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    Crise das vacinas reacende disputa interna no governo

    O momento reanimou o conflito entre as alas militar e ideológica do governo

    Caio Junqueirada CNN



     

    As dificuldades do Brasil em assegurar uma escala maior de vacinação da sua população reacendeu no governo a disputa entre as alas militar e ideológica.

    Militares atribuem aos responsáveis pelas relações exteriores brasileiras grande parcela de responsabilidade tanto pela dificuldade da importação dos insumos da China para a produção da vacina contra o coronavírus no Brasil como também pela aposta na parceria com o ex-presidente Donald Trump.

    E já fazem apostas sobre o momento ideal para que o ministro Ernesto Araújo seja substituído. Já se fala até em eventuais postos no exterior que ele poderia ocupar, como embaixadas do “circuito Elizabeth Arden”, as mais prestigiosas do mundo, como Nova York, Londres, Paris, Roma e Madri.

    Há até mesmo a comparação com o que ocorreu com o ex-ministro da educação, Abraham Weuintraub. Integrante da ala ideológica, os militares sempre defenderam sua saída, mas o presidente Jair Bolsonaro só o exonerou após entrar em conflito com o Supremo Tribunal Federal. A aposta é que Ernesto possa ter o mesmo destino.

    Por outro lado, a ala ideológica se defende. Avalia que muitas das dificuldades que Ernesto tem tido se devem ao que consideram “trapalhadas” – é esse o termo utilizado – do ministro da saúde, general Eduardo Pazuello. Como a primeira – e frustrada – operação para tentar trazer os dois milhões de doses de vacinas da Astrazeneca da Índia.

    Enquanto o país asiático pedia discrição, Pazuello avalizou uma operação de marketing sobre a saída e chegada do avião. Além disso, dizem, o Itamaraty só foi avisado das dificuldades no início deste mês. E, ainda nessa leitura, quando entrou, resolveu. Tanto que o próprio presidente reconheceu em um tuíte nesta tarde no qual elogiou o chanceler.

     

    O mesmo, para esse grupo, ocorre com a China agora. A diplomacia brasileira considera que Ernesto e a Embaixada do Brasil em Pequim estão com a situação sob controle, que não há impasse político, mas sim burocrático, e que a crise com a China é “fabricada”.

    E vão além: tentam evitar ao máximo que Bolsonaro precise fazer uma ligação para o presidente chinês, Xi Jinping, para tentar resolver a situação. O Itamaraty ainda não fez o pedido oficial para essa conversa.  
    Não há, porém, no curto prazo, a perspectiva de que Ernesto ou Pazuello deixem o cargo. Pelo menos por parte do presidente.  

    Mas há, por outro lado, um crescente incômodo de militares da reserva e principalmente da ativa com o fato de Pazuello ainda estar na ativa. E pior: que ele não tem dado nenhum sinal de que pretende pedir para ir para a reserva o que, em tese, tiraria o peso da condução da pandemia das costas do Exército.

    De qualquer modo, não há a percepção no governo de que os problemas da pandemia são diretamente relacionados a Pazuello ou ao presidente. A Bolsonaro, é atribuída tão somente parcela de culpa por nunca ter dado o exemplo, usando, por exemplo, máscaras, ou defendendo a vacinação.

    A Pazuello, dificuldades de comunicação e de se relacionar com a imprensa. O restante da culpa, dizem fontes do governo, cabe à má administração dos recursos federais encaminhados por Brasília a estados e prefeituras e também á própria população, que relaxou nas medidas de prevenção, em especial no final do ano.

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