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    Condenado por armar bomba no aeroporto do DF nega relação do episódio com o 8 de janeiro

    Essa foi uma das poucas respostas dadas por George Washington de Oliveira Sousa, que prestou depoimento à CPMI no Congresso

    Gabriel Hirabahasida CNN , Em Brasília

    Condenado pela tentativa de atentado a bomba no aeroporto de Brasília na véspera do Natal de 2022, George Washington de Oliveira Sousa disse, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, que o episódio não se relaciona com a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília no início do ano.

    Essa foi uma das poucas respostas dadas por George Washington ao longo do depoimento, no qual ele decidiu permanecer em silêncio durante a maior parte do tempo.

    Quando questionado sobre a relação do atentado pelo qual foi condenado com os atos criminosos de 8 de janeiro, Washington respondeu: “Absolutamente não [estão relacionados].”

    “O dia 12 [de dezembro, quando houve tentativa de invasão na sede da Polícia Federal em Brasília por parte de indígenas] não tem nada a ver com o dia 24 [dia do atentado no aeroporto], nem o dia 24 tem a ver com o dia 12 e o dia 8 [de janeiro]”, disse George Washington.

    O condenado negou, ainda, ter escrito uma carta a ser endereçada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O documento foi encontrado no celular de George Washington. No texto, havia exaltação do ex-presidente e um pedido de apoio para um movimento de contestação do resultado eleitoral.

    “E outra coisa, essa carta, se foi escrita, se está no meu celular, não fui eu”, afirmou, após ser questionado inúmeras vezes pelos integrantes da CPMI sobre o documento –e ter negado a responder em praticamente todas as oportunidades.

    Ao longo da sessão da CPMI desta quinta, George Washington negou que tenha tido contato pessoal com o ex-presidente da República Jair Bolsonaro, nem que tenha o telefone dele ou enviado carta a ele.

    Após o fim da sessão, a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), reforçou que o direito ao silêncio não é um direito irrestrito na CPI e comentou o comportamento do depoente, a seu ver.

    “Numa primeira leva se recusou a falar. Claramente ficou à vontade com parlamentares que têm uma ligação política com o ex-presidente da República [Jair Bolsonaro] e depois tentou, inclusive, apresentar uma denúncia que não tem uma fundamentação, que seria uma adulteração no seu depoimento. Ora, ele apresenta isso na comissão, mas ao longo de todo o processo ele em nenhum momento fez essa denúncia, através inclusive da sua defesa. Então é algo claramente que não se sustenta.”

    Ela ainda disse que o dia foi “proveitoso” devido às participações de integrantes da Polícia Civil do Distrito Federal que investigaram a tentativa de atentado.

    “Claramente o delegado deixou pra todos nós a afirmação de que há uma ligação dos atos do dia 12 de dezembro também com atos do dia 24 de dezembro, ou seja, compatibiliza com o plano de trabalho que nós elaboramos, quando nós avaliamos o 8 de janeiro a gente compreende que todo o debate acerca do 8 de janeiro é voltado para o questionamento do processo eleitoral da mesma forma como foi 12 de dezembro e também o 24 de dezembro, e o delegado de uma forma técnica, e isso foi muito claro colocado por ele, ele faz uma relação direta tanto com o 12 de dezembro quanto com o 24, exatamente porque os atores eram os mesmos”, avaliou.

    Indagada sobre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro preso, ela defendeu que ele seja ouvido como testemunha”.

    “Acho que há algum entendimento hoje de que os fatos que nós estamos a investigar são fatos absolutamente amplos do ponto de vista do contexto que se inicia do dia 30 de outubro, que é o resultado do processo eleitoral, até o dia 8 de janeiro. Então há fatos onde há uma indicação mais direta e outros onde há apenas uma coautoria. Então daí a necessidade de fato de ele ser tratado como testemunha.”

    Nesta quinta, o presidente da CPMI, Arthur Maia (União Brasil-BA), disse que a secretaria da comissão vai estabelecer o que é ou não secreto em relação aos documentos recebidos. Ele acrescentou que deve dar um direcionamento sobre o acesso dos membros do colegiado aos documentos sigilosos na próxima segunda-feira (26).

    Bomba no aeroporto

    Washington foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DFT) por ter participado do plano de produzir a bomba e colocá-la no aeroporto de Brasília.

    Segundo a investigação, Washington seria o responsável pela montagem do dispositivo e por entregá-lo a outra pessoa que a levaria ao aeroporto. Alan Diego dos Santos Rodrigues também foi condenado. Ele confessou ter pegado a bomba e colocado o artefato no caminhão-tanque perto do aeroporto.

    No depoimento na CPMI, George Washington se limitou a dizer que ele nunca colocaria a bomba em um caminhão-tanque.

    “O que eu posso dizer à senhora é que nunca na minha vida colocaria uma bomba em cima de um caminhão-tanque, ou, como alegaram, do caminhão-tanque entrar dentro do aeroporto e explodir do lado de um avião”, afirmou.

    Questionado sobre se conhecia Wellington Macedo de Souza, o terceiro acusado por envolvimento no atentado ao aeroporto, George Washington disse que não o conhecia. Em seguida, ao ser perguntado se conhecia Alan Diego, Washington se manteve em silêncio.

    Acusação de fraude no depoimento

    George Washington disse que seu depoimento foi fraudado e que trechos foram incluídos sem o seu consentimento.

    Segundo o depoente, ele teria pedido para serem retiradas menções ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As menções a Bolsonaro, porém, teriam sido mantidas.

    “Inclusive, no depoimento constava duas vezes o nome do presidente Lula, que eu pedi para ser retirado e constava mais de duas vezes o nome do presidente Bolsonaro, colocado por eles. Eu não falei em momento nenhum em presidente Lula e ex-presidente Bolsonaro”, afirmou.

    Washington sugeriu ainda que o depoimento teria sido influenciado por um policial federal.

    “No meu depoimento do dia 24, estava na 1ª DP, se não me engano, fui recebido pelo secretário de Segurança do DF. Dentro da sala, muito bem recebido, dentro da sala havia mais ou menos de 12, talvez 18 homens da polícia, delegados, investigadores… Quando fui para a sala prestar depoimento, estava com um delegado da Polícia Civil. E ao começar o depoimento chegou um delegado da Polícia Federal, interrompeu e pediu para o delegado da Polícia Civil se retirar da sala para conversar em particular”, relatou.

    “O delegado da Polícia Civil, após conversar com o delegado da PF, já mudou o teor das perguntas. Houve gritos lá dentro, contra a minha pessoa, para que eu assinasse aquele depoimento”, completou.

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