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    Investimentos do governo em cloroquina, em março de 2020, contradizem Wajngarten

    Em depoimento à CPI da Pandemia, ex-secretário de Comunicação disse que não se falava em cloroquina em março de 2020

    José Brito, da CNN, em São Paulo

    Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia nesta quarta-feira (12), o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) Fabio Wajngarten disse que não se falava em cloroquina em março de 2020 como opção de tratamento para a Covid-19. “Eu peguei Covid em março. A palavra cloroquina não existia em março. Se ela fosse comprovada, eu iria submetê-la ao meu médico, que cuidou de mim”, disse.

    No mesmo período do ano passado, porém, a mesma Secom divulgava que o medicamento estava aprovado para casos graves da doença, o Ministério da Defesa anunciava o aumento da produção do medicamento nos três laboratórios das Forças Armadas e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendia o uso em reunião do G-20.

    Após o governo norte-americano anunciar, no dia 19 de março, que a hidroxicloroquina poderia ter eficácia contra o novo coronavírus – mesmo sem haver pesquisas científicas comprovando o uso –, a procura pela droga aumentou e o medicamento sumiu das prateleiras, segundo apuração da CNN da época. 

    No dia seguinte, em 20 de março, a Anvisa já não recomendava a utilização do medicamento para uso em pacientes da doença e, inclusive, passou a considerar a hidroxicloroquina e a cloroquina como medicamentos controlados. Segundo a agência, a medida foi tomada “para evitar que pessoas que não precisam desses medicamentos provoquem um desabastecimento no mercado.” 

    Em entrevista exclusiva à CNN, um dia depois, em 21 de março de 2020, o presidente afirmou que estava confiante de que o medicamento Reuquinol, que possui como princípio ativo a hidroxicloroquina, seria eficiente para evitar um contágio mais rápido da doença no Brasil. “Existe a possibilidade, sim, de que o Reuquinol seja eficaz para tratar os portadores da Covid-19″, disse.

    Bolsonaro lembrou, na época, que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) possuía 4 milhões de comprimidos do medicamento. “Temos bastante para começar, mas é um medicamento barato. Não à toa, a Apsen (laboratório produtor do Reuquinol) está doando 10 milhões de unidades. Uma vez confirmada, vamos distribuir para todos os infectados”, disse.

    Em nota, a farmacêutica informou que essa doação não aconteceu. “Ciente de seu papel social, a oferta foi uma manifestação da companhia em se colocar à disposição das autoridades de saúde pública do país caso houvesse confirmação dos benefícios da hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19. Como não houve comprovação sobre a eficácia do medicamento no combate à pandemia, a doação não se concretizou”, disse.

    Ainda no mesmo mês de março do ano passado, no dia 26, o presidente defendeu o uso de hidroxicloroquina, em reunião virtual ao G-20, conforme adiantado pelo analista de política da CNN, Caio Junqueira. Na ocasião, Bolsonaro falou especificamente sobre a hidroxicloroquina. Disse que o Brasil e os Estados Unidos pesquisam os efeitos do produto no combate ao coronavírus.

    Dois dias depois, em entrevista coletiva no dia 28 de março, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que fez alerta sobre os medicamentos como tratamento à Covid-19 e comumente usado no tratamento da malária. “Cloroquina não é uma panaceia. Cloroquina não é o remédio que veio para salvar a humanidade. Ainda”, disse. 

    No mesmo dia, as redes sociais da Secom publicaram a um vídeo sobre o trabalho do governo federal e da pasta da Saúde incluindo a distribuição de 3,4 milhões de unidades de cloroquina e hidroxicloroquina para uso em pacientes da Covid-19 em estado grave. 

    Segundo a pasta da Defesa, em 29 de março de 2020, o Laboratório Farmacêutico da Marinha (LFM), no Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) e no Laboratório Químico Farmacêutico da Força Aérea (LAQFA), todos localizados no Rio de Janeiro, tinham a expectativa, na época, de produzir cerca de 500 mil comprimidos por semana para serem entregues ao Ministério da Saúde. 

    Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil fechou o mês de março de 2020 com 201 mortes e 5.717 casos confirmados do novo coronavírus. Atualmente, já são registrados mais de 15 milhões de casos e mais de 425 mil mortes pela doença.

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