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    Eleições 2022

    Disputa entre Lula e Bolsonaro tem potencial para fazer com que eleição seja decidida no primeiro turno

    Em segundo lugar nas pesquisas, presidente tem que torcer por um crescimento limitado de outros concorrentes

    Fernando Molicada CNN

    A crescente polarização entre as candidaturas à Presidência de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), a saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa e as dificuldades enfrentadas para a viabilização de uma opção de centro direita indicam a possibilidade de o segundo turno acabar, na prática, sendo antecipado para o dia 2 de outubro, data da primeira rodada de votação.

    Para vencer no primeiro turno, um dos candidatos precisa ter metade mais um do total de votos válidos – na conta não entram os nulos e os em branco. Não é fácil: desde a redemocratização, apenas Fernando Henrique Cardoso (PSDB) conseguiu, por duas vezes, conquistar o título antes do mata-mata.

    Ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco – o presidente que bancou o Plano Real –, FHC entrou na disputa de 1994 embalado pelo sucesso da estabilização econômica e ultrapassou o então favorito Lula ao longo da campanha.

    Houve uma polarização entre os dois candidatos – nenhum dos outros concorrentes chegou a ameaçar o protagonismo da dupla; entre estes, ninguém alcançou os 10% dos votos (o terceiro colocado, Enéas Carneiro, teve o apoio de 7,38% dos eleitores). A baixa votação dos demais candidatos foi decisiva para a vitória antecipada do tucano.

    Em 1998, FHC foi, mais uma vez, favorecido pela polarização. Seu principal adversário – Lula, de novo – receberia 31,71% dos votos. Os demais concorrentes, somados, chegaram a 15,22%.

    No fim das contas, a oposição recebeu quase 47% dos votos válidos, quantidade insuficiente para barrar a reeleição – o terceiro mais votado foi Ciro Gomes (PPS), com 10,97%.

    Em 2002, José Serra (PSDB) obteve, no primeiro turno, 23,19% dos votos – metade dos que foram para Lula (46,44%). O tucano só não perdeu de cara porque foi favorecido pelas boas votações de adversários de centro esquerda que, no segundo turno, fechariam com o petista: Garotinho (PSB, 17,86%) e Ciro (PPS, 11,97%).

    Quatro anos depois, Lula esteve perto de ganhar no primeiro turno (recebeu 48,61% dos votos), mas acabou impedido, mais uma vez, pelos votos de eleitores de esquerda que preferiram outras candidaturas do mesmo campo: Heloisa Helena (Psol, 6,85%) e Cristovam Buarque (PDT, 2,64%). Nas três últimas eleições, os candidatos do segundo pelotão também foram fundamentais para a realização do turno definitivo.

    Pesquisas recentes mostram que Lula e Bolsonaro têm mais de 70% da preferência do eleitorado, o que dificulta o crescimento de Ciro Gomes (PDT) e a viabilização de uma opção por uma direita não radical – nenhum dos demais adversários consegue chegar aos dois dígitos nas intenções de voto.

    A eleição ainda está distante, Lula e Bolsonaro podem cometer erros, tropeços, eventuais mudanças não devem ser descartadas, mas as características dos dois candidatos e da própria eleição dificultam uma terceira via. É padrão em política dizer que, no primeiro turno, vota-se com a mente e o coração (no candidato preferido) e, no segundo, com o fígado (o eleitor vota contra aquele que não quer ver eleito).

    Amados e odiados, Lula e Bolsonaro têm potencial para fazer com que os dois sentimentos sejam associados já na primeira rodada, o que inviabilizaria qualquer outra alternativa e criaria condições para o chamado voto útil, o que esvaziaria ainda mais os outros adversários.

    Apesar de ter demonstrado recuperação nas últimas pesquisas, o atual presidente ainda está bem atrás do petista e, nas condições de hoje, correria mais risco de derrota fatal no primeiro turno.

    A situação coloca Bolsonaro num dilema: ele tem que torcer para que outras candidaturas cresçam, mas não a ponto de ameaçarem sua vice-liderança.

    Ainda é obrigado a conviver com uma situação irônica: ao mesmo tempo em que deve ter comemorado a saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa – dados indicam que ele herdou boa parte de seus eleitores –, o presidente tem também motivos para lamentar a ausência de seu ex-subordinado. Caso não escolham outro candidato e optem por anular seus votos, muitos dos simpatizantes do ex-juiz podem ajudar a derrotar Bolsonaro.

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