‘Bolsonaro vai ter que recuar sobre Coronavac’, avalia cientista político
Para o especialista, Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde por fazer um cálculo político do efeito da Coronavac nas eleições de 2022
O cientista político e professor Carlos Melo, do Insper, avaliou, em entrevista à CNN, nesta quarta-feira (21), que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) terá que recuar no posicionamento sobre a compra das doses da Coronavac, a vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac e que será produzida pelo Instituto Butanta, em São Paulo.
“Minha impressão é que quando essa vacina chinesa for, enfim, autorizada por vários outros países, por que a Anvisa não autorizaria?”, questionou o cientista político.
“Por que que os nossos vizinhos teriam a vacina e o Brasil não? Por que o mundo inteiro estaria tomando essa vacina e o Brasil não? Que desculpa o presidente daria? Porque a vacina é chinesa? Porque é fruto de um consórcio dos chineses com o Instituto Butantan, que é de São Paulo?”, refletiu.
“Isso deixaria muito evidente o interesse eleitoral se sobrepondo à questão da vida, então acho que, mais cedo ou mais tarde, o presidente vai ser obrigado a recuar”, analisou Mello.
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Para o cientista político, o que é mais forte em todo o contexto “é o desejo pela vacina e pelo fim dessa crise da pandemia”.
“As pessoas querem uma saída para a pandemia, e essa saída é a vacina. Se ela é chinesa, inglesa, alemã ou norte-americana, não interessa muito para as pessoas, contanto que ela venha e o quanto antes. Não faz muito sentido ficar limitando a nacionalidade da vacina”, considerou.
Para o especialista, Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por fazer um cálculo político do efeito da Coronavac nas eleições de 2022, que, Mello aponta, teve a campanha antecipada pelo próprio presidente.
“Nesse período todo, o presidente estabeleceu alguns desafetos: a ciência, a China e o governador de São Paulo. Quando a vacina vem pela mão da ciência, de uma produção chinesa e primeiro por São Paulo, nesse sentido favorece os desafetos e isso retira um discurso eleitoral”, apontou ele.
“A questão de 2022 está antecipada. Ela está sobre a mesa do presidente da República, então o cálculo [político] passa por aí: que os favorecidos são os desafetos e saem fortalecidos desse processo, e, claro, isso tem custo eleitoral uma vez que ele antecipou a corrida”, concluiu.
(Edição: Sinara Peixoto)
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