Discurso de Bolsonaro em Copacabana indicará os rumos de sua campanha
O país mudou, mas presidente deverá manter o tom que o levou à vitória em 2018
Mais do que um discurso, o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta quarta-feira (7), Dia da Independência, na orla de Copacabana, será um anúncio do tom que irá adotar nas últimas semanas de campanha eleitoral.
Empacado e com leve oscilação negativa em pesquisas, ameaçado com a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) garantir a Presidência da República já no primeiro turno, o atual ocupante do Planalto vai mostrar neste 7 de Setembro se vai continuar a ser o Bolsonaro de sempre ou se tentará incorporar o Jair boa-praça alardeado no horário de TV e que tenta buscar o voto de eleitores mais moderados.
A julgar por sua vitoriosa carreira de três décadas na política, Bolsonaro vai atuar do jeito que sempre gostou de jogar –em campo esburacado, com foco na canela dos adversários. Foi assim que chegou ao Palácio do Planalto, é dessa maneira que tenta ficar por lá.
A estratégia envolve um risco –como indicam as pesquisas, o Brasil de 2022 não é o de 2018; como a Tereza Batista de Jorge Amado, um bom pedaço do país está cansado de guerra, quer ajeitar a vida, arrumar emprego, garantir comida e renda.
Corrupção continua a ser um tema relevante e necessário, mas não dá mais pra dizer que o PT detém uma espécie de monopólio da roubalheira. Adversários, entre eles a campanha de Lula, demonstraram nos últimos dias que, diferentemente do que houve no debate da Band, não vão mais deixar sem resposta acusações de maracutaias.
Graças a uma reportagem do portal UOL que fala de transações imobiliárias suspeitas da família Bolsonaro, a dezena 51 deixou de ser associada apenas a uma marca de cachaça e virou fonte de ressaca e dor de cabeça para o ocupante do Planalto.
A comemoração da Independência, os milhares de cidadãos vestidos de verde e amarelo no cenário de tantas manifestações contra o PT e os efeitos especiais a serem produzidos por integrantes das Forças Armadas formam o ambiente ideal para o desfile dos ideais bolsonaristas. A questão é que tal ideário demonstra não ter hoje o mesmo impacto do verificado em 2018.
Ao longo de quase 30 anos, os princípios que sustentaram a carreira de Jair Bolsonaro foram suficientes para garantir mandatos no legislativo para ele e seus filhos, mas a dureza do seu discurso servia de barreira para voos mais altos –em 2016, o hoje senador e então deputado estadual Flávio Bolsonaro teve apenas 14% dos votos para prefeito do Rio e ficou em quarto lugar na disputa.
O país, já então abalado pela Lava Jato, pelas manifestações de rua e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), ficou ainda mais radical, um perfil que se encaixou no perfil do veterano deputado do baixo clero que dizia ser contra tudo aquilo que estava ali.
Nesses quatro anos, Bolsonaro virou presidente, Lula foi solto, houve pandemia e crise econômica. As condições que favoreceram a ascensão do atual presidente não são mais as mesmas, mas Bolsonaro insiste em manter vivos os fantasmas de 2018, tenta fingir que não é vidraça e procura se manter no papel de quem joga pedras nos palácios, procura negar que é peça importante do tudo que está por aqui.