Chefe da PF em Minas diz que Bolsonaro não reclamou sobre investigação de Adélio
Caio Duarte disse que esteve com o presidente da República para apresentar o avanço das investigações, e Bolsonaro não fez reparos ao trabalho da PF
O superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, Cairo Duarte, afirmou nesta quarta-feira (20) que o presidente Jair Bolsonaro não indicou “qualquer insatisfação em relação ao aprofundamento” das investigações sobre o atentado contra sua vida cometido por Adélio Bispo.
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Duarte falou aos investigadores no inquérito que apura a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. A CNN teve acesso à íntegra do depoimento.
Segundo o chefe da PF em Minas, ele esteve com o presidente da República para apresentar o avanço das investigações, e Bolsonaro não fez reparos ao trabalho da Polícia Federal.
Dois inquéritos foram instauradas pela PF para apurar se Adélio Bispo teve ajuda de alguém para planejar o atentado. Até o momento, não foram encontradas evidências neste sentido.
Duarte afirmou que não foi orientado pelo Palácio do Planalto sobre como deveria conduzir os trabalhos em Minas ou recebeu pedidos de informação específicos sobre a investigação de Adélio. Ele pontuou ainda que, neste caso, como o presidente foi vítima e tinha advogado constituído nos autos, podia acompanhar a evolução das investigações.
Em pronunciamento em abril, logo após o anúncio por Sergio Moro de que deixaria o governo, Bolsonaro negou interferência política e citou a investigação de Adélio como um episódio em que solicitou informações.
“Não são verdadeiras as insinuações de que eu desejaria saber sobre investigações em andamento. Nos quase 16 meses que esteve a frente do Ministério da Justiça, o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas. A não ser aquelas, não vi interferência, mas quase como uma súplica sobre o Adélio, o porteiro, e meu filho zero quatro”, disse o presidente na ocasião.
Investigações
Então candidato à presidente pelo PSL, Bolsonaro recebeu uma facada de Adélio no dia 6 setembro de 2018, quando fazia campanha em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Adélio foi preso em flagrante naquele dia e permanece preso desde então.
Um primeiro inquérito foi aberto para apurar se, no dia do atentado, ele recebera ajuda de alguém. A conclusão foi de que agiu sozinho.
No curso desta primeira investigação, houve diagnóstico de que Adélio sofre de “transtorno delirante persistente” — conclusão que não chegou a ser contestada pela defesa de Bolsonaro.
Um segundo inquérito foi então instaurado em 25 de setembro de 2018 para apurar se outras pessoas atuaram no planejamento da tentativa de assassinato contra Jair Bolsonaro ou chegaram a financiar Adélio. Ao longo de mais de três mil páginas, os investigadores da Polícia Federal de Minas Gerais descrevem uma minuciosa apuração ao longo de quase um ano e oito meses.
Foram ouvidas 89 testemunhas e entrevistadas 102 pessoas em campo para reconstituir a rede de relações e por onde passou Adélio nos últimos dez anos.
Os investigadores entendem que o ato foi premeditado, mas não conseguiram identificar qualquer associação de Adélio com organizações criminosas, familiares, parceiros ou partidos políticos na elaboração do plano.
Nos últimos meses, a PF passou a se dedicar a revisar todas as teorias e “fake news” que cercam o caso para se certificar de que não havia pontas soltas na apuração. Ficou comprovado, segundo os investigadores, que Adélio planejou e agiu de fato sozinho.
As investigações contaram com seis operações de busca e apreensão e 1.200 fotos foram analisadas, além de extratos telefônicos, bancários, emails e outros documentos.