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    Eleições 2022

    Com vitória de Leite, RS quebra tradição e dá 2º mandato seguido a governador

    Até este domingo (30), nenhum dos cinco chefes do Executivo gaúcho haviam conseguido o feito

    Eduardo Leite, governador eleito no RS
    Eduardo Leite, governador eleito no RS Gustavo Mansur/Palácio Piratini

    Da CNN

    A vitória de Eduardo Leite (PSDB) sobre Onyx Lorenzoni (PL) neste domingo (30), na disputa do Rio Grande do Sul, quebra uma tradição mantida desde 1998, quando as eleições brasileiras passaram a permitir que os chefes do Executivo tentassem se manter no cargo por mais um mandato consecutivo.

    Até hoje, nenhum governador gaúcho havia conseguido esse feito. Leite, em tese, não foi reeleito, porque renunciou ao cargo em março, mas venceu o pleito por duas eleições seguidas. Por esse motivo, ele não poderá concorrer à reeleição em 2026 — a lei estabelece que a chefia do Poder Executivo não pode ser ocupada pela mesma pessoa por mais de dois mandatos seguidos.

    Há 20 anos no mesmo partido, Leite tinha posição histórica contra a reeleição. Não disputou um segundo mandato à frente da Prefeitura de Pelotas, em 2016, para ser candidato a governador dois anos depois.

    Mas o tucano, que foi pré-candidato à Presidência, confirmou, em junho, que tentaria novamente o cargo, sob o argumento de que havia renunciado “ao poder, à caneta, a toda estrutura que está em torno de um governante”.

    Com esse discurso, Leite acabou sendo reconduzido ao Palácio Piratini e quebrou a série de derrotas de governadores gaúchos que buscavam o segundo mandato consecutivo.

    Tendência de alternância

    A possibilidade de reeleição para os cargos majoritários foi implementada no Brasil pela Emenda Constitucional número 16, aprovada em 1997.

    Desde então, os cinco governadores gaúchos que tentaram se manter no cargo por mais um mandato foram derrotados. “Há muita especulação e pouco estudo sobre o assunto. É um mistério que vai persistir até que alguém decida estudar o tema”, afirmou o cientista político Gustavo Grohmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista à CNN durante a pré-campanha eleitoral.

    A volatilidade já foi atribuída a uma suposta polarização política entre esquerda e direita que vem desde a formação histórica do Rio Grande do Sul, no século 18. Nesse cenário, a eleição poderia ser definida pelo eleitorado de centro, a depender do lado que eles escolhessem. Mas Grohmann diz não acreditar nessa tese.

    “O que salta aos olhos é que os eleitores não julgam os partidos, mas os personagens, os gestores. Tanto que, desde a redemocratização, houve um rodízio pequeno de siglas e enorme de nomes”, diz.

    Quem foi derrotado na urna

    Em 1998, o ex-governador Antônio Britto (MDB), mesmo embalado pelo Plano Real de Fernando Henrique Cardoso, foi o mais votado no primeiro turno, mas perdeu a reeleição para o petista Olívio Dutra, de virada, com uma diferença inferior a 90 mil votos no segundo turno.

    Em 2002, Dutra perdeu as prévias internas do PT e não disputou a reeleição. Isso abriu caminho para o deputado federal Germano Rigotto (MDB), que saltou dos 3% nas primeiras pesquisas para os 52% do segundo turno, votação que o levou ao Piratini.

    O fenômeno Rigotto também não se sustentou. Candidato à reeleição, sequer chegou ao segundo turno em 2006, ano em que a deputada federal Yeda Crusius (PSDB), outra surpresa, se elegeu no vácuo das disputas ideológicas no estado entre PT e MDB.  A deputada, entretanto, fez um governo que enfrentou críticas e também não se reelegeu, tendo recebido menos de 20% dos votos na eleição de 2010.

    Naquele ano, a disputa foi decidida ainda em primeiro turno em favor de Tarso Genro (PT) ― que tampouco se reelegeu em 2014, após os escândalos da Lava Jato atingirem seu partido. O petista chegou ao segundo turno, mas foi derrotado pelo ex-prefeito de Caxias do Sul Ivo Sartori (MDB), que obteve 61,21% dos votos.

    Sartori, por sua vez, também tentou a reeleição em 2018. No segundo turno, porém, ficou atrás de Eduardo Leite, que recebeu 53,62% dos votos e manteve a tradição de renovação no governo gaúcho.

    Em todos os casos, observa Grohmann, quem foi reprovado foi o governador, por razões diversas, não necessariamente lógicas.

    “É preciso analisar quem eram os concorrentes, quais foram os discursos adotados, como os governos foram avaliados: são muitas variáveis. O curioso é que, mesmo governadores razoáveis, que entregaram bons resultados, foram reprovados”, afirma.

    *Publicado por Marcelo Tuvuca, com informações de Flávio Ilha