Crise e caldo de galinha
Quem exerce a obrigação de administrar as crises não tem o direito de agudizar esses eventos, a não ser que pretenda tentar uma indesejável ruptura do processo democrático
A crise política que estamos atravessando não é nenhuma grande surpresa. Vinha sendo desenhada há tempos por seus principais protagonistas.
E óbvio, tende a ficar mais aguda com o avanço das campanhas eleitorais. Momentos como este são superáveis na medida em que as instituições cumpram seus papéis constitucionais.
Quem exerce a obrigação de administrá-las não tem o direito de agudizar esses eventos, a não ser que pretenda tentar uma indesejável ruptura do processo democrático.
O grande perigo são os acidentes de percurso. E, como estava escrito nos antigos bondes paulistanos, evitar acidentes é dever de todos.
Nesse quadro, o ministro Luís Roberto Barroso errou e o fez de maneira canhestra. Não poderia se esperar de um jurista de seu calibre acusações sobre as Forças Armadas, dispensando provas ou indícios.
Perdeu a cabeça, exatamente quando o momento exige todo o equilíbrio. A questão das urnas eletrônicas pede apenas esclarecimentos, por mais que devam ser repetidos. Aparelhos eletrônicos são sempre sujeitos a intempéries.
O ministro se agarrou às teses dos especialistas da Justiça Eleitoral com se essas fossem infalíveis. Se chamado a lide por forças desagregadoras, não poderia aceitar o combate.
A receita racional seria agarrar-se a sua toga e pairar acima do que se considera ataque indevidos. Como diriam nossas avós, chá de folha de maracujá não faz mal a ninguém.
O Supremo caiu na armadilha que ajudou a construir. Mais político do que jurídico, não conseguiu sentenciar um obscuro deputado com a necessária serenidade.
Foi à briga, precipitou o julgamento e exagerou na dose. Acabou perdendo para a letra do próprio texto constitucional que tem a obrigação de defender.
Agora é engolir o revés, limpar a poeira e dar a volta por cima O ilustre parlamentar Daniel Silveira não merece tanto. É – como diriam nossas avós – gastar vela com mau defunto. E se as coisas piorarem, recorram a um outro aviso estampando nos bondes: pílulas do dr. Ross fazem bem ao fígado de todos nós.
Numa crise dessas, cabe ao chefe do governo ser bombeiro e não parte incendiária. O presidente Bolsonaro precisa ter em conta que será julgado pela História e não pelos daniéis da vida.
A utilização do confronto como instrumento de luta político-eleitoral é extremamente perigosa. Pode voltar-se contra ele, que aparentemente está sempre empenhado em criar inimigos.
O campo é de luta política, nada tem a ver com um ringue de boxe. Bolsonaro tem compromissos com a população brasileira e com isso não se brinca. Se for difícil, nossa avós recomendariam uma dose dupla de suco de maracujá.
Militares só devem bater continência para a Constituição. São treinados para a guerra e não para a política, coisas muito diferentes. A eles nossas avós recomendariam caldo de galinha, bom senso e silêncio.