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    Dados enviados pelo Google são última cartada para chegar ao mandante do caso Marielle

    Investigação chega ao quinto ano com tensão entre as instituições nos bastidores após a chegada da Polícia Federal

    Leandro Resendeda CNN São Paulo

    Cinco anos após a morte de Marielle Franco, completados nesta terça-feira (14), o Ministério Público e a Polícia Civil do Rio trabalham com três hipóteses para chegar a um possível mandante do crime.

    Depois de centenas de prisões em desdobramentos do caso, tentativas de delação, oito trocas de investigadores e a recente chegada da Polícia Federal na apuração, o cenário é de tensão nos bastidores do caso, mas com uma última cartada: um conjunto de dados criptografados entregues pelo Google no final do ano passado ao Ministério Público do Rio representa, hoje, a grande esperança para elucidação total da morte da polícia e de seu motorista, Anderson Gomes.

    Após uma longa batalha judicial, a empresa concordou em entregar os dados sobre quem fez pesquisas sobre a política no dia do crime em duas áreas delimitadas: no Estácio, na Zona Norte do Rio, onde Marielle foi morta, e no local onde estava um dos principais suspeitos de ter envolvimento com o crime.

    O conjunto de dados chegou ao MP no final do ano passado, antes de a equipe à frente do caso ser trocada pela terceira vez.

    De acordo com investigadores, os dados vieram criptografados e novas negociações e pedidos à Justiça e ao Google são necessários para que se compreenda se houve algum contato entre o suspeito de ser o mandante e os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, presos pelo crime desde 2019.

    Em termos de prova material, esta é considerada a última cartada para que se chegue ao mandante do crime.

    A CNN apurou que os investigadores trabalham com três hipóteses para o crime e tentam entender o envolvimento de dois personagens conhecidos do submundo do crime fluminense.

    • A atuação de Marielle Franco como vereadora teria esbarrado em interesses da milícia que atua na região de Jacarepaguá;
    • A vereadora foi morta como vingança pela atuação de Marcelo Freixo, hoje presidente da Embratur, como presidente da CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio;
    • Ronnie Lessa teria cometido um crime de ódio contra Marielle por suas posições políticas, ou seja, o crime não teria um mandante.
      Nas duas primeiras linhas, dois personagens mobilizam os investigadores:
    • O ex-vereador Cristiano Girão, preso desde 2022 por ter mandado matar um policial militar em 2014. O crime foi cometido, segundo a Polícia Civil e o MP, por Ronnie Lessa. De acordo com investigadores, a morte de 2014 e de Marielle tem características semelhantes e reforçam o elo de Girão e Lessa.
    • O contraventor Rogério de Andrade, um dos principais operadores do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Ele é tratado como um “intermediário” entre o mandante da morte de Marielle e Ronnie Lessa, acusado de ser o executor. Andrade foi preso em agosto do ano passado por ser o cabeça de um esquema de pagamento de propina a policiais.

    Ambos negam envolvimento com o crime. A defesa de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz aguardam a marcação do júri.

    Entrada da PF

    A entrada da Polícia Federal no caso Marielle, determinada pelo ministro da Justiça Flávio Dino e acordada com o procurador-geral de Justiça do Rio, Luciano Mattos, representa um novo recomeço para apuração do caso.

    A CNN apurou que uma equipe de cerca de 10 policiais federais entrou no caso e atua, neste momento, para entender se MP e Polícia Civil já exauriram todo o material coletado nos últimos anos de investigação.

    Quem comanda a investigação é o delegado Leandro Almada, que esteve à frente de uma investigação da PF em 2019 que mostrou como a Polícia Civil foi ludibriada por uma versão falsa dada por um miliciano sobre o crime.

    A federalização das investigações, rejeitada pelo STJ em 2020, ainda é lembrada por policiais federais ouvidos pela CNN como uma “chance perdida”, o que mostra uma tensão com a Polícia Civil do Rio: lá, a entrada da PF agora no caso é vista como desnecessária.

    Apesar das tensões, investigadores das três instituições envolvidas acreditam num desfecho para o episódio, mas o otimismo é menor: cinco anos depois do crime, as chances de obtenção de uma prova técnica são mais reduzidas. Por isso há expectativa pelos dados do Google e pelo julgamento dos ex-policiais presos pelo crime no Tribunal do Júri.

    “Quando perceberem que vão ficar o resto da vida presos, pode ser que façam uma delação”, pondera um investigador envolvido com o caso.