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    Debates na CPI da Pandemia ignoraram pesquisas científicas confiáveis, diz estudo

    Levantamento conduzido pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data levou em conta mais de 3,2 milhões de palavras das transcrições dos debates

    Senadores Jorginho Mello (PL-SC), Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE); Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Izalci Lucas (PSDB-DF) debatem em intervalo da CPI da Pandemia
    Senadores Jorginho Mello (PL-SC), Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE); Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Izalci Lucas (PSDB-DF) debatem em intervalo da CPI da Pandemia Jefferson Rudy - 29.abr.2021/Agência Senado

    Gabriel HirabahasiLarissa Rodriguesda CNN em Brasília

    Um estudo que analisou todos os discursos dos senadores ao longo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, mostra que as falas dos parlamentares tiveram pouco embasamento técnico e científico, ou seja, não foram calcados em pesquisas confiáveis e reconhecidas pela ciência.

    A pesquisa, divulgada nesta quinta-feira (16), foi conduzida pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data e apoiada pelo Instituto Serrapilheira.

    “Praticamente só os estudos falhos foram debatidos, passando ao largo de quase toda a melhor produção científica sobre a Covid já feita no Brasil”, disse Marcelo Soares, diretor da Lagom Data e responsável pelo relatório.

    De acordo com o levantamento, que levou em conta mais de 3,2 milhões de palavras das transcrições dos debates, tanto a oposição ao então governo de Jair Bolsonaro (PL), quanto os defensores do então chefe do Executivo, usaram poucas pesquisas confiáveis.

    Segundo o estudo, por exemplo, das 110 “referências científicas” localizadas nas falas da CPI da Pandemia, o maior volume (42 ou 39,3%) veio do senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), ligado a Bolsonaro, que depois assumiu pegar tais informações de um grupo de WhatsApp.

    O relatório cita um caso em que Heinze usou como embasamento uma imagem divulgada nas redes sociais de uma suposta pesquisadora por estudos sobre a cloroquina. A mulher, na verdade, era uma ex-atriz pornô.

    “A principal estratégia de Heinze era metralhar as sessões com referências de difícil verificação. Em uma das falas, citou a pesquisa de ‘um moço, brasileiro’. Em outra fala, disse ter acesso a 284 pesquisas positivas sobre os efeitos da hidroxicloroquina e 137 sobre a ivermectina. Em outras sessões, Heinze perguntava aos convocados qual era o seu índice H – métrica utilizada para quantificar o impacto de cientistas a partir de seus artigos mais citados”, afirma o relatório.

    A pesquisa ainda diz que as referências científicas foram usadas de forma distorcida na CPI e cita que o único pesquisador com estudos sobre a Covid foi o ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) Pedro Hallal.

    “A maior parte das referências acadêmicas, na CPI, foi mobilizada pelos governistas, de maneira distorcida. Além disso, durante a CPI, o único pesquisador ativo em estudos sobre a Covid foi Pedro Hallal”, reforça. Os dados mostram ainda como as discussões em uma CPI costumam envolver muito mais visões políticas e ideológicas do que critérios técnicos que uma investigação exige.

    O estudo mostra como aliados do ex-presidente tentaram dar um verniz técnico a suas falas, com o uso de palavras com fundo técnico. Termos como “randomizados”, “metanálise” e “preprint” foram mais utilizados por bolsonaristas do que por oposicionistas.

    No caso da CPI da Pandemia, senadores apoiadores de Bolsonaro defenderam, ao longo dos trabalhos da comissão, a possibilidade de prescrição de remédios ineficazes contra a Covid-19, como a cloroquina. Também criticaram medidas de distanciamento social decretadas por gestores locais para evitar a proliferação do coronavírus.

    Apesar desse viés político de uma CPI, o relatório reforça o espaço que os temas investigados por essas comissões costumam ganhar no ambiente público. Segundo o texto, a CPI da Pandemia “escancarou a urgente necessidade da abertura da ciência para a sociedade”.

    “Um ponto relevante deve ser exposto aqui. Entende-se que políticos não são aptos para tratar de ciência e, portanto, não caberia à CPI esse papel legitimador. Apesar disso, espaços públicos e de visibilidade são importantes para o debate sobre os processos científicos, principalmente durante e após uma pandemia. De forma semelhante à dos percalços do jornalismo em enfrentar a desinformação, em que pouco se consegue desarmar e combater textos com informações falsas lidas como notícias, a CPI escancarou a urgente necessidade da abertura da ciência para a sociedade”, afirma.

    Outras CPI’s

    Atualmente, estão em debate no Congresso Nacional diversos pedidos de CPI.

    O principal deles envolve a investigação sobre os atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília.

    Também são motivo para aberturas de CPIs as invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a suposta fraude contábil da Americanas, denúncias de manipulação de resultados esportivos por causa de apostas online e a acusação contra aliados de Bolsonaro por causa de pacotes de joias trazidos ao Brasil de presente do reino da Arábia Saudita.