Maurício Pestana: Diversidade e representatividade nessas eleições
Embora o Brasil seja um país em que o rito democrático é respeitado, existem falhas no sistema que não permitem a verdadeira representatividade étnica
Finalmente chegamos à semana que definirá os candidatos que vão compor as chapas na disputa pelos cargos de presidente e vice-presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais.
O Brasil, embora tenha as instituições colocadas à prova a todo momento, é uma das maiores democracias do mundo. Aqui, há algumas décadas, as eleições têm sido disputadas, e os vencedores tomam posse sem grandes traumas. Recentemente, tivemos dois presidentes que sofreram impeachment, porém sem abalar as instituições que, a rigor, são patronas do sistema político eleitoral brasileiro.
Embora sejamos um país em que o rito democrático tem sido respeitado, existem falhas no sistema que não permitem que a verdadeira representatividade étnica, racial e de gênero do povo brasileiro esteja representada nos Poderes Executivo, Legislativo e até Judiciária do país. Exemplo: mulheres negras representam 28% da população brasileira, são a parcela mais significativa do contingente quando comparadas com mulheres brancas, homens negros e homens brancos. Porém são minoria da Câmara, no Senado são quase inexistentes, e nenhuma ocupa um governo de estado no Brasil, uma vergonha para essa nossa tal democracia.
Neste ano, várias medidas começam a ser adotadas para tentar acabar com essas disparidades, que acabam deslegitimando um processo que é legítimo na sua forma, mas deixa a desejar no resultado final. Sabemos que, em tese, esse sistema abarca a todos, mas no afunilamento privilegia homens e mulheres brancas, sobretudo porque, no aspecto econômico, levam vantagens econômicas por conta do racismo estrutural organizado ainda no período escravocrata com seu aperfeiçoamento de exclusão no pós escravidão.
O financiamento diferenciado para campanhas eleitorais de negros e negras será sim um passo significativo do ponto de vista econômico para atenuar essas disparidades do nosso processo politico eleitoral.
Mas isso, por si só, não dará conta de resolver o problema. Outras ações devem ser pensadas e principalmente a consciência de que jamais poderemos dizer que somos uma democracia verdadeiramente representativa se não houver representatividade do seu povo em todas as instâncias de poder. Acompanhei atento a todas as convenções partidárias, percebi um pequeno avanço em candidaturas negras mas muito longe de representar os 56% da população brasileira.
As chapas majoritárias para presidente e governadores estão muito, mas muito longe dessa representatividade numérica da população. Por isso o debate se faz mais que necessário, a preocupação mais do que legítima.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.
Fotos – os candidatos à Presidência da República
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Debate
As emissoras CNN e SBT, o jornal O Estado de S. Paulo, a revista Veja, o portal Terra e a rádio NovaBrasilFM formaram um pool para realizar o debate entre os candidatos à Presidência da República, que acontecerá no dia 24 de setembro.
O debate será transmitido ao vivo pela CNN na TV e por nossas plataformas digitais.