CPI terá último depoimento sobre a Davati nesta semana, diz Omar Aziz
Presidente da Comissão afirmou que 'não há mais o que falar' sobre suspeitas de propina em negociação de vacinas
O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Pandemia, afirmou em entrevista à CNN neste domingo (08) que esta semana de trabalhos será a última com um depoimento sobre as suspeitas de pedido de propina na compra de vacinas envolvendo a empresa Davati Medical Supply e o Ministério da Saúde.
Para Aziz, “não tem mais o que falar sobre a Davati”, já que, na visão da cúpula da comissão, ficou claro que o governo federal “dava preferência para negociar vacina quando beneficiava alguém, quando tinha algum propósito escuso”, declarou. “Quando era sério, quando não tinha intermediário, eles não respondiam, como no caso da Pfizer e da Coronavac“, disse.
“As conclusões são claras, não tem mais o que investigar. A omissão em relação à compra de vacina com qualidade, presteza, como foi o caso do consórcio [Covax Facility] oferecido para o Brasil, a rapidez no contrato no caso da Covaxin, o caso da Davati, o mais esdrúxulo possível…”, criticou.
Os depoimentos da CPI da Pandemia voltam na próxima terça-feira (10) com o presidente do Instituto Força Brasil, o coronel da reserva Helcio Bruno. Este depoimento é esperado, uma vez que representantes da Davati disseram que Helcio Bruno teria intermediado um encontro entre a empresa e o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronel Élcio Franco.
Aziz ainda afirmou na entrevista que o Instituto chefiado pelo coronel é “totalmente negacionista”, e que as oitivas feitas com o reverendo Amilton de Paula e com Cristiano Carvalho, representante da Davati no Brasil, deram a entender que Hélcio Bruno também queria entrar na negociação de vacinas contra a Covid-19 junto ao setor privado.
“Para vender vacina, tudo bem, mas para dar publicidade que a vacina salva vidas, não. [O site vai] contra princípios cientificos só para ser solidário ao presidente da República”, criticou Aziz, ao afirmar que o portal defendia o uso de medicamentos sem eficácia.
A temática sobre os remédios do chamado “tratamento precoce” também voltará ao centro do debate nesta semana. Na quarta-feira (10), a CPI ouve o representante da Indústria Farmacêutica Vitalmedic, Jailton Batista. A empresa é fabricante de medicamentos do chamado “kit-Covid”, que não tem eficácia comprovada contra a doença.
O presidente da Comissão afirmou que a Vitalmedic também pagou por publicidade dos medicamentos nos “principais jornais do país”, e que a CPI já tem documentos suficientes para provar esta alegação. “Bancou publicidade para vender remédio sem eficácia nenhuma, e que cria no ser humano sequelas e questões muito sérias”, disse o senador. “Isso é crime contra a vida, crime seríssimo”.
“Começamos agora a investigar esses laboratórios que tiraram proveito do óbito dos brasileiros, para faturar 10, 15 vezes mais. […] Aquele gabinete paralelo defendia esse tratamento precoce. Isso era todo um programa feito paa isso, para beneficiar esses laboratórios. Não é do nada que surge isso. [No caso da] cloroquina, quiseram até mudar a bula”, complementou.
A CNN pediu um posicionamento da Vitalmedic sobre as afirmações feitas por Omar Aziz, mas ainda não recebeu resposta.
Ricardo Barros ‘sem timing’
Por fim, a semana na comissão deverá ouvir, após diversas remarcações, o líder do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). No entanto, a presença do parlamentar, para Aziz, não deveria acontecer mais.
Barros chegou à CPI após o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) revelar que, ao contar para o presidente sobre os indícios de corrupção na aquisição da vacina indiana Covaxin, Bolsonaro teria mencionado que o caso teria o envolvimento de Ricardo Barros.
Omar Aziz afimou que, já que o presidente nunca negou que tenha dito tais palavras à Miranda, o depoimento do parlamentar não tem o “timing correto” para ocorrer.
Para a conclusão do relatório final da CPI, Aziz afirmou que os senadores precisam compilar informações sobre a Precisa Medicamentos – a intermediadora no caso Covaxin -, sobre fake news envolvendo a pandemia do coronavírus no Brasil, sobre os laboratórios que produziam medicamentos sem eficácia e também sobre as suspeitas envolvendo corrupção em hospitais no Rio de Janeiro. “Quanto mais rápido pudermos ter o relatório, faremos”.
Witzel
Aziz disse também que vai recorrer à Justiça para incluir o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, no Programa de Proteção à Testemunha. “Se acontecer alguma coisa com o ex-governador, é uma coisa que vai ficar desagradável”, afirmou.
Segundo o senador, o Witzel recusou escolta de proteção da Polícia Federal. O motivo não foi informado. A CNN procurou Wilson Witzel e aguarda retorno. No fim da semana passada, o ex-governador recusou-se a entrar no programa de proteção à testemunha nos termos oferecidos pelo governo do estado.
‘Sem chances’ de ruptura institucional
Questionado sobre as últimas semanas de tensão entre os poderes no país, especialmente devido à narrativas sobre o sistema eleitoral, colocado em dúvida por Jair Bolsonaro, o senador disse não acreditar que haja chances de uma ruptura institucional no Brasil.
“A história se repete em alguns casos, nao há condições subjetivas e nem objetivas para que se tenha o retrocesso democrático no país. [Aconteceria] só porque o presidente não aceita jogar um jogo que vem sendo feito há várias eleições?”, comentou.
“Nós temos um presidente em permanente campanha desde 2017. Ele não governa. Não tem campanha para segurança pública. Queria que ele falasse quais são os programas para segurança quando nossos jovens estão sendo cooptados por facções, quando a sociedade fica enjaulada com medo de ser assaltada”, complementou. “Quem está criando esse isolamento é o próprio presidente”.
Para Aziz, “nenhuma briga entre poderes é boa”, mas o Supremo Tribunal Federal tem se posicionado de maneira equilibrada até então. Para ele, assim que a Câmara avaliar, em Plenário, a PEC do Voto Impresso na próxima terça-feira (10), o assunto estará encerrado.
*Renata Souza com supervisão de Letícia Vidica
**Com informações de Carol Rosito, da CNN, em Brasília