poder que é alvo constante do Palácio do Planalto.
Essa visão se confronta com uma parte minoritária no partido que entrou, recentemente, na legenda estimulada pela filiação de Bolsonaro neste ano, ou que, mesmo há mais tempo na sigla, é mais alinhada ao ideário bolsonarista.
O vice-presidente nacional do PL, o policial militar aposentado e deputado federal Capitão Augusto se insere nesse grupo. Hoje, foi ele quem divulgou o documento que aponta a possibilidade de fraude nas eleições.
Para esse grupo, apontar riscos no sistema eleitoral a três dias das eleições endossa um movimento que o próprio presidente Jair Bolsonaro retomou nos últimos dias ao criticar o presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Valdemar e seus aliados internos discordam desse movimento, tanto que Valdemar, segundo seus aliados, era contrário ao vazamento do documento.
Durante a campanha, ele mostrou ao presidente por diversas vezes que acusar a fraude eleitoral significava perder votos, pois o eleitor, segundo as pesquisas internas da sigla, avalia que se trata de um discurso de derrotado. Bolsonaro até recuou, mas vem retomando o movimento conforme as pesquisas apontam possibilidade de vitória em primeiro turno de Lula.
Nesta quarta-feira (28), menos de uma hora depois que o documento foi divulgado por Capitão Augusto, a CNN revelou que o conteúdo não era endossado por Valdemar segundo seus interlocutores. Mais que isso, seus aliados disseram que o documento reflete apenas a visão do consultor contratado pelo partido para acompanhar o processo eleitoral — uma exigência de Bolsonaro. Disseram também que se tratava de um sumário executivo de um parecer de 130 páginas que foi protocolado no TSE no dia 19 deste mês com sugestões, e não críticas, para o aperfeiçoamento do sistema eleitoral.
A rigor, a ala liderada por Valdemar considerava o documento algo para consumo interno e para atender a um pedido que Bolsonaro fez de que fosse contratado alguém para ajudar a fiscalizar as eleições. Sua exposição pública, contudo, mostrou que o potencial de que mais divergências nesse sentido podem ocorrer após a revelação do resultado eleitoral deste domingo. E, no longo prazo, se o partido tiver que discutir seu posicionamento em relação a um eventual governo Lula. Valdemar, afinal, não só fez do seu PL uma fiel base parlamentar dos governos Lula e Dilma, como comandou o bilionário Ministério dos Transportes durante o período.