Comissão em SP encaminhará relatório ao STF sobre desocupação de acampamentos
Integrantes do grupo pretendem pedir orientação sobre prisões em flagrante, determinadas por Alexandre de Moraes
Uma comissão externa criada por parlamentares e órgãos paulistas para acompanhar o desmonte dos acampamentos em frente a quartéis no estado pretende encaminhar um relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito do que foi observado durante o processo de desocupação.
Segundo uma das articuladoras do grupo, a deputada estadual Mônica Seixas (PSOL-SP), um dos objetivos também é pedir orientações em relação à determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, sobre prisões em flagrante.
Na decisão, o ministro determina “a dissolução e desocupação total em 24 (vinte e quatro) horas, dos acampamentos realizados nas imediações dos Quartéis Generais e outras unidades militares para a prática de atos antidemocráticos e prisão em flagrante de seus participantes pela prática dos crimes previstos nos artigos 2ª, 3º, 5º e 6º (atos terroristas, inclusive preparatórios) da Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016 e nos artigos 288 (associação criminosa), 359-L (abolição violenta do Estado Democrático de Direito) e 359-M (golpe de Estado), 147 (ameaça), 147-A, § 1º, III (perseguição), 286 (incitação ao crime)”.
Para o cumprimento da ordem, Moraes definiu que a operação deveria ser realizada “pelas polícias militares dos estados e do DF, com apoio da Força Nacional e Polícia Federal, se necessário, devendo o governador do estado e DF ser intimado para efetuar a decisão, sob pena de responsabilidade pessoal”.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) informou por meio de nota que desmobilizou, em oito horas, 34 acampamentos de manifestantes “localizados na frente de unidades militares e distribuidoras de combustível” e que “as ações foram realizadas de forma pacífica, sem informações de incidentes”.
O presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP), Dimitri Sales, que integra a comissão externa, afirmou que, pelas informações colhidas no acompanhamento das desocupações, não houve registro de prisão efetuada.
A CNN confirmou que, até o momento, não houve prisões.
Para o presidente do conselho, o possível não cumprimento de prisões em flagrante determinadas por Moraes pode gerar a sensação de impunidade àqueles que se enquadravam nos crimes citados pelo ministro.
“Como pessoas fora de Brasília não foram responsabilizadas, elas não estão entendendo que elas cometeram crimes e podem voltar a promover atos antidemocráticos, perpetuando a prática criminosa”, destacou.
Além de questões relativas a possíveis descumprimentos das prisões em flagrante, o grupo também pretende questionar a Suprema Corte sobre até que ponto o estado de São Paulo cumpriu com a decisão de Moraes.
Outra questão que deve ser levantada é sobre o que deve ser feito com os integrantes dos acampamentos que deixaram as estruturas, mas seguem nos arredores dos quartéis.
Para a líder do PSOL na Alesp, deputada Mônica Seixas, não basta desmantelar as estruturas ocupadas pelos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Há uma necessidade de o estado [São Paulo] garantir que não haverá o reestabelecimento do acampamento e não somente desmontar as barracas”, avalia.
Comissão Externa
A comissão externa foi articulada pela deputada estadual Mônica Seixas (PSOL), além da Deputada Federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e outros parlamentares do próprio PSOL, do PT e do PSB.
Participam também integrantes do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Conselho de Direitos Humanos da OAB e Ouvidoria da Polícia.
De acordo com Seixas, a comissão tem a intenção de pressionar e garantir, de maneira independente, o cumprimento da ordem de Moraes.
O grupo foi criado após a formação de um gabinete de crise pelo Governo de São Paulo para tratar da decisão de Moraes, que também determinava a desobstrução de todas as vias públicas que ilicitamente estivessem com seu trânsito interrompido.
No dia da determinação do ministro do STF, a comissão externa encaminhou 35 ofícios a batalhões e à SSP-SP, solicitando informações sobre as medidas executadas para o cumprimento da decisão do ministro.
Ofício encaminhado à SSP
Integrante da comissão externa, o Condepe-SP enviou, na terça-feira (10), um requerimento de informações à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a respeito do processo de desmantelamento dos acampamentos no estado.
No documento obtido pela CNN, o conselho pede que a SSP-SP envie, em até 30 dias, respostas aos seguintes questionamentos:
1. Quantidade de acampamentos localizados nas imediações dos quartéis generais e outras unidades militares para a prática de atos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo no dia 8 de janeiro de 2023;
2. Localidades dos referidos acampamentos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo no dia 8 de janeiro de 2023;
3. Quantidade de acampamentos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo desmontados no dia 9 de janeiro de 2023;
4. Quantidade de acampamentos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo desmontados no dia 10 de janeiro de 2023;
5. A metodologia adotada pela Secretaria da Segurança Pública para a realização de desocupações e desmontagens dos acampamentos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo;
6. Se, para as desocupações e desmontagens dos acampamentos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo, foi necessário o apoio de agentes da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Federal;
7. Se houve registro de ocorrência da prática do crime de resistência (art. 329, Código Penal) à atuação dos agentes da segurança pública no momento das desocupações e desmontagens dos acampamentos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo e quais medidas foram adotadas para conter eventual desobediência ao cumprimento da ordem judicial, emanada do Ministro Alexandre de Moraes, informando o número de prisões efetuadas, se ocorridas;
8. Se, no momento das desocupações e desmontagens, foi constatada a prática de crimes nos acampamentos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo, além dos constantes da citada decisão judicial, especificando-os;
9. Quantidade de prisões efetuadas no momento das desocupações e desmontagens dos acampamentos antidemocráticos instalados no estado de São Paulo, nos termos da expressa determinação do eminente ministro Alexandre de Moraes.
O conselho solicita ainda o envio de cópia de todos os “relatórios das desocupações e desmontagens dos acampamentos antidemocráticos produzidos pelas autoridades policiais que comandaram estas operações”.