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    Eleições 2022

    Bolsonaro se arrisca ao insistir na radicalização que o levou ao poder em 2018

     Pesquisas estimuladas mostram o pequeno crescimento do presidente em relação aos índices espontâneos de intenção de voto

    Fernando Molicada CNN

    A estratégia de Jair Bolsonaro (PL) de manter o discurso radical para chegar ao segundo turno da eleição traz na carona risco de, no embate derradeiro, ser superado pela lógica da moderação pregada pelo ex-presidente Lula (PT), líder das pesquisas de intenção de voto.

    Incapaz de vestir as roupas da conciliação — suas três décadas na política provam isso —, Bolsonaro aposta em reviver 2018.

    Acredita que, na hora do mata-mata, bastará voltar a agitar o espantalho do antipetismo para conquistar mais uma vitória (a tentativa de virada de mesa com base em acusação de fraude no caso de triunfo de Lula ficaria como uma segunda opção).

    Há quatro anos, Bolsonaro foi beneficiado pela ausência de Lula — proibido de participar da disputa por decisões judiciais — e da radicalização política.

    O fla-flu era tamanho que o então candidato do PSL pôde contrariar um artigo básico do manual do candidato a cargo majoritário e não moderou o discurso no segundo turno.

    Foi ainda mais contundente em seus ataques e ameaças proferidos do hospital e de casa — o atentado que quase tirou sua vida justificou sua ausência em debates em que suas afirmações poderiam ser contestadas.

    Ao insistir no discurso radical, Bolsonaro toca reunir. Inflama e agrega seus fiéis seguidores e conquista em diferentes pesquisas intenções de voto na casa dos 25%, um percentual e tanto, capaz de levá-lo com alguma tranquilidade ao segundo turno. O problema de Bolsonaro passa a ser a ampliação desse percentual.

    Vamos lá. O último levantamento do Ipespe revela que o presidente tem 26% das preferências quando o entrevistador não mostra a lista de possíveis candidatos. Este tipo de citação espontânea é tido pelos pesquisadores como uma intenção de voto consolidada.

    O problema é que Bolsonaro cresce apenas dois pontos percentuais quando o pesquisador mostra a relação dos concorrentes: sai de 26% para 28%.

    A performance de Lula é bem melhor: ele teve 36% das preferências espontâneas e 43% na pesquisa estimulada, um crescimento de sete pontos percentuais. Lógica semelhante se apresenta também na simulação de segundo turno: Lula chega a 53% das intenções de voto e Bolsonaro fica com 33%.

    A chave para a compreensão desse resultado está na rejeição dos dois candidatos, personagens bem conhecidos.

    Dos entrevistados, 61% não votariam “de jeito nenhum” em Bolsonaro; percentual que cai para 42% no caso de Lula. A soma dos índices dos que votariam com certeza em Bolsonaro ou nele poderiam votar alcança 36%; Lula vai a 56%. Estes números são bem semelhantes aos apurados nas preferências para o segundo turno, mantêm a diferença de 20 pontos entre o ex-presidente e o atual.

    Ou seja, o estimulante que levou Bolsonaro à vitória em 2018 tem potencial para colaborar com sua eventual derrota em 2022. Isto, caso o eleitorado confirme o que indicam as pesquisas e, além de rejeitar o atual governo, opte por um candidato que apresente um discurso mais inclusivo e menos radical — a busca de Geraldo Alckmin como vice é prova da tentativa de Lula de forjar uma imagem mais ampla.

    Já o presidente acena em escalar outro general para vice — o ministro da Defesa, Braga Netto —, o que decepcionaria os novos amigos do Centrão.

    Talvez seja o caso de Bolsonaro estudar melhor o princípio da homeopatia, o similia similibus curantur, aquela história de a mesma substância que mata ser capaz de salvar, tudo depende da dosagem. A política é dinâmica, nem sempre um remédio que funcionou uma vez vai gerar bons resultados lá na frente.

    O país mudou, Bolsonaro não pode mais posar de novidade, de candidato antissistema. Deixou também de ser um franco atirador, tem que prestar contas de seu governo, de seus atos e omissões, não pode fingir que não tem amigos na política.

    A questão é saber se ele, radical desde sempre, tem outras fórmulas que possam ser ministradas e utilizadas. E, mesmo, se tem capacidade e disposição para variar a receita, para vestir uma farda que não seja a do confronto, o uniforme de sua vida, o que enverga desde os tempos de quartel.

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